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182 ANOS: HORA DE ACORDAR

Foto: Divulgação
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Joaquim Eloy dos Santos

das Academias Fluminense e Petropolitana de Letras

Chegamos hoje à marca dos 182 anos da fundação de Petrópolis, sempre esperançoso o nosso povo por dias melhores e mais felizes.

“Tens do passado gloriosas tradições”, eis nosso lindo hino enaltecendo uma das fortes características de nossa Petrópolis, que a distingue entre as primeiras cidades do país: a tradição.

Vamos a ela.

Nunca será ufanismo exagerado cultuar as tradições dessa cidade ímpar com fanfarras, pirotecnia, escolares desfilando nas ruas em garbosas vestimentas e bandas estridulantes, clubes de formação comunitária, artistas de tantas artes que colorem de talento a cidade; ainda, festividades do viés tanto político quanto cultural de todos os gêneros; enfim, indispensável cultivar a memória sob atenção vigilante casada ao bom senso e à percepção do poder público de nossa peculiar tradição.

Nossa história é bem conhecida, surgida desde que D. Pedro II e o major de engenheiros Júlio Koeler planejaram a edificação de um povoado, no alto da Serra da Estrela, em fazenda do pertencimento da Família Imperial

Vieram as edificações, primeiro, modestas para povoamento de emergência, com súditos germânicos recebendo, sob foro, nesgas de terras, galgando os morros acima e, logo adiante, os doutos arquitetos e engenheiros junto a uma talentosa mão de trabalho e conhecimento de alguns artífices hábeis na construção civil, rodearem o crescente palácio imperial com casario de várias concepções do estilo europeu dos séculos dezenove e vinte.

Diante da inusitada ação empreendida pelo já, então, povo petropolitano, um acelerado ocupar dos espaços inóspitos desenhou uma cidade em crescente desenvolvimento.

Eis que o ecletismo predominou na região, que recebendo edificações de vários estilos e formatos, gerou uma beleza urbana ímpar assemelhada aos encantadores povoados das cidades do velho continente, constituída pelos sobradinhos que enfeitaram toda a rua do Imperador e entornos no conjunto do movimentado e crescente corredor comercial.

Eis que, a partir dos anos 40, sob o propósito de amparar a crescente população de empresários e empresas que deixavam o Rio de Janeiro e que vinham aqui se estabelecer, sobem os edifícios de muitos pavimentos, alterando a paisagem urbana e reordenando, com os “arranha-céus”, imensos caixotes, novo estilo arquitetônico, que se eleva e ocupa cada valioso metro quadrado da área urbana do “Centro Histórico”.

Sob um olhar descuidado, louva-se o mérito de tanta criatividade no sentido de modernizar e fazer luzir uma nova cidade bela e atraente. Um porém, no entanto, não é respeitado e os empresários da construção civil, com respaldo em visão equivocada, demolem os preciosos sobradinhos e nos espaços que se abatem por tal destruição neles implantam seus projetos. E, assim, sobem as construções e engordam-se os alforges de lucros da especulação imobiliária tanto em favor do proprietário que demole seu sobradinho, como das empresas e futuros moradores, adquirentes da nova realidade.

E vai a nave singrando o tímido rio quitandinha e afluentes que se beijam no desbravamento do traçado criativo de Júlio Koeler, entornando seus excessos nas beiradas que enchem de água e saem para conhecer a superfície de seus leitos.

E assim aconteceu, com inconsequente respaldo de alguns dos ocupantes do poder público, pela falta de disciplinação jurídica de cuidado com o patrimônio municipal, cuja tradição é bela e forte, mas que é desconhecida, ou sob vendas negras, não estiveram nem ai, senão para seus íntimos interesses financeiros e políticos.

O resultado de tanta insensatez obriga que hoje seja preservado, mantido, respeitado, o tombamento do que resta, tanto dos tempos imperiais, entrando pela preciosa tela do quadro urbano, o qual, a partir do advento do regime republicano, ceifou imensa soma da riqueza memorial dos tempos imperiais e neorrepublicanos.

Exemplos levam às lágrimas enquanto as pás e máquinas demolidoras, ainda continuam a tarefa de derrubar o passado precioso, sem qualquer pudor.

Esquecem os inadvertidos que o nosso destino petropolitano está na tradição, que atrai a atividade turística, que deve estopar, sob o rigor de leis, bom senso, visão de futuro, imediatamente, a destruição dos bens da nossa riqueza urbana, como fizeram com as demolições de prédios absolutamente preciosos para o destino turístico petropolitano. Recordamos o sítio onde existiu a fazenda do Córrego Seco, os chalés de toda a extensão da atual rua Dr. Nelson de Sá Earp, da rua Nilo Peçanha, das feridas ruas do Imperador e da Imperatriz, das ruas Marechal Deodoro e General Osório, da quadra onde junto aos correios e a Escola D. Pedro II suprimiram o elegante prédio do hotel de Max Meyer, sem falar nos imensos prédios de nossas indústrias de porte, hoje tombadas e tombando, com mínimas exceções. A relação é infinita e “la nave va”.

Salvos, felizmente, alguns sobrados da rua do Imperador, onde firmaram espigões no entorno, hoje convivem com o que restou esmagadinho entre um arranha-céu e outro.

182 anos de Petrópolis à mercê dos interesses políticos e financeiros e de fatores cunhados de desenvolvimento, nunca assustaram os turistas, que ainda admiram o legado náufrago e esperam sentir em seus corações a felicidade de estarem em sítio urbano diferenciado sob tradições encantadoras e não mais em um exemplar comum aos contemporâneos centros urbanos, que os comprimem e esmagam.

O IPHAN vem ai com novas exigências, tentando comungar com a sociedade brasileira sensatas disposições, que se espera tenham força e grito. O que ai está, está; o que vier em socorro de nossa tradição, deitada ao turismo, bem-vindo será; sempre haverá um espaço para a convivência racional do novo com o tradicional.

182 anos da amada Petrópolis: hora de acordar!

Ilustração
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