Especialista ressalta que as pessoas não buscam só por remuneração
Bruna Nazareth
Nos dias atuais, permanecer em um emprego por causa do salário não é o suficiente. A insatisfação com o ambiente de trabalho tem feito muitos profissionais reavaliarem suas escolhas. Benefícios oferecidos, flexibilidade, equilíbrio entre vida pessoal e profissional e, principalmente, a preservação da saúde mental se tornaram fatores cruciais. Por isso, cada vez mais pessoas buscam por empresas que promovam o bem estar emocional e priorizem a qualidade de vida no ambiente corporativo.
Uma pesquisa da Aon - empresa global de consultoria que atua na área de seguros, previdência, saúde e riscos - revelou que 68% dos trabalhadores brasileiros estão em transição ou com planos de mudar de empresa nos próximos 12 meses. Esse número é um percentual superior à média global de 60%. O levantamento aponta que 24% dos funcionários se sentem desvalorizados, 75% esperam mais apoio ao bem-estar e 67% gostariam de benefícios voltados para a educação. Entretanto, apenas 50% das empresas oferecem programas de qualidade de vida.
Para Andreia Roma, especialista em liderança e CEO da Editora Leader, esse alto percentual reflete não só no cenário de insatisfação, mas também o desejo crescente por novas oportunidades.
“O mercado de trabalho tem se mostrado muito dinâmico, e as pessoas buscam não só por remuneração, mas também por um ambiente de trabalho que realmente faça sentido para as suas expectativas, para o crescimento, saúde mental e equilíbrio entre a vida pessoal e profissional”
Nesse contexto, a liderança exerce um papel crucial na construção de um ambiente mais saudável, o que não significa, como muitas empresas pensam, comprometer a produtividade.
“A flexibilidade, por exemplo, pode ser implementada sem afetar os resultados, desde que acompanhada de metas claras e sistemas de gestão de desempenho baseados em resultados e não em presença física. Então, isso é fundamental para criar um ambiente onde os colaboradores se sintam ouvidos, valorizados, com programas de saúde mental e incentivo tanto para a vida pessoal como profissional”, ressalta.
Sendo assim, não basta apenas criar um ambiente favorável, é essencial que as empresas pratiquem a escuta ativa em relação aos seus colaboradores, realize pesquisas de clima organizacional e invista em planos de desenvolvimento contínuos. Isso é fundamental na busca constante por melhorias, especialmente porque muitas organizações ainda seguem um modelo de gestão tradicional.
O impacto das gerações
Gerações como Millennials e Gen Z têm se mostrado menos tolerantes a ambientes tóxicos e maior preocupação com o equilíbrio entre vida pessoal e trabalho. Para a especialista, essas gerações estão mudando a regra do jogo ao trazerem uma visão mais clara sobre o que consideram importante no trabalho, como o propósito, a autonomia e o bem-estar, o que tem impulsionado uma transformação na gestão de pessoas.
“Elas exigem das empresas mais do que apenas salário competitivo, esperam também um ambiente inclusivo, transparente e saudável. Essa mudança está forçando uma transformação na gestão de pessoas, onde os líderes precisam adotar práticas mais flexíveis, adaptativas e orientadas para o desenvolvimento pessoal e profissional”
Não adianta mudar de emprego
Em busca de um ambiente melhor, muitos profissionais acabam trocando de empresa. No entanto, podem se deparar com desafios semelhantes. Por isso, é fundamental fazer uma autoavaliação sincera, para entender se a mudança realmente trará benefícios ou se é necessário trabalhar outras questões internas. Na visão da especialista, a chave para essa decisão está em pesquisar profundamente sobre a cultura e o ambiente da nova empresa, antes da mudança.
“Não se deve olhar apenas para o pacote salarial, mas para os valores corporativos, práticas, bem-estar, inclusão, e como a empresa lida com o desenvolvimento e reconhecimento dos colaboradores. O profissional também precisa entender quais são as suas próprias expectativas e prioridades. Às vezes as questões que geram insatisfação não estão apenas na empresa, mas nas próprias expectativas pessoais e limites. Por isso é importante fazer um autodiagnóstico para entender essas mudanças, se a mudança será realmente benéfica ou se é necessário trabalhar aspectos internos como a habilidade, soft skills, resiliência, gestão de estresse ou até mesmo a construção de uma mentalidade mais positiva frente a desafios”, conclui Roma.
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