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A alma do negócio

Ataualpa A. P. Filho - professor

Foto: Pixabay
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É de domínio público a seguinte frase: “a propaganda é a alma do negócio”. Sei que é possível atribuir a ela o conceito de “metáfora” pela comparação implícita que nela existe. Contudo, eu a vejo como uma catacrese, pois já está bastante desgastada e encontra-se cristalizada no uso popular.

As metáforas, para mim, são como goma de mascar, precisam manter o doce. Depois que perde o gostinho da fruta, torna-se uma borracha que passa por um processo de mastigação, porém não deve ser engolida. Como estamos no campo das figuras de linguagem, vale dizer que a palavra “chiclete”, que geralmente é usada para denominar “goma de mascar”, é um exemplo de metonímia, uma vez que se tem a “marca pelo produto”, assim como a palavra “bombril” que é usada para se referir à palha de aço. “Band-aid” também está caracterizado como metonímia, pois o nome da marca é usado para se referir a curativos adesivos genéricos.

Vamos tocar a nossa prosa por esta beirada. Mas, primeiro, vamos estabelecer a diferença entre “propaganda” e “publicidade”. Sei que essas palavras aparecem como sinônimas em vários momentos. Contudo, os vocábulos “propagar” e “publicar” carregam significações distintas.

A propaganda tem um caráter mais persuasivo, exerce influência na formação de opiniões: o que se pretende propagar? Qual o público que se pretende atingir? O que se pretende alcançar com o que se propaga?...

A publicidade, por sua vez, torna público o que se pretende propagar e faz uso dos meios de comunicação para atingir o público-alvo. Hoje as estratégias de marketing são trabalhadas minuciosamente para atingir as mentes. Porém se mente muito, quando as ações são efetuadas sem critérios éticos. Por falta de ética, vende-se gato por lebre.

A arte de ludibriar se alastrou nas redes sociais. A indústria do calote está instituída no mundo digital. Hoje o perigo está em nossas mãos. Preservamos aquilo que pode nos ferir. Basta um toque no display (mostrador) do celular para receber um bombardeio de imagens. Grandes indústrias diminuíram os investimentos em publicidades nos meios de comunicação convencionais para entrar no tubo da mídia digital.

Não fiz nenhuma pesquisa de mercado, mas me atrevo a afirmar que hoje o produto que mais se vende é a privacidade. Há os que propagam a vida íntima para ter mais visibilidade nas redes sociais.  Em síntese, a privacidade virou um produto rentável.  E a vergonha se tornou raridade. Muitos a desprezaram.

Mas o que me trouxe para esta prosa hoje não foi a “alma do negócio”. Foi a frieza dos negociantes sem alma.  Há os que não acreditam em “alma”, mas levam fé nos “negócios”. Há os que não acreditam nos “negócios”, mas levam fé na “alma”. Eu acredito em “alma”, mas desconfio de certos negociantes sem sensibilidade social, isto é, desalmados.

A minha indignação maior é diante da covardia. Como alguém consegue desviar remédio de hospitais? Como desviar verba da merenda escolar? Como criar descontos indevidos de aposentadorias e pensões? Como usar a guerra como autopromoção midiática, falando de paz e promovendo a guerra? Como defender a família e ofender os pais?

No domingo que passou, em um café com amigos, discutíamos a diferença entre “necessidade” e “desejo”, porque hoje é possível constatar o comportamento de certas pessoas movidas mais pelo desejo do consumo inflado pela publicidade do que pelo atendimento das necessidades básicas para a sobrevivência.

Conforto, luxo, fama, sucesso são colocados como prioritários, por isso muitos se sacrificam com o objetivo de obter evidências sociais.

O charlatanismo tem dado muito trabalho à Polícia Federal. Existem raposas maquiadas de influenciadores e influenciadoras...

Os apelos emocionais levam pessoas influenciáveis ao consumo de produtos e serviços por mera satisfação, sem ter uma necessidade preexistente. Isso tem sido causa de endividamentos desnecessários. Há os que negociam a própria alma para ostentar o vazio do luxo e da fama. Por isso é preciso estar atento e forte para fugir dos fantasmas das fantasias e evitar as negociações sem alma.

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