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terça-feira, 19 de agosto de 2025


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A Dificuldade de uma Pessoa para Tomar Decisões

Lenilson Ferreira   Psicanalista

Foto: Arquivo Pessoal
Foto: Arquivo Pessoal

Tomar decisões pode parecer um processo natural, mas, para pessoas que enfrentaram traumas e outras circunstâncias dolorosas em algum momento de suas vidas, isto se torna um grande desafio.

“Há trinta anos eu e minha esposa não conseguimos falar sobre coisas importantes para cada um de nós. Minha sensação é de que o casamento já terminou há muito tempo ou nem mesmo começou”, diz Carlos, afirmando que sempre teve dificuldade em tomar decisões.

Carlos sofre com comportamentos neuróticos que têm origem nas experiências que viveu na infância e na adolescência. Filho de uma mãe dominadora que o escolheu como filho preferido e de um pai emocionalmente enfraquecido perante a mãe e que nitidamente tinha o seu irmão como filho predileto.

“Meu pai sempre preferiu meu irmão e sempre me deixou de lado”, diz Carlos. A longo de seus 60 anos de vida, Carlos sempre teve dificuldade em confrontar pessoas, principalmente homens. “Eu sempre fugi da confrontação porque sentia um verdadeiro terror. Sempre tive a sensação de que eu seria destruído se ousasse confrontar quem quer que fosse”.

Ele é um perfeito símbolo daquilo que afirmou Sigmund Freud, o criador da Psicanálise, a primeira psicoterapia que a humanidade viu surgir. “Quando a dor de não estar vivendo for maior que o medo da mudança, a pessoa muda”.

Carlos iniciou sua terapia como um homem assustado e fragilizado frente aos desafios que a vida lhe apresentava. Dizia ter medo de tudo e de todos. Um medo que o paralisava e o assustava a cada momento de sua vida.

À medida em que foi se fortalecendo mentalmente ao longo de sua terapia, começou a ter coragem para enfrentar pessoas que sempre lhe dominaram. “Eu não tenho mais medo do meu irmão hoje. Ele sempre me pareceu muito forte e eu muito fraco. As coisas mudaram...”. Afirma que o homem infantilizado que ele era está ficando cada vez mais para trás. “Eu ainda não consigo tomar todas as decisões que eu gostaria, mas fiz progressos imensos com a terapia”.

As mudanças que Carlos vem conseguindo realizar em sua vida são notáveis. Não permite mais que as pessoas abusem dele, consegue impor-se quando percebe que alguém está tentando obter alguma vantagem indevida e não permite mais que sua esposa tome todas as decisões para o casal, dentre outras.

“Eu era uma pessoa assustada. Parecia muito mais um menino do que um homem. A Psicanálise me mostrou quais eram os medos que me paralisavam. Eu tinha muitos fantasmas me assustando o tempo todo e, por causa disso, simplesmente não conseguia tomar decisões. Eu adiava as decisões e minha vida era um inferno!”.

A Psicanálise nos ensina que a dificuldade em tomar decisões, popularmente conhecida como autossabotagem, está ligada a conflitos inconscientes que produzem comportamentos que nos impedem de alcançar nossos objetivos ou de sequer estabelecer objetivos em nossas vidas. Ela ajuda a explorar e a lidar com o medo do fracasso, o medo do sucesso, raiva, tristeza e muitos outros sentimentos que acabam sendo determinantes para nosso comportamento.

As pessoas sempre me perguntam porque não identificamos esses medos e os enfrentamos para tornar nossas vidas menos dolorosas. A resposta é simples: esses medos, esses traumas, essas experiências dolorosas ficam registrados em nosso inconsciente e, por isso, obviamente não fazem parte nossa consciência. Como podemos lidar com aquilo que não sabemos que existe? Este é um dos papeis da Psicanálise: permitir que nos conheçamos e, com o poder que o auto conhecimento torna possível, fazermos escolhas conscientes sobre os caminhos que realmente desejamos percorrer.

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