Lucas Klin - especial para o Diário
O bairro Bingen, em Petrópolis, é um testemunho vivo da história e da influência germânica na região. Nomeado em homenagem às terras saxônicas, o bairro carrega consigo um legado que reflete a coragem, a dedicação e o espírito empreendedor dos imigrantes alemães que se estabeleceram na cidade imperial.
Bingen am Rhein, localizada às margens do rio Reno, é uma das principais conexões para cidades como Koblenz, Mainz e Frankfurt. Essa região, conhecida por suas paisagens deslumbrantes e rica história, serviu de inspiração para os imigrantes que buscavam construir uma nova vida no Brasil. Ao nomear o bairro de Petrópolis como Bingen, o engenheiro Julius Frederic Koeler homenageou algumas regiões de sua terra natal e criou uma ponte simbólica entre o velho e o novo mundo, segundo o artigo da emissora alemã, Deutsche Welle (DW). Ele também nomeou os 11 quarteirões de acordo com regiões e cidades próximas de sua terra natal. Por isso, os nomes Bingen, Vestfália, Castelânea e outros bairros, estão presentes na cidade.
Na década de 1820, a fazenda Córrego Seco, onde hoje se localiza parte da cidade, era pouco mais do que uma "taverna miserável", como descrito pelos naturalistas Spix e Von Martius. No entanto, a visão de D. Pedro I e, posteriormente, de D. Pedro II, transformou a região em um centro de desenvolvimento. Em 1830, a fazenda foi comprada por D. Pedro I, mas foi com a maioridade de D. Pedro II que os planos de construção de um palácio de verão e de uma colônia germânica começaram a tomar forma.
Julius Frederic Koeler, o engenheiro responsável pelo planejamento de Petrópolis, foi um dos principais articuladores desse desenvolvimento. Residente no Brasil desde 1828, Koeler conhecia bem a região e contratou imigrantes germânicos para trabalhar na manutenção da Estrada da Estrela. Esses imigrantes, vindos do navio Justine, se estabeleceram na região do Itamarati, e muitos deles contribuíram significativamente para a construção e o desenvolvimento do bairro Bingen.
Na planta original projetada, Koeler planejou a cidade em torno das afluentes dos rios do município. Além disso, projetou a construção de algumas praças, entre elas, a conhecida como Praça da Liberdade. A curiosidade, é que o engenheiro alemão, também projetou uma praça para ser construída no Bingen, mas o projeto não saiu do papel. Esse planejamento pode ser visto na na Planta de Petrópolis em 1846.
Uma figura ilustre do bairro é Clara Stumpf Pitzer, bisneta do colono alemão Paul Stumpf e de Eleonora Charlotte Bauer. Com mais de 90 anos de idade, Clara é uma historiadora nata que dedicou sua vida a registrar a história do bairro Bingen e de outros quarteirões de Petrópolis. Seus relatos detalhados sobre a vida familiar, a religiosidade, os casamentos, os funerais e as profissões dos colonos alemães são um verdadeiro tesouro para a memória da região.
O bairro Bingen mantém o nome e a referência às cidades natal dos imigrantes, principalmente de Koeler. Isto foi um problema na década de 40, pois durante a Segunda Guerra Mundial, com a declaração de guerra do presidente Getúlio Vargas a Alemanha, houve uma tentativa de substituir nomes que faziam menção a regiões germânicas por nomes brasileiros. Segundo um artigo da Universidade Federal de Juiz de Fora, em 1942, durante a III Exposição de Flores e Frutos em Petrópolis, a cidade recebeu importantes visitantes, incluindo chanceleres americanos. Após essa visita, os ataques se intensificaram, e nomes de ruas e bairros que faziam referência a regiões da Alemanha, como Bingen e Mosela, foram substituídos por nomes brasileiros, como Araraquara e Baependi. Esses ataques às referências germânicas na cidade podem ser vistos nos jornais petropolitanos da época. No entanto, o nome Bingen permaneceu preservando a memória dos imigrantes que contribuíram para a construção e desenvolvimento da região.
O bairro Bingen é um testemunho da história e da influência germânica em Petrópolis. Seu desenvolvimento, impulsionado pelo engenheiro Julius Frederic Koeler e pelos imigrantes germânicos, deixou um legado duradouro que ainda hoje é celebrado e preservado. Cada rua, cada quarteirão de Bingen conta uma história de sonhos realizados, de desafios superados e de uma nova vida construída com dedicação e esperança. A urbanização planejada por Koeler, com rios ladeados por avenidas e casarões voltados para os cursos d'água, cria paisagens únicas e encantadoras, que convidam os visitantes a mergulhar na rica história do bairro.
O legado dos imigrantes germânicos em Bingen é visível em cada esquina, em cada construção e em cada relato preservado por historiadores como Clara Stumpf Pitzer. O bairro é um exemplo vivo de como a determinação e a coragem dos pioneiros podem transformar uma região e criar uma nova pátria longe de sua terra natal.
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