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A Imagem da Trindade na Mente Humana: o Livro IX de De Trinitate de Santo Agostinho Parte II

Pe. Anderson Alves

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Em De Trinitate, Livro IX, Capítulo VI, Santo Agostinho explora a complexidade da mente humana e sua relação com a Trindade divina. Conforme explicado por Étienne Gilson em sua obra Introduction à l’étude de Saint Augustin, Agostinho afirma que qualquer trindade criada deve manifestar a existência, no seio da mens, de três termos consubstanciais, apesar de sua distinção, e que sejam iguais entre si, em relações mútuas (2ª ed., Libr. J. Vrin, Paris, 1929, p. 290). Para que a imagem da Trindade exista, é necessário haver três realidades distintas por sua oposição relativa, com uma unidade de essência ou substância.

Agostinho ilustra essa ideia com a metáfora de um bloco de ouro do qual se fazem três anéis. Ao fundi-los novamente em uma só massa, a trindade perece, embora subsista um só ouro. Essa metáfora destaca a necessidade de que as três realidades distintas mantenham sua unidade essencial sem se fundirem de maneira que percam sua individualidade.

Os atos manifestam as operações da mente: ao recordar-se da última aula, sabemos que temos memória; ao pensar, sabemos que somos inteligentes; ao amar, sabemos que temos vontade. Esses três tipos de atos são distintos, mas quem se recorda, pensa ou ama é uma só pessoa, uma só natureza. As três faculdades memória, inteligência e vontade estão, pois, na única mens.

Santo Agostinho argumenta que devemos amar nossa mente mais do que nosso corpo, mas menos do que a Deus. Esse ordo amoris (“ordem do amor”) é a virtude, enquanto a desordem do amor é o pecado. O conhecimento do corpo é mais perfeito que o corpo em si, pois é imaterial. A mente, com o amor com que se ama, pode amar outras realidades fora de si.

Nosso conhecimento e nosso amor são substanciais e não meros acidentes das realidades que conhecemos através dos sentidos. O conhecimento e amor nossos são relativos uns aos outros, mas permanecem em si mesmos como substâncias. Amor e conhecimento estão na mente e, cada um é como uma substância. A mente que ama e conhece é substância; seu conhecimento é substância; seu amor é substância. Esses elementos são termos relativos e não podem ser separados.

Agostinho discute se a mente, o amor e o conhecimento são três partes iguais. Quando a mente se conhece, ela se conhece toda; quando se ama, ela se ama toda. A mente, o seu conhecimento e o seu amor não são como uma bebida composta de três substâncias. Esses três elementos não podem deixar de ser de uma e mesma substância. A união entre eles é tal que cada um é amado ou conhecido apenas por um dos dois outros elementos. Todos os três, portanto, pertencem a uma única e mesma essência.

Em suma, Santo Agostinho, em De Trinitate, Livro IX, Capítulo VI, diz que memória, inteligência e vontade são faculdades consubstanciais e distintas, mas pertencem a uma única essência. Essa reflexão sobre a mente humana e sua relação com a Trindade enriquece nossa compreensão do mistério divino e da natureza humana.

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