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A Imagem da Trindade na Mente Humana: o Livro IX de De Trinitate de Santo Agostinho

- Pe. Anderson Alves

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Santo Agostinho, em sua obra monumental De Trinitate, propõe uma profunda reflexão sobre a natureza da Trindade e sua imagem na mente humana. No Livro IX, Agostinho explora como a memória, a inteligência e a vontade no ser humano refletem a Trindade divina. Esta análise não apenas revela a complexidade da mente humana, mas também nos oferece um caminho para compreender o mistério da Trindade.

De Trinitate é composta por 15 livros. Enquanto os primeiros livros focam na análise teológica e exegética dos textos bíblicos, os livros posteriores, incluindo o Livro IX, se concentram na reflexão filosófica e especulativa sobre a natureza da Trindade e sua manifestação no ser humano.

Agostinho argumenta que a mente humana, com suas faculdades de memória, inteligência e vontade, é uma imagem e semelhança da Trindade, especialmente quando se recorda, entende e ama a Deus. Essas três faculdades são realidades iguais e da mesma essência, refletindo a unidade e a distinção das pessoas divinas. Ele cita 1 Coríntios 8, 2-3: “Mas se alguém ama a Deus, é por Deus conhecido”. Para Agostinho, o conhecimento de Deus é possível porque amamos e somos amados por Ele. A busca pelo conhecimento é motivada pelo amor, e este amor é uma resposta ao amor divino.

Santo Agostinho adota o lema Credo ut intelligam (“Eu creio para entender”), afirmando que a fé é o ponto de partida para o conhecimento teológico. A teologia nos revela algumas verdades e oculta muitas outras, e devemos buscar entender o que cremos. Para Agostinho, a teologia é uma busca contínua pela verdade, fundamentada na autoridade da fé e na procura diligente pelo entendimento.

Ele enfatiza a necessidade de crer que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são um só Deus, criador e governador de toda a criação. Essa Trindade de pessoas em relações mútuas possui uma única e igual essência divina. Agostinho alerta contra os possíveis erros de negar a distinção das pessoas ou afirmar a existência de três deuses, destacando a importância de manter a unidade da essência e a distinção das pessoas divinas.

Agostinho utiliza a analogia do amor para ilustrar a Trindade. Ele pergunta: “Quando eu me amo, há duas realidades ou três?” A resposta revela que a mente e o amor são uma só essência. Ao amar a si mesmo, o homem encontra em si duas realidades: a mente e o amor (Mens cum amat se ipsam duo quaedam ostendit, mentem et amorem). Embora distintas, ambas são da mesma natureza espiritual. Ele argumenta que para a mente se amar, deve antes conhecer a si. A mente humana conhece o corpóreo através do corpo e o espiritual através de si mesma. Esta introspecção é um caminho para compreender a relação entre a mente humana e a Trindade.

Santo Agostinho levanta a questão se a mente é a essência da alma ou uma potência da alma. Ele sugere que a mente, entendida como intellectus, conhece as realidades medindo-as com seus próprios princípios. Assim, a mente é uma potência da alma que opera através de atos.

Santo Tomás de Aquino, influenciado por Agostinho, desenvolve essa ideia ao afirmar que a substância intelectual reflete sobre seu próprio ato, demonstrando a capacidade da mente de se conhecer e se compreender (De veritate, q. 1 e q. 10).

No Livro IX de De Trinitate, Santo Agostinho oferece uma análise profunda da imagem da Trindade na mente humana. Através das faculdades de memória, inteligência e vontade, a mente humana reflete a unidade e a distinção das pessoas divinas. A busca pelo conhecimento é motivada pelo amor, e a introspecção é um caminho para compreender a relação entre a mente humana e Deus. Agostinho nos convida a crer para entender, destacando a importância da fé como fundamento do conhecimento teológico. Sua reflexão sobre a mente humana como imagem da Trindade enriquece nossa compreensão do mistério divino e da natureza humana.

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