Psicopedagoga compartilha dicas e os benefícios dessa prática
Bruna Nazareth - especial para o Diário
É provável que você conheça ou já tenha notado nas redes sociais alguns pais compartilhando a rotina de suas casas com os filhos, desde o momento de acordar até a hora de dormir. Esses vídeos mostram crianças participando de diversas tarefas do lar, como arrumar a cama, guardar os brinquedos e até lavar a louça. Para alguns, essa abordagem pode parecer exagerada, como se os pais não estivessem permitindo que as crianças fossem crianças. No entanto, para outros, incluindo especialistas, essa prática pode trazer benefícios significativos para o futuro dos pequenos.
Viviane Leal, psicopedagoga, destaca os principais benefícios de envolver as crianças nas tarefas domésticas, como:
Desenvolvimento de Responsabilidade: Ao realizarem tarefas, as crianças aprendem sobre compromisso e a importância de cumprir com suas obrigações.
Autonomia: As tarefas ajudam as crianças a se tornarem mais independentes, desenvolvendo habilidades que serão úteis ao longo da vida.
Autoestima: Completar uma tarefa proporciona um senso de realização e aumenta a confiança em suas capacidades.
Habilidades Práticas: As crianças aprendem habilidades de vida essenciais, como cozinhar, limpar e organizar, que as prepararão para a vida adulta.
Colaboração Familiar: O envolvimento nas tarefas domésticas promove um senso de pertencimento e trabalho em equipe familiar.
Sendo assim, as tarefas domésticas podem se tornar experiências educativas que incentivam o desenvolvimento cognitivo. Atividades como planejar listas de compras e executar as tarefas ajudam as crianças a desenvolver habilidades de planejamento e resolução de problemas. Além de tudo, elas aprendem a lidar com frustrações e a celebrar conquistas, fortalecendo suas habilidades socioemocionais. Ao realizar atividades práticas, como cozinhar, por exemplo, as crianças podem adquirir conhecimentos sobre medidas e até noções básicas dos alimentos.
Autonomia ou exploração?
Alguns pais acreditam que essa prática pode se assemelhar à exploração infantil. No entanto, a psicopedagoga alerta que existe uma linha tênue entre incentivos à autonomia e sobrecarregar as crianças com responsabilidades excessivas, e orienta os pais sobre como fazer essa distinção.
“Os pais devem estar atentos aos sinais de estresse ou sobrecarga da criança. Se elas estão constantemente reclamando ou mostrando resistência, é um sinal de que as responsabilidades podem estar excessivas”
É importante ressaltar que os responsáveis devem equilibrar a atribuição de tarefas com momentos de lazer e brincadeira, preservando o ritmo da criança para ser, de fato, criança.
“Estabelecer um equilíbrio assegura que as crianças também tenham tempo para brincar e relaxar. Um bom método é criar uma lista de tarefas que não tome mais do que 30-60 minutos por dia, permitindo que o tempo livre permaneça como prioridade. Promover responsabilidades domésticas deve ser uma experiência positiva, que equilibre o dever com o prazer e o aprendizado, contribuindo para o desenvolvimento pleno da criança”, afirma Leal.
Como introduzir essa prática?
De acordo com a especialista, os pais podem introduzir as tarefas domésticas na rotina das crianças desde cedo, começando com atividades simples, como organizar os brinquedos, a partir dos 2 anos de idade. Conforme elas crescem, podem assumir responsabilidades mais complexas, adequadas à sua faixa etária.
Para famílias que estão começando ou aquelas com crianças mais velhas que desejam implementar essa prática, Leal preparou algumas orientações.
Dicas para famílias iniciantes:
Torne as tarefas divertidas: Use jogos e desafios para envolver as crianças.
Seja um exemplo: Mostre entusiasmo ao realizar tarefas e convide as crianças a participar.
Estabeleça uma rotina: Crie um cronograma de tarefas que as crianças possam seguir.
Dicas para famílias com crianças mais velhas:
Converse sobre responsabilidade: Explique a importância de contribuir para o lar.
Delegue tarefas relacionadas a interesses: Atribua tarefas que estejam alinhadas com as paixões ou interesses da criança.
Ofereça escolhas: Permita que a criança escolha algumas das tarefas que gostaria de realizar, promovendo autonomia.
Maria Flávia Penna, moradora de Petrópolis e mãe de dois filhos adultos, conta que sempre os envolveu nas tarefas domésticas. Para ela, a casa e a responsabilidade são de todos. Mesmo com a presença de uma faxineira, ela acredita que é essencial que os filhos aprendam a se envolver nas atividades do lar. Como exemplo, esta menciona que, quando se casarem, eles precisarão participar das tarefas, ou em caso de não terem alguém para cuidar da casa, saberão gerenciá-la sozinhos.
Além disso, Maria Flávia acredita que a participação dos filhos nas tarefas do lar teve um impacto significativo no crescimento dos meninos, promovendo responsabilidade, disciplina, habilidades práticas e autonomia.
“Tenho dois filhos homens. Eles lavam banheiro, sabem cozinhar e fazer faxina. Hoje em dia eles fazem por conta própria, sem eu precisar pedir, mas às vezes, ainda é preciso pedir. O objetivo é que eles tenham autonomia. Quando morarem sozinhos, se eles conseguirem pagar alguém que faça, pelo menos eles vão respeitar. Eles sabem que é um trabalho necessário, mas que é difícil, que às vezes a gente não tem paciência para fazer, mas sabem que é uma obrigação e sabem que é pesado. Mas o principal disso, é para serem adultos responsáveis e que sabem se virar e valorizar”, frisa.
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