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A Natureza do Verdadeiro Amor em De Trinitate de Santo Agostinho

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Pe. Anderson Alves

No capítulo 7 do Livro VIII de De Trinitate, Santo Agostinho explora a natureza do verdadeiro amor (vera dilectio) e sua importância para o conhecimento da Trindade. Ele distingue entre o verdadeiro amor e o falso amor (cupiditas), argumentando que o verdadeiro amor não é concupiscência. Em vez disso, o verdadeiro amor é “a adesão à verdade, para viver na justiça”: ut inhaerentes veritati iuste vivamus. Esse amor significa viver a justiça, dando a cada um o que é seu e desejando o bem do outro, até mesmo ao ponto de dar a própria vida.

Agostinho afirma que quem ama a Deus ama o que Ele prescreve, que é o amor ao próximo. Assim, quem ama o próximo, como consequência, deve amar principalmente o próprio Amor, que é Deus. Amar o próximo é, portanto, uma expressão do amor a Deus. Quem buscam a Deus por meio dos poderes que governam este mundo ou partes do mundo se distanciam Dele. Quem se abandona à vida exterior desconsidera a vida interior, onde Deus reside.

O método teológico de Agostinho enfatiza a conversão das realidades exteriores às realidades interiores e, das realidades interiores, às eternas. Esse processo segue a estrutura externo interno eterno, e a busca por Deus começa nas realidades externas, passa para o interior da alma e culmina no conhecimento das realidades eternas. Amar as realidades exteriores resulta em dispersão, enquanto o amor às realidades interiores leva ao conhecimento de Deus. Agostinho destaca que os milagres são sinais externos que devem levar à contemplação das realidades internas e eternas. Jesus, por exemplo, realizava milagres não para ensinar a fazer milagres, mas para ensinar a viver com mansidão e humildade.

Santo Agostinho argumenta que os que admiram os santos e os anjos devem imitar sua piedade, e não apenas desejar seu poder. Ele reforça que Jesus realizou milagres para ensinar a viver como Ele. Deus, sendo Amor, não precisa ser procurado nas alturas dos céus ou nas profundezas da terra, mas sim dentro de nós, onde Ele reside.

No capítulo 8 do livro VIII, Agostinho afirma que quem ama o irmão ama a Deus, pois ama o mesmo amor que vem de Deus e é Deus. Ele argumenta que, ao amar o irmão, a alma conhece mais a Deus do que o próprio irmão. Deus torna-se mais conhecido, íntimo e presente, à medida que amamos o próximo. Esse mesmo amor une todos os anjos bons e os servos de Deus pelo vínculo da santidade, e quanto mais livres estivermos do orgulho, mais estaremos cheios de amor, que é Deus.

Agostinho afirma: “Tu a vês, a Trindade, se vês a caridade” (Vides Trinitatem, si charitatem vides). Ao amarmos o Amor (Deus), amamos o que o amor ama: o irmão. A dileção fraterna, ou o amor recíproco, procede de Deus e é o próprio Deus. Portanto, quando amamos o irmão, amamos a Deus em Deus, e é impossível não amar o Amor que nos impele a amar o irmão.

O amor de Deus deve ser incomparavelmente maior do que o amor que temos por nós mesmos e pelo irmão. Amamos a Deus por Ele mesmo e o próximo por causa de Deus. Agostinho distingue entre charitas (caridade) como virtude teologal e diligere como seu ato. A charitas é o princípio da ação, enquanto diligere é o ato desse princípio.

No capítulo 9, Agostinho explora o amor pelos justos, reconhecendo neles a forma da justiça imutável. Deus se revela no interior do homem mais do que no exterior, pois o homem é a imagem e semelhança de Deus. Conhecendo a si mesmo e amando o próximo, os olhos interiores do homem se iluminam e ele vê a Deus. A analogia da caridade permite que o homem compreenda a Trindade através do amor.

Em conclusão, Santo Agostinho, no Livro VIII de De Trinitate, reflete sobre o verdadeiro amor e sua importância para o conhecimento de Deus e da Trindade. Ele destaca a necessidade de uma conversão interna, passando do amor pelas realidades externas ao amor pelas realidades internas e eternas. O amor a Deus e ao próximo é fundamental, pois é através dele que podemos conhecer a Deus mais profundamente e viver na justiça.

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