Edição anterior (3846):
sábado, 26 de abril de 2025


Capa 3846

A necessária formação para a administração pública

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação


Fernando Henrique da Silveira Neto - mestre em Engenharia de Produção e Engenheiro de Telecomunicações pela PUC-Rio. Autor de seis livros sobre Tempo, Projetos e Organização do Trabalho, apresentou cursos e seminários no Brasil e Portugal. Foi professor na PUC-Rio por 48 anos e também professor convidado dos MBAs da FGV, do IBMEC e da UFRJ/POLI. Estudou violão na academia do Carlos Lyra nos anos 60 e escreveu sobre ciclismo na revista Viva do JB

No artigo Conselhos para Autoridades, José Luiz Alquéres escreveu que “escolas especializadas (...) combinadas com uma formação técnica e humanista são absolutamente necessárias no mais alto nível da administração pública e mesmo sua profissionalização”.

O caso da França é bastante interessante, onde a École Nationale d'Administration (ENA) representa um bom exemplo. Criada no final da Segunda Guerra, por ela passaram muitos presidentes como Valéry Giscard d'Estaing, Jacques Chirac, François Hollande e Emmanuel Macron, e primeiros ministros como Laurent Fabius, Alain Juppé e Lionel Jospin entre outros. Independente de orientação política ou resultados da gestão, todos tiveram excelente formação para ocuparem cargos estratégicos na condução do país.

O Brasil tem uma ótima escola para a administração pública em Brasília: a Fundação Escola Nacional de Administração Pública (Enap), que oferece centenas de cursos em diversas áreas de conhecimento. Acho que deveria ser obrigatória para candidatos a cargos públicos, inclusive deputados federais e senadores. Por certo veríamos projetos mais objetivos, com fontes de recursos explicadas, resultados mensuráveis e especificação de como proceder para que tal possa ser feito, e com prazos e custos definidos. E quem sabe, talvez para muitos, significasse também o aprendizado de postura mais condizente e elegante com os cargos para os quais foram eleitos.

Ter estudado engenharia me ensinou a resolver problemas e prover soluções eficazes com sólida base técnica, mas ensinou sobretudo que, após solucionados e implantados, os resultados precisam ser avaliados com regularidade, e quão importante é a manutenção para que continuem a funcionar a contento. Imagino que médicos, padres e pastores ou qualquer trabalhador atuem baseados em ensinamentos semelhantes.

Mas tudo isso não é suficiente para exercer um cargo público. Rios, rodovias, estradas ou redes de alta tensão ignoram fronteiras traçadas pelo homem delimitando municípios ou estados. Diferente de soluções pessoais ou locais providas, por exemplo, por profissionais da saúde, trabalhadores da construção civil ou desenvolvedores de software, a administração pública deve olhar o todo, requer pensar cidades, estados e país, pensar integração e otimização no uso de recursos que ultrapassam limites de um município ou de um estado em busca do bem comum. A administração pública requer planejamento amplo que pense país antes de pensar soluções locais ou que satisfaçam grupos, quer sejam políticos, oligárquicos ou dinastias que administram uma área qualquer.

Existe ainda o aspecto da manutenção, que quase sempre é abandonado assim que uma obra ou projeto terminam. Foi necessário um evento internacional como as Olimpíadas no Rio de Janeiro, quando o acesso ao Parque Olímpico passava por viadutos mal conservados entre a Zona Sul e a Barra da Tijuca, para que fosse realizada uma grande manutenção estrutural dessas vias expressas. Sim, manutenções são feitas com menos pessoas, talvez invisíveis para o cidadão comum no dia a dia, e esquecidas por administradores públicos porque geralmente não são visíveis e não rendem votos. Mas seu custo é menor do que abandonar, derrubar e reconstruir o que já existia e funcionava bem se tivesse sido mantido adequadamente.

Formar administradores públicos que entendam isso, que não adotem soluções apenas sob uma ótica pessoal ou de conveniência, que levem em conta os complexos aspectos sociais e comportamentais envolvidos, é o caminho correto para que o país seja um lugar agradável, seguro e com oportunidades para todos.

E lembro sempre a Agência Nacional Anti-Corrupção da Suécia, gerida por muitos anos por Gunnar Stetler, que dizia: “temos uma lei de acesso público aos documentos oficiais. Se os cidadãos ou a mídia quiserem, podem verificar meu salário, meus gastos e as despesas de minhas viagens a trabalho.” E se aqui também fosse assim?

José Luiz Alquéres
José Luiz Alquéres

Edição anterior (3846):
sábado, 26 de abril de 2025


Capa 3846

Veja também:




• Home
• Expediente
• Contato
 (24) 99993-1390
redacao@diariodepetropolis.com.br
Rua Joaquim Moreira, 106
Centro - Petrópolis
Cep: 25600-000

 Telefones:
(24) 98864-0574 - Administração
(24) 98865-1296 - Comercial
(24) 98864-0573 - Financeiro
(24) 99993-1390 - Redação
(24) 2235-7165 - Geral