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A Negação da Depressão

Lenilson Ferreira Psicanalista - Saúde Mental

Foto: Freepik
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A negação do diagnóstico é um problema frequente. ‘Eu não aceito este diagnóstico”, disse um pai em uma de nossas sessões para analisar a saúde mental de sua filha. O que este pai não aceita, na  verdade, é o peso da culpa que este diagnóstico gerou para ele. Sentir-se culpado por alguém próximo ter depressão é algo muito comum. Para evitar esta dor, nega-se a realidade em uma estratégia de fuga inconscientemente articulada. Uma das razões para esta não aceitação é o fato de a depressão nem sempre parecer ser depressão. “Como ela pode ter depressão se ontem à noite estava em uma festa dançando?” Esta pergunta é clássica em nossas reuniões. A resposta é simples: nem sempre os sintomas são permanentes.

É frequente termos pacientes em que alguns sintomas são sazonais. Surgem e desaparecem com certa regularidade. O caso de uma paciente que tinha uma recaída depressiva que durava exatamente sete dias ilustra bem este aspecto da doença, embora esta regularidade aritmética seja rara. Uma estudante universitária na faixa dos 20 anos me procurou porque alegria que achava que tinha depressão. O diagnóstico foi confirmado, mas o surpreendente foi a regularidade com que os surtos depressivos ocorriam. Uma ou duas vezes por ano ela sentia-se profundamente triste, perdia a energia e a vontade para realizar as tarefas mais simples (inclusive a higiene pessoa), passava o dia inteiro na cama, abandonava os estudos, não queria mais ver o seu namorado e tinha fixação com a ideia da morte. A análise mostrou que as primeiras crises surgiram por volta dos oito anos de idade. Quando esta paciente, que até então era filha única, tinha sete anos de idade, sua mãe chegou um dia em casa e mostrou-lhe um bebê. “Ela é sua irmã!”, disse a mãe sem ter preparado a filha emocionalmente para receber esta inesperada notícia. A menina ficou ensimesmada e passou dias recolhida aos cantos da casa após o trauma emocional. A mãe simplesmente havia recebido a criança de uma jovem que dera à luz e não queria o bebê. À medida que a menina foi crescendo, os ciclos depressivos passaram a se repetir ciclicamente, sempre com a duração de sete dias, um simbolismo que representava a data do trauma inicial.

Um paciente raramente apresentará todos os sintomas listados nos manuais da depressão. Este é o aspecto subjetivo da doença que leva os familiares e amigos a ficarem confusos e a acharem que a pessoa não está doente. Há pessoas que perdem totalmente o desejo sexual, independente da idade, quando estão nos períodos de pico depressivo. Outras mantêm o desejo sexual praticamente inalterado. É muito comum que o depressivo seja uma espécie de camufla dor, camuflando as dores que efetivamente sente. Acordam, vestem suas máscaras e saem para a vida aparentando sentir algo que absolutamente não sentem. É importante ser capaz de identificar o sorriso depressivo camuflador. Ele não tem o brilho do sorriso genuíno de alegria. O olhar é opaco, como que camuflando as verdadeiras emoções daqueles que sorriam sorrisos artificiais...

A arrogância é uma barreira para o verbo aceitar. Indivíduos arrogantes apresentam imensas dificuldades em aceitar que há algo errado com as suas emoções. Esta postura constrói barreiras que frequentemente não são transpostas e, consequentemente, levam a pessoa a sofrer desnecessariamente. “Eu sou arrogante demais para aceitar a ideia de me suicidar”, me disse certa vez uma pessoa com depressão. O problema é que a arrogância, neste caso, se constituía em um elemento dual. Por um lado, impedia que o sujeito se suicidasse. Por outro, impedia que ele aceitasse o diagnóstico da depressão. Foram necessárias muitas sessões de psicanálise para furarmos o bloqueio que o paciente construiu em torno de si. A origem de suas dificuldades era sua compreensão equivocada de que a depressão atinge apenas “pessoas derrotadas”. “Como eu vou explicar para minha família que eu tenho depressão?”. Esta foi uma das primeiras frases que disse após sua conscientização em torno da doença...

Confiar nos profissionais de Saúde Mental que estão cuidando de você é o melhor caminho a ser seguido. Lembre-se de que não há saúde sem saúde mental.

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