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terça-feira, 31 de dezembro de 2024


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A queda das pontes

- Ataualpa A. P. Filho

Foto: Prefeitura de Estreito/Divulgação
Foto: Prefeitura de Estreito/Divulgação

As nossas indignações ficam expostas diante das tragédias que presenciamos no dia a dia. As que nos deixam mais entristecidos são aquelas que poderiam ser evitadas. Mas, devido às omissões de gestores públicos, elas ocorrem, ceifando vidas de entes queridos.

O apelo ao bom senso se faz necessário, porque há uma ingratidão explícita: pessoas se candidatam a cargos públicos, tanto no âmbito legislativo, quanto executivo, são eleitas como representantes do povo, passam a gozar de determinados privilégios e não cumprem as promessas que fazem no período de campanha eleitoral. Em outras palavras, passam a ter regalias que não são extensivas à população.

Encontra-se, no primeiro artigo da Constituição do nosso País, a seguinte determinação: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.

Os “representantes eleitos” ganham “status” de “autoridade”. E muitos não exercem as funções inerentes ao cargo que passam a ocupar. Desfrutam das regalias do poder e procuram atender, apenas, aos interesses próprios e de correligionários em detrimento das necessidades da população. É triste constatar a insensibilidade social nas ações de gestores que se preocupam, unicamente, em ampliar o próprio patrimônio, mesmo recorrendo a atos ilícitos. Agem sem princípios éticos.

Na tarde de domingo passado, dia 22/12, fomos abalados por mais uma tragédia que expôs o descaso de órgãos governamentais: a queda de um trecho da ponte Juscelino Kubitschek, que liga os municípios de Aguiarnópolis, em Tocantins, e Estreito, no Maranhão. Trecho este que pertence à rodovia BR 226, a conhecida BelémBrasília. Essa ponte foi construída na década de 60. O próprio tempo já evidenciava a necessidade de uma constante manutenção.

Antes de tudo, é preciso que se diga que essa não era a única ponte do nosso País que precisava de manutenção. Outras também estão em situação semelhantes, carecendo de reparos.  Tem-se notícias de que, pelo menos, três caminhões, três motos e um carro de passeio caíram nas águas do rio Tocantins. E dois dos caminhões que caíram transportavam substâncias tóxicas. O cuidado agora é para que tais produtos não venham a contaminar a água do rio, provocando danos ambientais. Até o momento, foram encontrados nove corpos, vítimas desse colapso. E oito pessoas estão desaparecidas.

Outras pontes caíram na saúde, na segurança pública, na educação, no saneamento básico, no transporte urbano, na assistência social, na escassez de moradia fora de áreas de risco...

As mortes nas filas de postos de saúde expõem as consequências de outra ponte caída. A violência urbana é outra ponte caída com vítimas diárias. A população em situação de rua encontra-se à margem de uma ponte caída sem acesso às mínimas condições de vida digna. São muitas pontes caídas que distanciam as carências da população menos favorecida dos privilégios colocados à disposição dos que se elegem para atender às necessidades do povo.

A tragédia também ocorre no silêncio. Já está provado que a política da gambiarra, apenas adia o trágico. As ações paliativas, que tentam conter a insatisfação popular por meio de transferências financeiras, que não suprem as necessidades básicas de uma família, não estão atreladas à criação de emprego, nem à qualificação profissional. Por isso não resolvem os graves problemas que temos. Ainda há uma população que vive abaixo da linha da pobreza e desempregada.

Uma sociedade se estrutura por meio de normas convencionalmente preestabelecidas com o propósito de manter uma convivência harmoniosa pela instituição de direitos e deveres. Há deveres do cidadão para com o Estado e do Estado em relação aos cidadãos. É nesse ponto que vejo algumas contradições que precisam ser sanadas. O grau de rigidez do Estado na cobrança de tributos nem sempre é igual à prestação de serviço para atender às necessidades da população.

Quando um país se rotula de republicano deve colocar o bem comum acima dos interesses pessoais. A incompetência do Estado é visível em vários setores. Se há a intenção de instituir os princípios da democracia, os interesses do povo devem ser colocados em primeiro plano.

Enquanto houver fome, miséria, injustiça, a nossa indignação permanecerá. O convívio com a dor, com a perda de entes queridos têm uma carga de angústia que nem o tempo destila.

A resignação diante da irreversibilidade do trágico requer uma resiliência profunda para fugir do desespero que leva à depressão e, às vezes, à loucura. “Desesperar jamais”. A ternura não pode ter fim.

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