Ataualpa A. P. Filho - professor
Quais os limites que o desejo precisa ter? Quais as consequências dos desejos descontrolados?...
É preciso ter controle sobre a vontade? Quais as consequências das vontades descontroladas?...
Quais as diferenças entre desejo e vontade? As vontades e os desejos podem ser educados? A necessidade move os desejos ou as vontades? A inveja é nutrida por desejos ou por vontades? O que desperta os quereres?
Para início da nossa prosa, é preciso dizer que, teoricamente, o desejo está relacionado à necessidade instintiva e a vontade parte de uma decisão deliberada, ou seja, provém da capacidade de fazer escolhas racionais. Por isso cabe aqui mais uma pergunta: as vontades podem ser educadas?
Inquestionavelmente, a educação aprimora o discernimento. As escolhas são efetuadas por critérios que regem valores. E mais uma pergunta emerge, quando se pensa nas prioridades: “não será a vida mais do que o alimento e o corpo mais do que as vestes?” (Mt 6, 25)
E nessa linha das escolhas, cito os versos de Adélia Prado que está no poema “Tempo”, publicado no livro “O Coração Disparado”: “Quarenta anos: eu não quero faca nem queijo./ Quero a fome”.
No Nordeste, aprendi que “o melhor tempero é a fome”. E foi lá também que aprendi que “a dor ensina a gemer”. Indubitavelmente, a fome e a dor educam, ajudam a encarar a realidade com parcimônia.
A vida está bem além da poltrona que fica ao lado da janela de um avião. Discussões viralizaram, nas redes sociais, abordando o caso da criança que queria ficar no assento de uma aeronave que já estava ocupado por uma senhora. E esta não cedeu, por isso, foi filmada por outra passageira. O vídeo parou no “Fantástico”. As opiniões dividiram-se. Diante da polêmica, as palavras “educação” e “empatia” ficaram na berlinda.
Mencionei esse caso não pelo comportamento da criança, mas pelas atitudes dos adultos diante do fato. A repercussão expressou o estágio de intolerância e de agressividade no seio da sociedade. É triste ver adultos brigando sem entender o comportamento das crianças. Julgando-as como se fossem adultas.
Somos seres “desejantes” desde o nosso nascimento. Educar os desejos consiste em processo de conscientização de limites no convívio social. O equilíbrio do prazer está na razão. As manifestações compulsivas mostram o descontrole racional. Também se aprende a controlar as vontades.
Na segunda-feira (09/12), em São Paulo, uma senhora, parada em um ponto de ônibus, foi abordada por outra que a fez refém, ameaçando-a com uma faca no pescoço. A cena também teve repercussão nacional, pois se espalhou pelos noticiários. Ela queria que a impressa fosse chamada. Em síntese, a situação de sequestro foi provocada, porque a senhora queria falar com a imprensa. Havia, portanto, um desejo de ganhar espaço em noticiários. Ela já havia sido julgada sem capacidade mental para responder criminalmente pelas suas atitudes, isto é, por perícia técnica, foi considerada sem condições de entender o caráter ilícito de suas ações. Nesses casos, os desejos são impulsivos.
A vítima atribuiu a serenidade que manteve, durante o período que estava ameaçada, à sua religiosidade: "enquanto ela estava esbravejando aqui, eu tava olhando, rezando pra Deus, pedindo para ele, porque só ele nessa hora para dar sabedoria para eles e tranquilidade para mim".
“Teve uma hora em que eu pensei assim: 'Eu com tanta coisa para fazer, parada aqui'. Aí o ônibus que eu tava esperando passando e ela me pressionando. Falei: 'Ai, não acredito'.” Quando li essa declaração da senhora que foi ameaçada, lembrei dos versos da canção do Belchior, “Apenas um Rapaz Latino Americano”: “Mas, se depois de cantar, você ainda quiser me atirar/ Mate-me logo, à tarde, às três/ Que à noite eu tenho um compromisso e não posso faltar/ Por causa de vocês”.
É preciso aprender a desejar. O excesso de desejo provoca ansiedade e descontrole emocional. Precisamos aprender a sonhar dentro dos nossos limites. O controle das nossas vontades ajuda até no uso do cartão de crédito. Um dos fatores que muito contribui para o endividamento tem as suas raízes no desejo voraz de ter e consumir irracionalmente, movido pelo prazer hipnotizado pelo fútil, pelo supérfluo.
A simplicidade contribui bastante para o equilíbrio financeiro. Também é possível viajar em outras poltronas distantes das janelas.
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