Em 2024, a cidade registrou R$735 milhões em benefícios pagos pelo INSS; transtornos de ansiedade superam a depressão como principal causa de afastamento
Emanuelle Loli - estagiária
Em 2024, Petrópolis registrou 240 auxílios doença por acidente de trabalho, sendo 32 relacionados à saúde mental, além de outros 1.161 auxílios por doença mental sem ligação ao trabalho. Em virtude de afastamentos previdenciários acidentários registrou-se mais de 33 mil dias de trabalho perdidos. Ainda no mesmo período, os gastos estimados consideraram valores de pagamentos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) de benefícios que chegaram a R$735 milhões. Os dados são do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho (SmartLab).
Neste domingo (27) é o dia nacional da prevenção de acidentes de trabalho. A data tem como objetivo principal reduzir os índices de acidentes, doenças ocupacionais, fatalidades e os custos decorrentes desses eventos.
Ao longo dos anos, Petrópolis viu o número de concessões de benefícios do INSS associados à saúde mental, tendo relação ou não com o trabalho, aumentarem. Em 2023, foram registrados 667 benefícios. No ano passado, o número subiu quase 80%, quando os registros bateram 1.193. Desse total, 32 as causas do afastamento têm relação direta com o trabalho.
No acumulado dos últimos 10 anos, afastamentos ligados à depressão lideravam o painel de “causas de afastamentos associadas à saúde mental conforme CID”. Contudo, nos últimos dois anos (2023 e 2024), transtornos ligados à ansiedade começaram a aumentar e lideraram os dados do painel, tanto das doenças relacionadas ao trabalho quanto das que não tem relação.
De acordo com Elina Pietrani, psicóloga e professora universitária da UNIFASE, os transtornos de ansiedade acontecem quando a tensão da pessoa em relação a um estímulo tende a ser desproporcional.
“Não é surpresa que essa tensão esteja relacionada ao trabalho em um número crescente, uma vez que hoje o trabalhador vivencia em seu cotidiano laboral uma conjugação de fatores contraditórios “, informou
Segundo ela, esses fatores contraditórios podem estar associados a uma séria de questões sendo as principais: pressões por resultados, medo do desemprego, competição e a necessidade constante de atualização
“Quando essas situações adversas e contraditórias são recorrentes, acabam inevitavelmente lançando a pessoa em situação de tensão intensa, o que resulta em transtornos de ansiedade, depressão etc”, explicou.
De acordo com Elina, alguns segmentos tendem a sofrer mais com as influências do próprio trabalho na saúde mental.
De acordo com o Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, dos últimos 14 anos, os setores econômicos que mais têm registros de afastamento associados à saúde mental ligadas ao próprio trabalho são: transporte rodoviário coletivo (74), bancos (72) e atividades de atendimento hospitalar (13).
“Sem dúvida as funções ligadas ao transporte rodoviário coletivo merecem destaque. Os trabalhadores ligados a esse segmento, como os motoristas de ônibus, por exemplo, além de terem que guiar o veículo em meio a um trânsito muitas vezes caótico, acumula também a responsabilidade pelo controle da passagem, o que implica em lidar com o público que é diverso e amplo. Esse acúmulo de tensões tende a gerar no profissional uma descompensação psíquica capaz de levá-lo ao afastamento do trabalho”, explicou.
Afastamentos ocasionados pelo trabalho
Os dados são separados por afastamentos causados pelo trabalho e os que não são. Dos que são ocasionados pelo trabalho, as atividades econômicas que mais tem afastamentos dos últimos 10 anos são: transporte coletivo (170), comércio varejista em geral (114), coleta de resíduos não perigosos (112), atividade de atendimento hospitalar (104) e bancos (103).
Do tipo de doença na qual mais afastaram petropolitanos no trabalho nos últimos 10 anos são: Dorsalgia, que é a dor na região dorsal da coluna vertebral (204), sinovite e tenossinovite, que são condições inflamatórias (117), lesões no ombro (89), depressão e episódios depressivos (88), e transtornos ansiosos e fóbicos (76).
Além disso, as partes do corpo que mais se tem registros de que foram atingidas foram: braço e mãos (2.893), pernas e pés (2.010), cabeça (382), várias partes do corpo (336) e ombros (228).
Quanto à faixa etária mais afetada, trabalhadores entre 30 e 34 anos lideram os afastamentos. Entre os homens, o grupo mais vulnerável está entre 18 e 24 anos.
A duração de benefícios previdenciários por acidente de trabalho no município em 2024 foi de 33,3 mil dias de trabalho perdidos. Das despesas previdenciárias, o valor acumulado (2012 a 2024) no município chega a mais de cinco bilhões de reais.
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