Bruna Nazareth - especial para o Diário
Com sua tecnologia atrativa de vapor e aromas, os dispositivos eletrônicos para fumar (DEF) estão conquistando cada vez mais apreciadores, especialmente entre adolescentes e jovens adultos. Esses dispositivos, que incluem cigarros eletrônicos, vapers, pods, e-cigarettes, e outros, oferecem uma experiência onde o usuário inala aerossóis gerados pelo aquecimento de líquidos, podendo conter nicotina, aditivos, sabores e produtos químicos prejudiciais à saúde.
O pneumologista e professor da UNIFASE/FMP, Ruy Kux, destaca os riscos à saúde associados a esses dispositivos, especialmente os cigarros eletrônicos, comparados aos cigarros tradicionais.
"Os riscos dos cigarros eletrônicos com alto teor de nicotina são os mesmos ou piores que dos cigarros convencionais. Os eletrônicos também contém outras substâncias como propileno glicol e vários aromatizantes que desconhecemos os efeitos a longo prazo sobre o organismo", alerta.
Sobre o impacto de longo prazo desses dispositivos, ainda é muito cedo para oferecer uma resposta definitiva, estudos recentes indicam que o uso de vapes pode estar associado a um aumento no risco de doenças cardíacas e distúrbios pulmonares.
O surgimento do Evali, uma lesão pulmonar induzida pelo cigarro eletrônico, está associada ao uso desses dispositivos. Os vapes, como exemplo, foram ligados a um surto de lesões nos Estados Unidos, levando o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) a iniciar uma investigação de emergência em 2019.
"O Evali é uma reação pulmonar e sistêmica severa e aguda a um produto adicionado que foi retirado. Não se tem tempo para dizer quais doenças crônicas pulmonares eles podem causar, exceto a nicotina. Há Micro-particulas que são mais profundamente inaladas e pioram a asma (bronquite) e DPOC (enfisema)", destaca Kux.
Os cigarros eletrônicos, comercializados como menos prejudiciais, originalmente foram elaborados como uma alternativa para auxiliar as pessoas a pararem de fumar cigarros convencionais, contudo, acabaram por apresentar uma desvantagem ao adicionar nicotina e outras substâncias tóxicas. Como observa o pneumologista: Ao acrescentar nicotina e aromatizantes tornou o uso desses dispositivos uma troca de seis por meia dúzia quando as pessoas ficam dependentes do produto novo.
Portanto, não há evidências científicas sobre a utilização de vales ou outros dispositivos como auxílio para o fim do tabagismo.
A nicotina é altamente viciante e pode afetar negativamente o desenvolvimento cerebral de crianças e adolescentes, influenciando no aprendizado e na saúde mental. Além disso, evidências indicam que jovens que usam cigarros eletrônicos têm duas vezes mais chances de se tornarem fumantes na vida adulta.
Como mencionado, assim como os cigarros convencionais, os cigarros eletrônicos são viciantes. Para aqueles que desejam parar de fumar de forma segura e eficaz, o Dr. Kux explica que não existe uma solução milagrosa.
"Não há fórmula mágica médica para cessar esse hábito. Exige desejo de ter uma vida equilibrada e saudável através de hábitos de higiene, exercício físico regular, alimentação balanceada junto com a percepção que a inalação dos vários produtos nestes vaporizadores (aerossóis) podem ser nocivos", conclui.
Proibido no Brasil
Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu uma resolução que proíbe a fabricação, importação, comercialização, distribuição, armazenamento, transporte e propaganda de dispositivos eletrônicos para fumar, conhecidos popularmente como cigarros eletrônicos. Além disso, a resolução impede o ingresso no país de produtos trazidos por viajantes por qualquer forma de importação, incluindo a modalidade de bagagem acompanhada ou bagagem de mão. Destacado pela Anvisa, o não cumprimento desta resolução constitui infração sanitária.
O texto ainda define os dispositivos eletrônicos para fumar como "produto fumígeno cuja geração de emissões é feita com auxílio de um sistema alimentado por eletricidade, bateria ou outra fonte não combustível, que mimetiza o ato de fumar". Estão incluídos nessa categoria e, portanto, proibidos:
- produtos descartáveis ou reutilizáveis;
- produtos que utilizem matriz sólida, líquida ou outras, dependendo de sua construção e design;
- produtos compostos por unidade que aquece uma ou mais matrizes: líquida (com ou sem nicotina); sólida (usualmente composta por extrato ou folhas de tabaco trituradas, migadas, moídas, cortadas ou inteiras, ou outras plantas); composta por substâncias sintéticas que reproduzam componentes do tabaco, de extratos de outras plantas; por óleos essenciais; por complexos vitamínicos, ou outras substâncias;
- produtos conhecidos como e-cigs, electronic nicotine delivery systems (ENDS), electronic non-nicotine delivery systems (ENNDS), e-pod, pen-drive, pod, vapes, produto de tabaco aquecido, heated tobacco product (HTP), heat not burn e vaporizadores, entre outros.
*Com informações da Agência Brasil, Organização Pan-Americana da Saúde e Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa
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