Um tipo de artesanato desenvolvido há mais de 500 anos ganhou destaque na exposição “O DOM da Artesania”, que está sendo realizada em Portugal pelo artista plástico e criador do Museu do Artesanato, Cocco Barçante: são as peças feitas com rendas de bilros de Peniche, produzidas a partir do entrelaçamento de fios sobre um cartão com o desenho detalhado da renda, com auxílio de alfinetes e bilros - bobinas pequenas de madeira. A mostra segue até dia 6 de julho na Galeria Arte da Graça, em Lisboa.
Essa é a 4ª exposição de Cocco em Portugal, reunindo artistas brasileiros e portugueses inspirados na diversidade. “São peças inovadoras, ecléticas e que juntam a criatividade com o DOM e a história do artesanato. As peças feitas com renda de bilro chamam atenção para a técnica, certificada e única”, comenta Cocco Barçante.
Vale salientar que as rendas de bilros de Peniche têm mais de 4 séculos de história e surgiram através dos intercâmbios comerciais estabelecidos pelos povos marinheiros que vinham da Flandres.
“As rendas de bilros de Peniche tiveram o seu período áureo no século XXVIII, onde eram utilizadas pelo clérigo e pela nobreza, sendo distinguidas inclusive com prémios internacionais. No século XX estas rendas começaram a entrar em declínio por conta da industrialização. Nos dias de hoje as rendas de bilros de Peniche assumem um património principalmente cultural, onde tentamos com novas aplicações dar continuidade a esta arte. É, desde 2021, um produto artesanal com certificação nacional e é importante dizer que as rendas foram o sustento e o complemento da economia doméstica de muitas e muitas famílias, da minha geração, as minhas avós, bisavós e todas as minhas ancestrais”, conta a artesã Nélia Faria Farto, completando: “É um património vivo, é um testemunho de identidade, de memórias e de tradições de séculos deste território”, confirma a artesã portuguesa.
Para a exposição de Cocco, a artesã também se inspirou nas obras de Santo António. “Criei a peça “Com o Mar no Coração”, onde foram precisos 434 bilros e onde estão aplicados 14 pontos diferentes da renda de bilros de peniche. Esta peça é um pescador que está à pesca da sardinha e tira o sustento para a sua família. O mar no coração tem muito dos meus ancestrais, todos eles, do lado masculino todos os homens se dedicavam à pesca e do lado feminino todas as mulheres se dedicaram à renda de bilros. Esta peça demonstra todo o meu amor, à gente do mar, à gente da pesca e é uma homenagem às minhas ancestrais rendilheiras”, completa a artesã.
“O DOM da Artesania”
A exposição de Cocco Barçante segue até 6 de julho na Galeria Arte da Graça, em Lisboa. A mostra representa: D - Dignidade das origens e histórias de vida dos artesãos e artesãs; O - Ousadia de criar, sonhar e acreditar quando ninguém acredita e M - Maestria traduzida em técnicas e matérias-primas diversas.
A curadoria é de Lucimar Cunha e Marcia Manhães. Gestão e curadoria da Galeria Arte Graça é de Rui Lagartinho. Participam da exposição, 16 artistas do Brasil e 10 de Portugal. O apoio é da Secretaria Estadual de Cultura e Economia Criativa.
Cocco buscou, ainda, inspiração para a elaboração do feito da exposição no Dom de Santo Antônio, no mês das Festas dos Santos Populares e em especial no Dia de Santo Antônio, 13 de junho. A exposição e as consultorias para o desenvolvimento do trabalho tiveram apoio da Junta de Freguesia de São Vicente, Galeria Arte Graça / Lisboa, do Governo do Estado do Rio de Janeiro / Faeterj Petrópolis, da prefeitura municipal de Três Rios, do SEBRAE RJ, da Associação dos Embaixadores de Turismo do Rio de Janeiro e da Quipotech.
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