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As lições de Confúcio e Trump

Fernando Peregrino -  Chefe-de-gabinete da presidência da FINEP e vice-presidente do Clube de Engenharia

Foto: Divulgação
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O mundo assiste ao desmoronamento de um dos pilares da sociedade norte-americana: a confiança.

Não me refiro ao governo dos Estados Unidos, cuja atuação internacional sempre se apoiou na superioridade militar para impor sua vontade sobre outras nações.

Há inúmeros exemplos de ardis, conspirações e guerras promovidas por Washington ao longo da história.

O país usou e abusou de armamentos capazes de dizimar milhares em pouco tempo.

Seu povo, contudo,  sempre foi reconhecido por cultivar a confiança nas relações interpessoais e no dia a dia, um valor profundamente arraigado na cultura anglo-saxã.

Segundo Paul Zak, em artigo publicado na Scientific American (2008), quando cidadãos de 30 países foram perguntados se confiavam uns nos outros, quarenta por cento dos norte-americanos disseram “sim”.

Na Noruega, 65% dos entrevistados responderam ter a confiança em questão.

Houve um tempo em que o cidadão dos Estados Unidos era frequentemente citado como exemplo de honestidade e confiança, valores fundamentais para qualquer sociedade.

Infelizmente, tudo indica que esses pilares estão sendo corroídos pelo mau exemplo de sua atual liderança, demonstrado com a tolerância com o mal feito  na segunda eleição do seu atual presidente.

Trump governa como um jogador de pôquer, usando o tarifaço como se estivesse em uma mesa de cassino.  Embaralha as cartas, blefa, e subitamente “paga para ver”.

Essa maneira de agir perante as demais nações,  pode, a qualquer momento, desencadear um colapso na economia global e da confiança mundial sobre aquele pais.

Internamente, seu governo ataca instituições estratégicas e respeitadas, como as entidades de ciência e tecnologia, persegue cientistas, a Academia e o funcionalismo público, e afasta-se de organizações internacionais essenciais,  como a Organização Mundial da Saúde algo inconcebível em um mundo cada vez mais interdependente, como tambem do Acordo do Clima em plena época das tempestades devastadoras .

Parte do  povo norte-americano já começa a desconfiar dos efeitos negativos dessas políticas que vêm de cima para baixo. E começa a reagir, indo às ruas.

A crise de confiança está instalada. E isso nos remete a uma lição milenar de Confúcio, o sábio chinês.

Ao ser questionado por um discípulo sobre quais seriam os ingredientes fundamentais para um bom governo, respondeu: “Comida, armas e a confiança do povo”.

Quando o discípulo perguntou qual desses elementos deveria ser abandonado primeiro em uma situação de crise, Confúcio disse: “As armas”. E se fosse necessário abrir mão de mais um? “Os alimentos”, respondeu. O discípulo, perplexo, retrucou: “Mas sem alimentos o povo morre!” E Confúcio concluiu: “A morte é o destino inevitável dos seres humanos. Mas um povo que não confia em seus governantes está perdido”.

É exatamente essa erosão da confiança que parece comprometer os alicerces da sociedade americana. Foi essa confiança que sustentou, durante décadas, políticas públicas visionárias em ciência, tecnologia e inovação daquele pais.

Para nós, brasileiros, o desafio é resistir aos efeitos nocivos desse colapso, que ameaça engolfar o mundo em uma recessão. A tarefa é complexa, dada a interdependência econômica global. Mas pode, também, representar uma oportunidade histórica para impulsionarmos o desenvolvimento da nossa economia e reconstruirmos uma indústria nacional forte e autônoma.

O atual governo brasileiro,   pelo presidente Lula,  responde por meio do programa “Nova Indústria Brasil”, que trouxe a retomada da engenharia nacional e dos robustos investimentos em Ciência e Tecnologia realizados pela FINEP, Financiadora de Estudos e Projetos.

Essas são as cartas que temos à disposição para enfrentar o jogador de pôquer. E, com estratégia e confiança em nós mesmos,  viraremos o jogo.

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