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Bruna Nazareth - especial para o Diário
Certamente, você já experimentou momentos de extrema exaustão emocional, estresse intenso e esgotamento físico em situações de trabalho desgastantes, marcadas pela competitividade ou responsabilidades avassaladoras. Em tais momentos, é comum pensar que se trata apenas de um dia estressante e que tudo passará com o tempo, ou até mesmo cogitar a possibilidade de deixar o emprego. Contudo, esses sintomas podem indicar a presença de um distúrbio conhecido como Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional.
Profissionais que lidam diariamente com pressões constantes e responsabilidades imensas, como médicos, enfermeiros, professores, policiais, jornalistas, entre outros, são frequentemente afetados por essa condição. A principal causa dessa síndrome é, justamente, o excesso de trabalho.
Artur Costa, psicanalista da Associação Brasileira Psicanálise Clínica e Professor Sênior ABPC explica o significado dessa doença.
“Primeiro é importante entender o seu significado: “Burn” quer dizer queima e "out" exterior. O nome já indica que são fatores externos que influenciam a exposição a estresse crônico. Então mais importante que identificar sintomas é identificar a causa que pode estar no trabalho, mas também na família”
O Brasil ocupa o segundo lugar mundial em casos diagnosticados de Burnout. Estima-se que aproximadamente 30% dos brasileiros sofrem dessa síndrome, pesquisa realizada pela International Stress Management Association (Isma). Isso tem acendido um alerta global sobre as responsabilidades das empresas.
“O trabalho é sempre associado a síndrome de Burnout, porém outros ambientes de exposição a estresse crônico também podem colaborar para o “ apagar “ da pessoa com a síndrome , como o ambiente familiar, porém o medo de perder o emprego e um ambiente de extrema competitividade somado a problemas com a liderança, contribuiu muito para a criação de um ambiente inóspito para a saúde mental”, destaca o especialista.
Principais sintomas do Burnout
O psicanalista destaca os principais sintomas que podem indicar que alguém está desenvolvendo a Síndrome de Burnout e como diferenciar esses sintomas de simples estresse ou cansaço no trabalho. Alguns são:
• Cansaço excessivo, físico e mental,
• Dor de cabeça frequente;
• Alterações no apetite, Insônia e Fadiga;
• Dificuldades de concentração;
• Sentimentos de fracasso e insegurança;
• Negatividade constante;
• Sentimentos de incompetência;
• Alterações repentinas de humor;
• Isolamento;
• Dores musculares;
• Alteração nos batimentos cardíacos.
“Porém o que é importante considerar é como a mente e o corpo se comunicam. O cansaço e o estresse são normais, o que não pode ser normalizado é a constância dessa tensão. Um dos principais sinais do possível desenvolvimento desta síndrome, é a incapacidade de regulação emocional, quando o sujeito perde a habilidade de lidar com o estresse diário, não permitindo que o trabalhador sequer consiga ter consciência do que está acontecendo, física e mentalmente”, frisa Costa.
Um ponto importantíssimo a ser considerado é a existência de diferentes níveis de desenvolvimento da síndrome, os quais, assim como em qualquer doença ou distúrbio, quanto mais cedo forem identificados, mais fácil será o tratamento, potencialmente resultando em uma recuperação mais rápida e duradoura.
Estes níveis incluem:
Leve: Baixa de Energia, Irritabilidade e falta de memória.
Moderada: Alterações na pressão Arterial, Insônia , alterações no Apetite e Peso .
Severa: Depressão , que envolvem sintomas como , angustia extrema , e total desesperança .
“Em relação aos fatores de risco que podem contribuir para o desenvolvimento do Burnout em profissionais, especialmente em um mercado de trabalho altamente competitivo, o especialista esclarece que fatores externos sempre são as causas para o desenvolvimento da síndrome , ainda que algumas pessoas possam ter uma tendência maior para desenvolvê-la” destaca o psicanalista.
Tratamento do Burnout
De acordo com o psicanalista, há diversas abordagens para tratar o esgotamento causado pela síndrome, sendo as abordagens psicoterápicas fundamentais para o tratamento. Psicólogos, psicanalistas e médicos psiquiatras são os profissionais mais solicitados para um tratamento multidisciplinar.
“A Terapia Cognitiva Comportamental poderá ajudar em muito na mudança da rotina depressiva , colaborando na retomada de energias. A psicanálise pode oferecer um ambiente seguro, uma escuta ativa e técnica, perfeita para alívio de estados intensos de angústia, e por vezes é possível ser necessário a intervenção medicamentosa que só um médico psiquiatra é capaz de fazer”, afirma Costa.
É fundamental fazer uma avaliação médica para encontrar a melhor abordagem de tratamento para cada indivíduo.
Medidas importantes que as empresas precisam tomar como:
Costa destaca alguns pontos essenciais que as empresas podem implementar para promover um ambiente de trabalho mais saudável e reduzir a incidência da Síndrome de Burnout entre os colaboradores. Essas medidas não apenas ajudam a conter o aumento dos casos dessa condição no Brasil e no mundo, mas também têm impacto positivo no bem-estar geral dos funcionários. As iniciativas incluem:
- Zelar para normas da medicina e segurança do trabalho sejam devidamente cumpridas.
- Não exigir metas abusivas de seus funcionários de forma que haja um competitividade tóxica entre a equipe .
- Incentivar o bom relacionamento entre os colaboradores, desenvolvendo atividades para interação do grupo , extra ambiente de trabalho, uma boa confraternização não é gasto para uma empresa, é investimento.
- Oferecer benefícios que visem o bem-estar da equipe, como alimentação e ambiente de descanso para intervalos.
- Incentivar e se possível oferecer acompanhamento psicológico a todos os colaboradores.
*Com informações do Ministério da Saúde e Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt)
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