Bruna Nazareth - especial para o Diário
É muito provável que você já deve ter ouvido falar sobre a Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional, reconhecido como doença ocupacional pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2022 e caracterizada como um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade. Em contrapartida, recentemente uma nova síndrome vem ganhando força, a Síndrome de Burn On.
De acordo com Thiago Coronato Nunes, Médico Psiquiatra, Mestre em Ciências Biomédicas, Doutorando em Educação e professor da Faculdade de Medicina de Petrópolis (UNIFASE/FMP), o termo Burn Onnão pertence a nenhum sistema oficial de classificação de transtornos. Ele foi elaborado por Timo Schiele (psiquiatra) e Bert te Wildt (psicoterapeuta), autores de um livro sobre o tema, lançado na Alemanha em 2021, com o título 'Burn On: Immer kurz vorm Burn Out - Das unerkannte Leiden und was dagegen hilft' ('Burn On: Sempre próximo do Burnout - O sofrimento não reconhecido e o que ajuda contra isso', em tradução livre), sem edição brasileira até o momento.
Enquanto o Burnout, reconhecido como uma doença ocupacional, é caracterizado como uma síndrome de esgotamento relacionada ao trabalho gerando diversos transtornos psiquiátricos e o consequente afastamento e intolerância ao trabalho, o Burn On seria uma condição crônica de um mascaramento da exaustão e da depressão, onde o indivíduo se mantém íntegro em sua função, ocultando seu mal-estar, mas sempre à beira de um colapso, destaca o especialista.
De acordo com as pesquisas do psiquiatra, o trabalho é identificado como a principal causa tanto do Burnout quanto do "Burn On". Enquanto o Burnout é mais visível, o "Burn On" é uma condição menos evidente, mas que causa um sofrimento significativo, levando a pessoa a continuar trabalhando normalmente, mesmo sem sintomas médicos aparentes. Isso compromete sua vida pessoal e a capacidade de sentir prazer fora do ambiente profissional. Muitas vezes, o trabalhador pode resistir em reconhecer que o trabalho é o responsável por seu estado de adoecimento.
Segundo os autores do livro, a causa está relacionada às altas demandas de trabalho com longas jornadas, que inclusive ultrapassam o horário ou o ambiente de trabalho. Da mesma forma, é comum identificar o Burn On entre profissionais da área de saúde, bem como nos cuidadores/familiares de pacientes, pois precisam estar alertas em tempo integral, respondendo a demandas ininterruptas, sem efetivo descanso. O estado de sobreaviso, a possibilidade de ser acionado a qualquer momento e o hábito de 'levar trabalho para casa', todas essas possibilidades são fomentadoras da síndrome em questão, afirma.
Principais sintomas
Em termos emocionais, o Burn On se apresenta em indivíduos como um cansaço que não é recuperável com descanso, uma sensação interna de ansiedade e angústia constante e crescente, bem como uma percepção de insatisfação com a vida, muitas vezes sem uma causa identificável.
Além disso, podem experimentar momentos de instabilidade afetiva, como tristeza ou vontade de chorar, sem uma causa específica aparente, entre outras reações emocionais. Cognitivamente, percebe-se um declínio das habilidades de atenção, concentração e memorização que pode se assemelhar ao Transtorno de Déficit de Atenção, embora não o seja efetivamente, afirma o psiquiatra.
Existe tratamento?
Conforme o Dr. Nunes, o primeiro passo para um tratamento eficaz para o Burn On é a psicoterapia, auxiliando aqueles que estão enfrentando o problema, ajudando a identificar suas causas e implementando medidas para impor limites às demandas do principal causador, preservando os momentos de descanso e lazer.
Em casos mais graves, nos quais transtornos psiquiátricos como depressão e ansiedade estejam presentes, a intervenção de um psiquiatra para o uso de medicamentos pode ser fundamental. A prática de exercícios físicos, a meditação, a manutenção de horários regulares para as refeições e a busca por um sono de qualidade são também recomendações importantes.Al ém disso, reservar ao menos um dia da semana para o descanso efetivo, sem qualquer envolvimento com o trabalho, pode ser benéfico, frisa.
Ele ainda aconselha que, para auxiliar nesta condição, é crucial evitar sobrecarregar o indivíduo ainda mais e gradualmente ajudá-lo a reconhecer o desequilíbrio existente entre sua rotina de trabalho e as demais demandas da vida.
Por fim, é perceptível que nos dias atuais e com o avanço da humanidade, existe um aumento significativo de doenças mentais relacionadas ao trabalho, à medida que as demandas profissionais se tornam mais intensas.
As demandas contemporâneas e a hiperconectividade são, sem dúvida, fatores que contribuem para o aumento dos adoecimentos relacionados à sobrecarga de trabalho. Antigamente era possível deixar o ambiente de trabalho e só retornar no dia seguinte. Hoje, com o telefone celular e os aplicativos de comunicação, estamos conectados ao trabalho e às suas demandas 24 horas por dia, onde quer que estejamos. Da mesma forma, a hiperconectividade exige respostas imediatas, tão rápidas quanto a chegada das demandas em nossos dispositivos eletrônicos. Assim como uma máquina que funciona sem pausa pode se sobrecarregar e queimar, nós também corremos esse risco, destaca.
Concluindo, Nunes argumenta que se não mudarmos o paradigma de que estar 'online', significa estar disponível em tempo real para qualquer tipo de trabalho, podemos condenar nossa sociedade a um esgotamento coletivo, com consequências potencialmente catastróficas para todos. As perspectivas indicam, portanto, um aumento contínuo dos transtornos mentais relacionados ao trabalho nos próximos anos, sem tendência de melhora.
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