“Cuidar da saúde ocular desde os primeiros dias de vida é essencial para garantir o pleno desenvolvimento visual, cognitivo e social da criança”, diz oftalmologista
Mariana Machado estagiária
O Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) e a Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP) publicaram nesta segunda-feira (4), a cartilha Saúde Ocular na Infância. O material aborda temas como cuidados com a conjuntivite e o terçol, maquiagem infantil e consequências do uso excessivo de telas na infância.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), aproximadamente 1.4 milhão de crianças têm cegueira no mundo, e a grande maioria vive em países em desenvolvimento ou muito pobres. Conforme explica a oftalmologista e professora titular de oftalmologia da Faculdade de Medicina de Petrópolis, Patrícia Pachá, a cegueira infantil é significativamente mais prevalente em países pobres, pois reflete as desigualdades globais da saúde.
“As populações carecem de acesso ao diagnóstico precoce e tratamento das condições evitáveis, como a catarata congênita, e vivem em condições, por vezes sub-humanas, potencializando o risco de quadros infecciosos. Nestas regiões são altas as taxas de cegueira carencial, por deficiência de vitamina A”, explica. Além disso, fatores como desnutrição, condições sanitárias precárias e ausência de políticas públicas efetivas agravam o cenário.
Segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (2023), a prevalência de deficiência visual moderada ou grave em crianças e adolescentes é de aproximadamente 8%. A oftalmologista diz que não há um censo específico no Brasil sobre cegueira infantil, mas estima-se que o país siga a tendência global, com maior prevalência de casos nas regiões Norte e Nordeste.
A especialista alerta ainda para a cegueira infantil como uma manifestação clínica de um quadro mais amplo, que pode comprometer a sobrevivência da criança. Segundo a OMS, a cada ano, cerca de 500 mil novas crianças ficam cegas e quase 60% delas não sobrevivem em razão das mesmas causas que as deixaram cegas.
Dentre as causas de cegueira infantil, Patrícia afirma que, “nos países mais pobres, predominam as causas evitáveis de cegueira infantil, geralmente associadas à desnutrição, infecções e à falta de acesso ao cuidado básico de saúde. Já nos países desenvolvidos, prevalecem as causas genéticas e as complicações da prematuridade. No Brasil, observamos uma mescla desses fatores, refletindo desigualdades regionais e heterogeneidade no acesso aos serviços de saúde”.
A maquiagem infantil também deve ser supervisionada. Segundo a cartilha, a ANVISA estabelece a faixa etária para o uso de cada produto, por isso, é muito importante verificar a rotulagem para saber a que idade o produto é destinado. A maquiagem infantil deve ser fácil de remover da pele, com uma simples lavagem com água, sabonete ou produtos semelhantes. Além disso, ressalta que os pais devem supervisionar o uso da maquiagem e suspender imediatamente em caso de coceira, irritação ou alergia, e buscar orientação médica.
Outro problema muito comum, principalmente com a volta às aulas, é a conjuntivite. Segundo a oftalmologista, as formas mais frequentes nessa faixa etária são as conjuntivites infecciosas e alérgicas. As infecciosas são altamente contagiosas, e por isso, a especialista diz que crianças com sintomas gripais e sinais de conjuntivite não frequentem a escola, e lista algumas medidas de prevenção: higienizar as mãos com frequência, especialmente antes de tocar os olhos ou o rosto; evitar compartilhar objetos pessoais, como toalhas, travesseiros ou maquiagem; orientar as crianças a não coçarem os olhos e a manterem os olhos limpos; ventilar os ambientes escolares, reduzindo a concentração de partículas irritantes ou agentes infecciosos.
Além disso, o uso excessivo de telas tem exercido um papel cada vez mais significativo no aumento das queixas oftalmológicas na infância, segundo afirma a especialista. Entre os problemas visuais associados com a prática, estão a miopia e o estrabismo, especialmente relacionado à visualização de telas a distâncias muito próximas. “Outra condição relevante é o ressecamento ocular, caracterizado por sintomas como ardência, vermelhidão e sensação de corpo estranho nos olhos, que afetam não apenas crianças, mas também adultos”, completa.
Como explica a oftalmologista, o desenvolvimento do sistema visual ocorre principalmente do nascimento até os 7 anos de idade. Nessa fase, é essencial realizar avaliações oftalmológicas regulares, “o segredo está em não esperar por sinais evidentes de baixa visual”, alerta Patrícia, pois condições não diagnosticadas ou tratadas podem resultar em perda visual permanente.
Todo recém-nascido deve ser examinado logo após o parto, por meio do Teste do Olhinho, que permite identificar alterações como a catarata congênita. A partir daí, o exame oftalmológico deve ser repetido anualmente até os 7 anos. Após este período, se não houver histórico de alterações, as consultas podem ocorrer a cada dois anos. Destaca ainda que o exame oftalmológico pode ser realizado mesmo em crianças que ainda não falam, pois o oftalmologista dispõe de técnicas e instrumentos adequados para examinar crianças pré-verbais, sem depender da colaboração ativa da criança.
“Cuidar da saúde ocular desde os primeiros dias de vida é essencial para garantir o pleno desenvolvimento visual, cognitivo e social da criança”, conclui.
Atendimento em Petrópolis
A Secretaria Municipal de Saúde informa que o atendimento oftalmológico pode ser realizado no Ambulatório do Hospital Alcides Carneiro (HAC), ou na Clínica Oftalmológica do Dr. Tanure, conveniada ao SUS. A marcação é feita através do sistema de regulação com encaminhamento do médico da atenção primária ou pediatra.
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