Filhos de principal acusado pediram absolvição e soltura imediata e alegam na Justiça que foram induzidos a participar do crime pelo pai, sem saber do desaparecimento da vítima
Rômulo Barroso - especial para o Diário
A Polícia Civil conseguiu recuperar parte do valor pedido pelo suposto resgate da advogada e estudante de psicologia, Anic de Almeida Peixoto Herdy, que está desaparecida desde o fim de fevereiro. Cerca de R$ 790 mil cobrados em forma de criptomoedas foram localizados pela 105ª DP (Retiro) e devolvidos ao marido, Benjamin Cordeiro Herdy.
Segundo o jornal O Globo, o principal suspeito de ter sequestrado Anic (ou feito um falso sequestro dela), Lourival Correa Netto Fadiga, depositou esse valor, no dia 8 de março, para uma empresa que faria a intermediação para compra de Bitcoins, usando até mesmo um email criado por ele em nome de Benjamim. Mas como ele foi preso no dia 20 de março, não teve tempo suficiente para entregar a documentação exigida e concluir o negócio. No último dia 12, a Polícia conseguiu rastrear esse dinheiro e apreender a quantia.
O valor recuperado é apenas uma parte do que foi pedido pelo suposto resgate de Anic. Entre dólares, reais e bitcoins, o montante soma R$ 4,6 milhões, que foram entregues, mas a mulher nunca voltou para casa. O dinheiro foi usado para compra de uma picape de R$ 500 mil, uma moto de R$ 30 mil e 950 celulares no Paraguai, que seriam levados para serem revendidos em uma loja do suspeito em Teresópolis. As investigações apontam que os aparelhos teriam sido entregues a um atravessador, que iria levar a mercadoria até a fronteira. Porém, a polícia ainda não conseguiu apreender esses celulares.
Desaparecimento completa quatro meses na semana que vem
Anic Herdy está desaparecida desde o dia 29 de fevereiro, quando foi vista pela última vez depois de deixar o carro no estacionamento de um shopping e sair andando pela Rua Teresa. Sete horas depois, o marido dela, empresário do ramo educacional, recebeu mensagem informando que ela teria sido sequestrada e o pedido de resgate, que foi pago, por exemplo, efetuando 40 depósitos em contas de doleiros e de empresas.
A última parte do valor seria entregue no dia 11 de março, quando Benjamim e Lourival levariam o dinheiro em uma mochila para um shopping na Zona Oeste do Rio, onde ela seria libertada. No meio do caminho, o acusado afirmou que recebeu outras orientações do suposto sequestrador, e teria que levar o dinheiro para uma comunidade do Recreio dos Bandeirantes, enquanto o marido esperaria pela esposa no shopping. No entanto, segundo a polícia, Lourival pegou o dinheiro e foi direto para uma concessionária na Barra da Tijuca, onde comprou os dois veículos.
Como Anic não reapareceu, a filha dela fez o registro na 105ª DP, no dia 14 de março. Seis dias depois, Lourival foi preso, assim como dois filhos e uma amante, apontados como suspeitos de terem ajudado no crime - todos sempre negaram envolvimento com o desaparecimento da mulher. Vale lembrar que o Ministério Público e a Polícia Civil apontam que Lourival e Anic também mantinham um relacionamento.
A Polícia Civil tem como uma das linhas de investigação a possibilidade de Anic ter sido assassinada, mas continua buscando o paradeiro dela. Há um mês, foram feitas buscas em um sítio em Guapimirim, inclusive com um cão farejador, mas sem sucesso. Uma reportagem do jornal O Globo nessa sexta-feira (21) informa que a Polícia não descarta até mesmo fazer novas escavações para tentar descobrir um eventual local de sepultamento.
Advogado de filhos de Lourival pede absolvição e revogação da prisão preventiva
Na última quarta-feira (19), o advogado Vinícius Santos, que defende os filhos de Lourival, Maria Luiza Vieira Fadiga e Henrique Vieira Fadiga, apresentou resposta à denúncia feita pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. No documento encaminhado à 2ª Vara Criminal de Petrópolis, ele alega que ambos não praticaram crimes e, por isso, pediu a absolvição sumária dos dois ou a revogação da prisão preventiva, para que possam responder às acusações em liberdade.
A Polícia Civil e o MP apontam que Maria Luiza tinha ciência do crime e usou o próprio nome para registrar o carro comprado por Lourival. Já Henrique, de acordo com a denúncia, participou da negociação com um doleiro para compra de US$ 150 mil e teria recebido parte do dinheiro pessoalmente.
"Os dois não sabiam de nada. Eles, assim, na verdade, foram induzidos pelo pai. A gente junta (na defesa apresentada) também a conversa (de Maria Luiza) com o pai, com relação à compra do veículo. O pai mandando mensagem para ela, falando filha, assina esse documento aí para mim. Aí ela diz, o que é isso? Ele respondeu dizendo que era para a compra de um carro. Ela vai, assina e manda para ele sem saber o que estava assinando. Era o pai dela. Ela não desconfiou em nenhum momento. Já o Henrique, por sua vez, recebeu o dinheiro. Ele estava na casa do pai. Bateram na porta e falaram, olha seu pai pediu para deixar o dinheiro aqui. Ele não sabia que o dinheiro era produto de crime. Seu pai, aliás, já transacionava compra de dólares há muito tempo", disse o advogado Vinicius Santos, defensor dos filhos de Lourival.
Ao jornal O Globo, o advogado de Lourival Correa Netto Fadiga, Paulo Tostes, afirmou que ele sempre alegou que os filhos jamais cometeram crime e o cliente entende que a prisão de Maria Luiza e Henrique é uma forma de coagi-lo a confirmar a acusação.
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