“O fato do brasileiro, reconhecer o filme e ir à sala, já demonstra um fator preponderante de mudança e interesse”, diz Monah Delacy
Mariana Machado - estagiária
Com a repercussão de sucesso registrada pelo filme “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello, o cinema brasileiro tem garantido espaço em todo o planeta, assim como no Brasil. Há muito tempo não se celebrava o cinema nacional da forma que tem sido celebrado nos últimos meses, e está em evidência a importância do cinema nacional para os brasileiros.
Com indicações em premiações de todo o mundo, e uma parte da história do Brasil tão importante, “Ainda Estou Aqui” já deu muito orgulho aos brasileiros, e com a recente vitória de Fernanda Torres como Melhor Atriz em Filme Dramático no Globo de Ouro, foi possível notar nas redes sociais milhares de pessoas reunidas em todo o país comemorando a vitória, que se tornou nacional.
A atriz brasileira, Monah Delacy, de 95 anos de idade e quase 80 de carreira no teatro, TV e cinema, conversou com o Diário sobre a importância, não só deste filme, como de todo o cenário da sétima arte para o Brasil, e também em Petrópolis.
Diário de Petrópolis: Qual a importância do cinema brasileiro para a cultura do país?
Monah Delacy: O cinema brasileiro sempre teve sua importância desde as produções da Vera Cruz (1949) e os filmes da Atlântida (1941). Eu tive a oportunidade de participar de muitas coisas boas e significativas, sobretudo no universo de Nelson Rodrigues. Temos diretores maravilhosos, e uma geração de mulheres incríveis, a exemplo da minha filha Christiane Torloni, com o filme sobre a Amazônia em parceria com o Miguel Przewodowski.
DP: Com a vitória no Globo de Ouro da Fernanda Torres, vimos milhares de brasileiros vibrarem junto com ela. Como é para quem faz arte ver essa vitória e o suporte dos brasileiros?
MD: Para nós artistas tem um sabor especial, mas o Brasil deve vibrar com a cultura do Cinema, prestigiar o cinema nacional e os atores. Assim como as artes em geral, teatro, dança, exposições e toda e qualquer manifestação artística. Além da Fernanda Torres, não podemos nos esquecer de Sônia Braga, Ana Beatriz Nogueira, Marcelia Cartaxo, Ruth de Souza, Marília Pêra, Regina Case e a Fernanda Montenegro, todas com indicações internacionais e devidamente premiadas, Soninha de maior visibilidade internacional.
O fato do brasileiro, reconhecer o filme e ir à sala, já demonstra um fator preponderante de mudança e interesse, ao tema que, cada vez mais deve ser falado, exatamente pra não se repetir e não ser esquecido.
A celebração da vitória é genuína e emocionante, Fernandinha conheço desde bebê nas coxias (corredor em torno do palco, não visível ao público; bastidores), quando Fernanda (mãe) e eu estávamos pelos teatros da vida. Ela está impecável e autêntica, o filme é extraordinário e o livro do Marcelo é muito bom em todos os sentidos.
DP: A senhora já deu aulas de teatro em Petrópolis. Por quanto tempo? A senhora considera Petrópolis uma cidade que apoia a cultura, o teatro e o cinema?
MD: É uma importante parte da minha vida como atriz. Iniciei minha experiência (como professora) em 1992 no Centro de Cultura Raul de Leoni, recebi o convite do adorado Cláudio Gomide, amigo de longa data. Depois do CCRL fui para um espaço próprio, meu estúdio e dei aulas em Petrópolis, até 2006. Fui professora em Petrópolis de Camila Morgado, um período para o Rodrigo Santoro, Cecila Hoetlz, Pierre Baitelli, Luisa Vianna, Beta Perez, Alice Cavalcante, Paulo Zanon, Cláudio Gomide, Christiane Carvalho e tantos outros, e todos na carreira, no teatro, no cinema, na TV, na produção, no preparo de atores e na gestão cultural.
A cultura de Petrópolis é rica e importante, a população em geral tem que olhar para aos artistas locais e prestigiar, tem muita gente boa e com trabalhos sérios. Nas produções que fazia com alunos sempre busquei apoio e patrocínio, é justo e legítimo que todos recebam, as leis de incentivo são pra isso!
Mas a cidade precisa reconhecer isso e patrocinar as produções locais, não se pode depender sempre do poder público. A eles cabem oferecer equipamentos devidamente aparelhados, som e luz com qualidade e estrutura decente. Li que o novo prefeito vai definitivamente terminar o teatro municipal e entregar à população, e em breve quero ir também ao novo Teatro Imperial. O maior apoio já seria este!
Penso, entretanto, que falta um significativo documentário sobre a cidade e sobre os fatos relevantes da cidade imperial e personalidades.
Concluiu Monah Delacy.
Como mencionado pela atriz, tem muita gente boa e com trabalhos sérios em Petrópolis, como “Cidade Esquecida: um documentário sobre os moradores em situação de rua de Petrópolis”, o docudrama “O Que Fiz de Mim”, e “De Repente Adotado”, um documentário, lançado no fim de 2024, que é um retrato da adoção tardia, por João Coelho. Ele contou ao Diário sobre como foi produzir na cidade.
“Este foi meu primeiro trabalho em audiovisual da vida. Minha mãe que é jornalista, Carla Coelho, me ajudou a elaborar o projeto e dar entrada no edital de recursos da Lei Paulo Gustavo. Sem esse aporte eu não teria conseguido produzir o material. A lei e o incentivo não apenas dão apoio para pessoas iniciantes como eu, mas para profissionais já estabelecidos no segmento que atuam em Petrópolis. Tenho planos de entrar em novos editais, com novas propostas e vencendo, me manter trabalhando nesse segmento. Estou orgulhoso com o trabalho que fiz e com a repercussão do trabalho”.
Em Petrópolis, o cinema Cine Show teve uma média de 450 mil pessoas nas sessões de 2024, em cerca de 300 títulos, sendo 44 deles, filmes nacionais. No Mercado Estação, o Cinemaxx registrou um público de 57.501 pessoas em 2024, dentre todos os títulos exibidos.
Incentivos do Governo
A Prefeitura do município conta com a Petrópolis Film Commission, um departamento do Instituto Municipal de Cultura (IMC) responsável pela recepção e acompanhamento de produções audiovisuais que vierem a filmar na cidade. O comitê foi criado em 2015, durante o evento Rio Content Market 2015, atendendo diversas produções. Após um hiato, foi reformulado em 2021, restabeleceu o órgão e apresentou a sua nova composição. O Petrópolis Film Commission tem sua sede no Instituto Municipal de Cultura e conta também com uma secretaria executiva responsável pela interação do município com as produções. O objetivo é atrair produções audiovisuais e oferecer apoio logístico e operacional aos produtores do mercado visual que desejam filmar na cidade, buscando desenvolver as áreas do turismo, cultura e economia de Petrópolis.
Além disso, há leis federais, como a Lei Rouanet, criada com o objetivo de captar e canalizar recursos para o setor cultural de modo a facilitar o acesso de todas as pessoas do país às fontes da cultura e promover o pleno exercício dos direitos culturais, além de estimular e fomentar a produção, preservação e difusão cultural, principalmente por meio de incentivo fiscal concedido a quem patrocina projetos com esse fim. E a Lei Paulo Gustavo, que viabiliza o maior investimento direto no setor cultural da história do Brasil. São R$ 3.862.000.000,00 (três bilhões oitocentos e sessenta e dois milhões de reais) para a execução de ações e projetos em todo o território nacional.
Além disso, a Ancine (Agência Nacional do Cinema) divulgou, em 1° de janeiro de 2025, que o setor cinematográfico brasileiro celebra um marco histórico: o recorde de 3.509 salas de cinema em funcionamento no país, que superou as 3.478 salas registradas em 2019, antes da pandemia de Covid-19, que resultou no fechamento de quase metade das salas de cinema em 2020.
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