Quatro anos após a pandemia ser decretada, inúmeras crianças ainda não completaram o esquema vacinal contra a doença
Foto: José Cruz / Agência Brasil
Larissa Martins – especial para o Diário
A baixa cobertura vacinal infantil contra Covid-19 continua preocupando os especialistas, em todo o país. Um estudo realizado pelo Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância), da Fiocruz e Unifase (Faculdade de Medicina de Petrópolis) aponta que mesmo após quatro anos do início da pandemia, decretada oficialmente em 11 de março de 2020, e pouco mais de três anos após o início da vacinação no Brasil, a cobertura vacinal em crianças e adolescentes continua baixa. Os dados preocupam, pois estão associados à continuidade da mortalidade pela doença, segundo a pesquisa.
Entre crianças de 3 a 4 anos a cobertura está em 23% para duas doses e apenas 7% para o esquema vacinal completo com três doses. Na faixa de 5 a 11 anos, a cobertura sobe para 55,9% com duas doses, mas apenas 12,8% do público alvo têm o esquema completo com três doses.
Vacinômetro em Petrópolis
O vacinômetro da secretaria de saúde de Petrópolis aponta que entre as crianças de 0 a 11 anos, a estimativa de aplicação do imunizante era de 41.445 em todas as doses. Na 1ª dose, 26.014 pessoas do público alvo receberam a vacina. A 2ª dose teve uma leve queda de aplicação indo para 20.306 crianças que voltaram aos postos. Apenas 4.668 crianças tomaram a dose de reforço. O índice fica ainda mais baixo ao chegar na 2ª dose de reforço, quando apenas 16 pessoas tomaram, em uma estimativa de alcançar 41.445 delas.
Entre os adolescentes de 12 a 17 anos, a estimativa era a aplicação em 21.459 deles. A 1ª dose ultrapassou a expectativa, sendo aplicada em 21.508 jovens. A 2ª dose também sofreu queda com 19.108 pessoas tomando, porém ainda apresentava um nível positivo. Quando a dose de reforço começou a ser fornecida nos postos, apenas 8.454 adolescentes foram até as unidades à procura. Já a 2ª dose de reforço, ninguém tomou.
Óbitos no país
O Observa Infância também mostra uma queda considerável no número de óbitos de crianças, no país, após o início da vacinação, indicando a eficácia do imunizante. O boletim analisou os dados do Sistema de Vigilância Epidemiológica de Gripe (Sivep-Gripe/Fiocruz) das oito primeiras semanas epidemiológicas de 2021 a 2024.
Até o final de 2021 foram registradas 118 mortes pela doença entre crianças e adolescentes até 14 anos. O mesmo período do ano de 2022 registrou quase o triplo, sendo confirmadas 326 mortes por Covid-19 nesta faixa etária, o que representou quase a metade (47,1%) das mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).
Em 2023, já com o imunizante contra a Covid-19 sendo aplicado em crianças a partir dos seis meses, houve redução de mortes infantis. Cerca de 50 óbitos, entre crianças e adolescentes até 14 anos, foram registrados nas primeiras oito semanas do ano. De acordo com o boletim, a proporção dessas mortes em relação ao total de óbitos por SRAG nesse ano e período foi de 24,5%. No mesmo período de 2024 foram observadas 48 mortes por Covid-19 entre crianças e adolescentes com menos de 14 anos, representando 32,4% das mortes por SRAG.
“A análise mostra que temos uma vacina segura, eficiente e disponível em todos os municípios. Precisamos usar o recurso que nós temos para garantir a saúde das crianças, especialmente em um cenário desfavorável com a circulação de outras doenças perigosas, como a dengue”, alerta o pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) e coordenador do Observa Infância, Cristiano Boccolini.
Painel de monitoramento
O Painel de monitoramento da secretaria municipal de saúde de Petrópolis mostra que em apenas 11 dias de marco, 364 casos da doença já foram notificados. Destes, 266 deram negativos após a realização dos testes e 95 foram confirmados. Existem três casos em análise, 94 ativos e nove internações clínicas (HAC-2, HST-2, HCC-1 e HMNSE-1). Um óbito já foi registrado. As informações a respeito da vítima foram solicitadas à secretaria de saúde, mas até o fechamento da edição, não foram enviadas.
Não é o fim da doença
Edson Souza Lima Junior, enfermeiro especialista em Terapia Intensiva e professor do curso de Enfermagem da Uniderp, aponta a percepção enganosa de que a doença foi erradicada como um dos principais motivos para a população não completar o esquema vacinal. “A queda na cobertura vacinal pode gerar custos adicionais para o sistema de saúde, já que o tratamento de doenças evitáveis por vacinação demanda recursos financeiros, materiais e humanos. Doenças como sarampo e poliomielite, que estavam praticamente erradicadas no Brasil, voltaram a representar ameaças reais devido à falta de imunização adequada. É crucial que sejam implementadas medidas efetivas para reverter esse cenário, incluindo campanhas de conscientização sobre a importância da vacinação, melhorias na infraestrutura de saúde para facilitar o acesso às vacinas e combate à desinformação que circula sobre os imunizantes”, afirma.
Benefícios da vacinação
A vacinação é amplamente reconhecida como a medida mais segura e eficaz para prevenir a propagação da COVID-19 e para ajudar na recuperação do convívio social pré-pandêmico. “Existem várias razões pelas quais as vacinas são consideradas a melhor estratégia: Proteção Individual: As vacinas estimulam o sistema imunológico a produzir uma resposta protetora contra o vírus, ajudando a prevenir doenças graves, hospitalizações e mortes decorrentes da COVID-19. Mesmo que alguém vacinado contraia o vírus, é mais provável que tenha sintomas mais leves e uma menor chance de complicações graves. Imunidade Coletiva (ou de Rebanho): Quanto mais pessoas forem vacinadas em uma comunidade, mais difícil será para o vírus se espalhar, protegendo também aqueles que não podem ser vacinados por motivos médicos, como pessoas imunocomprometidas”, frisa.
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