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Academia Petropolitana de Letras

COLUNISTA

Academia Petropolitana de Letras

Cartas que falam

Cada vez mais, nos Estudos Literários brasileiros, fortalecemos uma área de pesquisa que cada vez mais cresce na Universidade brasileira: os estudos epistolográficos, isto é, investigações teóricas em torno de cartas, correspondências, arquivos literários, manuscritos pessoais e outras tipologias textuais em torno da epistolografia.

A escrita e a troca de cartas, enviadas e recebidas, é uma prática realmente antiga e remonta há muitos séculos atrás. Evidências históricas datam as primeiras missivas lá pelo final do quarto milênio antes de Cristo, isto é, possivelmente na época da escrita suméria. Ao longo da Antiguidade, a escrita epistolar foi intensificada e dinamizada, com profissionais (os escribas) especialmente designados para este mister, que tinha até mesmo os seus próprios códigos estilísticos quanto à forma e ao conteúdo. Algumas cartas mais teóricas tornaram-se verdadeiros tratados de estética literária, sendo consideradas e utilizadas até os dias de hoje.

A bem da verdade, no Brasil, sempre se publicaram cartas e epistolários dos mais variados remetentes e destinatários, que o diga a correspondência entre Machado de Assis e Joaquim Nabuco, organizada e publicada por Graça Aranha, em 1923. Com o advento e fortalecimento do nosso Modernismo, a troca de missivas realmente ganhou um caráter decisivo de pensamento, ou seja, escrevia-se cartas para pensar, para teorizar, para questionar opiniões, num claro movimento de “laboratório epistolar de ideias”. Sempre lembramos do “gigantismo epistolar” de Mário de Andrade, mas também não podemos esquecer de Alceu Amoroso Lima, Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, Jorge de Lima, Octávio de Faria, Câmara Cascudo e tantos outros epistológrafos que usaram e abusaram dos nossos Correios & Telégrafos.

Nas últimas décadas, em diversos programas de pós-graduação em Letras do Brasil, temos acompanhado uma maior sistematização da pesquisa epistolográfica. No entendimento de muitos pesquisadores do Gênero Epistolar, não devemos publicar apenas o texto da carta, mas também produzir, a partir deste conteúdo, uma verdadeira pesquisa no sentido de contextualizar esta mesma carta com as mais diferentes dinâmicas: o seu contexto de escrita, a relação remetente-destinatário, o momento histórico, as pessoas e situações citadas, as relações de amizade ou inimizade, os grupos envolvidos, enfim, todo o universo em torno de um conteúdo. Com este esforço, temos presenciado o gradativo fortalecimento desta área de pesquisa nos estudos literários brasileiros, o que tem permitido fazer inúmeras (re)avaliações dos mais diferentes cânones, biografias e entendimentos críticos engessados pelo tempo. A organização e publicação de uma correspondência não traz a lume apenas um novo epistolário, mas toda uma relação de amizade entre remetente e destinatário que, ao longo do tempo de sua troca, ajudou a (re)pensar a obra, o estilo e o projeto artístico de cada um.

No sentido de contribuir, como especialista, para o fortalecimento dos Estudos Epistolográficos brasileiros, publiquei há poucos meses o meu novo livro: “Cartas que falam ensaios sobre Epistolografia” (Editora Relicário, 2024). Trata-se de uma antologia com todos os meus textos teóricos (ensaios, artigos, prefácios etc), publicados nos meus últimos 25 anos de pesquisa nesta área. Na verdade, este livro é um pouco o resumo da minha própria carreira de pesquisador e professor universitário de literatura brasileira, com uma sólida formação em estudos sobre cartas, correspondências, manuscritos, arquivos, dedicatórias etc dos nossos principais escritores.

Nunca se publicou tanta correspondência, no mundo editorial brasileiro, como nos últimos 30 anos! Algumas edições foram preparadas com esmero e critério científico, outras não. Todavia, o saldo é mais positivo do que negativo, pois cada epistolário que se revela traz consigo todo um mundo de sentimentos e sociabilidades que estavam escondidos, na maioria das vezes, em arquivos e guardados pessoais. Carta é narrativa, é troca, é mensagem que se envia e se recebe. Enfim, as cartas falam.


Leandro Garcia

Presidente da APL

LEMBRETE DA ACADEMIA:

Lembro aos nossos acadêmicos titulares que, no sábado 23/11/2024, às 9h30min, na Casa Cláudio de Souza, teremos a próxima Assembleia da APL, com uma importante pauta para a nossa organização institucional: votação para preenchimento de cadeira vacante, votação das novas mudanças estatutárias quanto às eleições na APL e votação dos agraciados com o Prêmio APL 2024. Por favor, não faltem!

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