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Academia Petropolitana de Letras

COLUNISTA

Academia Petropolitana de Letras

Guttemberg e as academias

Nos últimos dias, campanhas institucionais nas mídias divulgam que, neste ano, o Rio de Janeiro é a “Capital Mundial do Livro.” Conduzida pelo prof. Luiz Antonio Simas, a propaganda ressalta a importância dos “sebos” do Centro, onde outrora se aglomeravam tantos, que chegava a haver uma “classificação” entre as tais livrarias de usados, entre preços, antiguidade e assuntos.  No final do século passado, apesar do nítido e gradual  desaparecimento dos sebos, ainda havia uma pequena e significativa concentração de alguns resistentes, no quadrilátero que ia de parte do Castelo à praça Tiradentes, merecendo  um “mapa dos sebos do Centro” , elaborado por ninguém menos do que o professor Antônio Carlos Secchin, acadêmico da ABL.

Após esse breve “nariz-de-cera”, aonde queremos chegar?  Ao livro. Na virada do milênio, com a revolucionária chegada de novas mídias e o advento da Internet, muito especulou-se sobre o fim do livro “de papel” ( como se pudesse haver um livro de gás,  de plasma ou de nylon), agravado ainda pela popularização (?) dos tablets.

Os smartphones dos anos 2000 viriam para aniquilar as câmeras fotográficas, as filmadoras,  as máquinas de digitar, os gravadores de voz, os PCs de gabinete, etc, etc e... o livro. E não acabaram com ele. Ainda sobrevive nas bienais e feiras literárias.

Seja por devoção ou fetichismo pelo objeto secular, pelo aspecto físico-sensorial ou o que quer que seja, é pela materialização ou “concretude” do texto impresso, enfim, que devemos a revolução trazida pela  “prensa móvel ” inventada pelo alemão Johannes Guttemberg, por volta de 1439.

Não por acaso, a “Revolução da Imprensa” é fruto do Humanismo em curso, com o propósito de difundir o conhecimento de forma ampla e acessível a todos, retirando o saber hegemônico dos manuscritos, literalmente restritos aos monastérios e claustros, como ilustra fielmente Umberto Eco no célebre “O nome da rosa”.

Tal advento tecnológico permitiu a propagação das ideias humanistas e a pavimentação da própria Renascença, da Reforma, do Iluminismo e da Revolução Científica, mais posteriormente.

O cenário e o contexto histórico do nascimento do livro impresso propicia, além da difusão das ideias filosóficas, científicas e literárias, a consequente ampliação do público leitor, o estabelecimento e o fortalecimento de línguas nacionais, que consolidariam uma cultura escrita ( e impressa mecanicamente). É com esse pano de fundo que se organizam as primeiras academias, com o sentido que conhecemos hoje.

Uma das novas academias é a Academia Pomponiana (ou Academia Romana), fundada por Pompónio Leto em Roma, em meados do século XV, e  portanto, contemporânea à Revolução da Imprensa dedicada  estudo da filosofia, da arte, da arqueologia, da filologia e da poesia. Ainda no mesmo século, é criada em Florença a Academia Platônica, com praticamente os mesmos objetivos.

Já no século seguinte despontam a Academia della Crusca, que se dedicava ao estudo da língua italiana, e a Academia das Artes do Desenho, ambas igualmente em Florença; a Academia Romana de Santa Cecília, que se dedicou à promoção dos músicos e ao estudo da música (tornado necessário na sequência das reformas decorrentes do Concílio de Trento).

A modelar Académie Française surge no século XVII, assim como a Academia Nacional dos Linces (hoje conhecida como Pontifícia Academia das Ciências), em Roma, que tinha, entre os seus membros efetivos, ninguém menos que Galileu Galilei; a Academia da Arcádia, também em Roma, organizada por Metastásio, será de fundamental importância para o Neoclassicismo português e brasileiro; a Royal Society em Londres; a Academia dos Generosos em Portugal (primeira conhecida neste país, posteriormente conhecida como Academia Portuguesa); a Académie des Sciences em Paris; e a Academia Real de Pintura e Escultura, também na Cidade Luz.

Já no século XVIII, instituíram-se a Academia de la Lengua, em Espanha; a Royal Academy of Arts em Inglaterra; a Academia das Ciências de Lisboa ( dedicada às Letras ); a Academia dos Ocultos; a fundamental Arcádia Ulissiponense, em Lisboa, que seria o modelo de nossa Arcádia Ultramarina, em 1756, berço da Conjuração Mineira; a Academia Litúrgica Pontifícia (Santa Cruz de Coimbra), também em Portugal; a Academia Real da História Portuguesa (atualmente conhecida como Academia Portuguesa de História); a Academia Brasílica dos Esquecidos e a Academia Brasílica dos Renascidos, em São Salvador da Bahia, sua continuadora.

No século XIX,  com a vinda da Corte Portuguesa no Brasil, funda-se Academia Imperial de Belas Artes, e destacam-se, ainda, a Associação dos Arqueólogos Portugueses; o Ateneu de Belas Artes de Lisboa; a Academia Portuense de Belas Artes; a Academia Real da Marinha, em Lisboa, e a Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro.

Na aurora do século XX, é fundada a Academia Petropolitana de Letras, em 1922 -  hoje centenária e uma das mais antigas arcádias ainda ativas no Brasil tem como princípios congregar escritores e intelectuais, criando um ambiente de debate, criação e difusão e preservação da cultura local.

Assim, concluímos que o advento do livro impresso foi um fator determinante para a instituição das academias. Se aquele foi crucial como veículo acessível às ideias escritas, os sodalícios foram essenciais para a consolidação e organização dos bens culturais. Juntas, ajudaram a  construir as fundações do pensamento ocidental.

Tudo passará. O livro, jamais!

Prof. Marcelo J Fernandes,  presidente

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