COLUNISTA
Aristoteles Drummond
Surge em meio a essa polarização um movimento civilizado de uma nova centro-esquerda, vacinada contra o radicalismo e o marxismo, uma centro-direita sem o populismo demagógico da direita caricata surgida no Brasil com o bolsonarismo.
Ambas as linhas de pensamento marcadas pelo bom senso reconhecem que o liberalismo econômico, capitalista, em maior ou menor grau, é o caminho para uma sociedade mais justa e progressista.
Animador é que esta linha de moderação e pragmatismo vem sendo adotada por pensadores mais jovens, observando sem preconceitos o que vem dando certo e deixando de lado dogmas ultrapassados.
A chamada maioria silenciosa nas democracias ocidentais despertou para o alto custo pago pelo afastamento da política, permitindo que emergissem movimentos de baixa qualidade e péssimos resultados práticos. Os regimes de apelo nacionalista ou socialista têm mostrado que não levam ao desenvolvimento econômico nem ao social.
No Brasil, foi publicado interessante e ponderado ensaio de um dos novos valores do pensamento desta esquerda esclarecida, Miguel Lago, que lecionou em Harvard e Columbia, e carrega a responsabilidade de ser bisneto de estadista de referência na história republicana brasileira Oswaldo Aranha e neto, pelos dois lados, de famílias com tradição na diplomacia brasileira.
Ao abordar com serenidade as razões do sucesso eleitoral de forças políticas desprovidas de compromissos históricos e relevantes para o ideal democrático, com liberdade, justiça social e segurança, Lago aponta para a necessidade de se repensar, ou atualizar, o ritual de dar mais voz à sociedade independentemente de sua representação nos legislativos, hoje deturpada com formações de cunho corporativo, religioso ou simplesmente paroquial. O fenômeno, entretanto, é decorrência natural do crescimento demográfico do pós-guerra e da participação da imigração, no caso europeu. Uma realidade a ser aceita, mas gerando meios de buscar decisões práticas sem preconceitos ou privilégios.
No ensaio de Miguel Lago publicado na revista Piauí, estão sugestões de aperfeiçoamento, como orçamento participativo e referendos, com experiências positivas em alguns países, como meio de dar voz à população, além da representação parlamentar. A meta seria a preservação de valores universais e perenes, nas palavras do cientista político.
O trabalho que está na linha desse novo pensamento, visa preservar o fundamental na democracia, naturalmente carrega ainda pecados do momento a ser superado ao concentrar críticas apenas em lideranças todas como à direita, omitindo os casos com afinidades mais à esquerda, como os da Venezuela, Nicarágua e a Argentina até a herança peronista. Mas Roma não se fez em um dia.
O importante parece ser a busca de uma pauta que agregue e não dívida os povos, que busque a paz e não o confronto, que se encontre consensos. A busca da paz pede ainda que, a princípio, o mundo comece por condenar quem teve a iniciativa de atos de violência, de agressões armadas. Temos assistido a segmentos supostamente responsáveis condenarem vítimas da violência e não seus promotores. E até o absurdo de se negar o direito de legítima defesa de quem é vítima e não teve iniciativa em conflitos.
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