COLUNISTA
Aristóteles Drummond
O Brasil construiu desde o Império até o mandato de Fernando Henrique Cardoso um forte prestígio internacional com base na qualidade de seus diplomatas e da orientação sábia que, no final do Império e início da República, se deve ao patrono da carreira, o Barão do Rio Branco.
Normalmente o alto conceito do nosso diplomata maior é atribuído aos acordos que fixaram com habilidade e competência nossos limites com os vizinhos e vivermos sem nenhum problema na questão, como é comum em quase todos os países sul-americanos. Foi o talento do barão, mas foi também o prestígio que tinha no mundo, entre as grandes nações que garantiu a credibilidade de seus pareceres, alguns acolhidos
em fóruns internacionais ou na mediação de outros países. Mas foi mais do que isso.
A personalidade admirada e respeitada permitiu que o Barão exercesse importantes postos sem abrir mão do título recebido do Imperador, do qual muito se orgulhava.
Entre as diretrizes legadas aos nossos diplomatas, estava a recomendação de que deveríamos sempre priorizar as relações com o Prata Argentina, Uruguai e Paraguai e com Washington. No mais, evitar tomar partido em litígios entre nações amigas. Como a seu tempo não havia Internet, nem aviões intercontinentais, achava a Europa importante, mas muito distante para ter prioridade em relação aos vizinhos e ao
grande aliado do norte.
Um olhar sobre os quadros do Itamaraty desde sempre impressiona pela qualidade, pela presença de gerações da mesma família no serviço diplomático e nos homens que marcaram sua época, formados ou com passagem ocasional relevante no Ministério das Relações Exteriores. São casos de não diplomatas, como General Dionísio, Oswaldo Aranha, Raul Fernandes, Francisco Negrão de Lima e Vicente Rao; todos brasileiros relevantes. E as famílias com gerações na Casa de Rio Branco, como os Mello Franco, Thompson Flores e Corrêa do Lago.
A Academia Brasileira, desde sua fundação com Joaquim Nabuco, e Domício da Gama, teve na sua composição pelo menos dez por cento de diplomatas, alguns entre os maiores de seu tempo em outras áreas, como o caso de Roberto Campos.
No mais, muitos de nossos diplomatas tiveram importância nos postos bem maior do que as do nosso país. Luís de Sousa Dantas, por exemplo, em Paris, onde foi embaixador por 22 anos, tem placa de reconhecimento na cidade.
Logo, esse alinhamento com o eixo Moscou-Pequim, essa militância antiamericana, essa absurda crise com Israel, que sempre distinguiu o Brasil e os brasileiros, foge à tradição da nossa diplomacia e à formação de nossos diplomatas, até bem pouco tempo recrutados nos melhores meios acadêmicos e culturais do país.
Uma pena a destruição deste patrimônio com tradição na nossa história.
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