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Douglas Moutinho

COLUNISTA

Douglas Moutinho

Robô Selvagem - Uma Jornada Entre o Tecnológico e o Primordial

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Robô Selvagem emerge como uma das produções mais marcantes do estúdio DreamWorks, cujo histórico é caracterizado por uma certa volatilidade criativa. O estúdio, que em alguns momentos nos presenteia com pérolas cinematográficas como as sequências de O Gato de Botas e Como Treinar o Seu Dragão, também é responsável por produções menos memoráveis, como O Poderoso Chefinho 2: Negócios de Família e Ruby Marinho. Contudo, em Robô Selvagem, a DreamWorks alcança um novo patamar, entregando uma das obras mais belas e profundas de sua filmografia.

Embora seu enredo aparente simplicidade, Robô Selvagem revela uma narrativa de múltiplas camadas, que convida o espectador tanto à contemplação quanto à reflexão crítica. O filme acompanha a trajetória de Roz, uma robô que desperta em um mundo habitado exclusivamente por animais e passa a interagir com a natureza de maneira intensa e transformadora. Programada originalmente para servir aos seres humanos, Roz se depara com a necessidade de transcender sua própria programação após um incidente que a une profundamente a Bico-Vivo, um filhote de ganso que apresenta asas menores do que o normal. Diante da missão de garantir a sobrevivência do pequeno ganso, Roz assume o papel de mãe, empenhando-se em ensiná-lo três habilidades fundamentais para a espécie: alimentar-se, nadar e voar. Com o auxílio de uma raposa chamada Fink, o trio improvável embarca em uma jornada para preparar Bico-Vivo para a migração de inverno, condição indispensável para sua sobrevivência.

A narrativa, que começa de maneira aparentemente singela, se desenvolve em uma trama rica, abordando questões como coragem, pertencimento, altruísmo, amizade, família, superação e ecologia. A força de Robô Selvagem reside precisamente em sua capacidade de tratar esses temas universais e atemporais com profundidade e maturidade, sem recorrer a clichês ou a tendências contemporâneas passageiras. Nesse aspecto, o filme se aproxima mais das animações orientais, conhecidas por suas histórias envolventes e significativas, em contraste com muitas produções ocidentais que, frequentemente, abordam seus temas de maneira superficial, efêmera e apelativa.

Visualmente, a estética de Robô Selvagem se distancia das convenções estabelecidas pelo estilo 3D popularizado pela Pixar. Ainda que não seja tão ousada ou estilizada quanto O Gato de Botas 2, a animação oferece uma ambientação detalhada, cativante e plenamente integrada ao universo que retrata, proporcionando uma experiência visual rica e imersiva.

Robô Selvagem desponta como uma grata surpresa, evocando a memória de épocas em que salas de cinema eram preenchidas por crianças e pais encantados por animações inesquecíveis e inspiradoras como O Rei Leão e Toy Story. Em um momento em que muitos pais hesitam em levar seus filhos ao cinema para assistir às animações mais recentes graças aos conteúdos por vezes pouco agregadores, esta obra se apresenta como uma excelente oportunidade para compartilhar momentos de diversão em família, enquanto se contempla uma produção que pode ser considerada uma das melhores animações dos últimos anos.

A Forja: o Poder da Transformação

Evangelização e limitação

Não é segredo que estamos imersos em uma guerra de discursos e ideologias, muitas vezes simplificados a ponto de se tornarem reducionistas e improdutivos. Esses discursos são frequentemente moldados para gerar frases de efeito, orientadas não para um verdadeiro diálogo ou entendimento, mas para alcançar uma suposta e ilusória vitória retórica. Hollywood, com sua capacidade de absorver e amplificar tendências sociais, transforma essas questões em potenciais fontes de lucro, revestindo-as de uma superficial preocupação com grupos marginalizados ou discriminados. O resultado são filmes que se apresentam como críticas sociais, mas que, na verdade, são respostas oportunistas a modismos que surgem e desaparecem a cada nova onda de viralização nas redes sociais. Nesse cenário, é surpreendente e digno de nota quando uma produção abertamente evangélica consegue se destacar nas bilheterias do país, rompendo com esse padrão.

Esse é precisamente o caso de A Forja, o filme que está atualmente em evidência. Assumindo desde o início uma proposta evangelizadora, a obra se destaca por sua narrativa inspiradora, centrada em temas como superação, conversão, bondade, caridade e o poder transformador da comunidade. O filme narra a trajetória de Isaiah, um jovem desmotivado e viciado em jogos, que vive com sua mãe e precisa transformar sua vida tanto pessoal quanto profissionalmente. Essa jornada de mudança é impulsionada pela figura de Joshua, um homem bem-sucedido que se torna um guia e referência para Isaiah.

Sob a direção de Alex Kendrick que acumula também os papéis de ator, escritor, produtor e pastor batista , o filme revela, por vezes, uma execução técnica limitada, assumindo um tom que pode ser interpretado como mais propagandístico do que artístico. Embora a história ofereça um potencial narrativo envolvente, sua construção narrativa peca pela falta de sutileza, com diálogos excessivamente explicativos e uma insistência em verbalizar orações e sermões. Vale lembrar que o cinema, como uma arte visual, encontra sua maior força em comunicar ideias e emoções através das imagens, e a dependência exagerada da fala enfraquece esse poder.

Apesar das limitações no roteiro e na direção, A Forja compensa esses pontos com suas atuações convincentes. Aspen Kennedy, Priscilla C. Shirer e Cameron Arnett conduzem a narrativa com grande intensidade, conferindo profundidade aos seus personagens e enriquecendo a experiência do espectador. Em última análise, o filme é uma obra leve e inspiradora, repleta de exemplos de boas ações e valores que, se seguidos, poderiam contribuir para um mundo melhor. Ele destaca virtudes humanas fundamentais, transcendendo os limites da religião, ao promover um apelo aos bons costumes e à ética que toca a todos, independentemente de crenças religiosas.

Ambos os filmes estão disponíveis nos cinemas da rede CineShow no Shopping Pátio Petrópolis.

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