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Douglas Moutinho

COLUNISTA

Douglas Moutinho

A Substância: um olhar sobre a efemeridade da beleza física

Foto: Divulgação
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O filme A Substância, dirigido pela cineasta Coralie Fargeat, é uma obra de terror que se insere no subgênero do body horror, caracterizado pelo medo relacionado ao corpo humano. Embora as origens desse estilo cinematográfico remontem à década de 1950, ele ganhou maior notoriedade com os filmes do canadense David Cronenberg (A Mosca, Videodrome, Crash) e com o movimento francês do início dos anos 2000, o Novo Extremismo. Filmes como Mártires e A Invasora chocaram o público nos festivais de cinema, solidificando a popularidade do gênero.

A Substância segue as convenções desse tipo de cinema, oferecendo ao público uma experiência de terror com forte apelo gráfico e corporal, além de uma crítica social e elementos de entretenimento. No entanto, o filme também subverte o gênero ao incorporar elementos estéticos de programas de ginástica, o que se encaixa perfeitamente na proposta do enredo.

A história gira em torno de Elizabeth Sparkle (Demi Moore), uma renomada apresentadora de um programa de aeróbica. Após ser demitida devido à sua idade avançada, ela entra em desespero até ser abordada por um laboratório que oferece uma substância capaz de transformá-la em uma versão "aperfeiçoada" de si mesma. Ela aceita a proposta, mas logo se vê lidando com as consequências de sua escolha e com a presença constante de Sue, sua versão aprimorada. O filme se debruça sobre três aspectos principais, que explorarei brevemente nos próximos parágrafos.

Primeiro, o filme aborda a maneira como a sociedade impõe um prazo de validade em certas áreas profissionais. Embora essa realidade seja apresentada como um fator desencadeante de consequências pessoais graves, também é possível interpretá-la de uma forma mais ampla. Ao escolher uma profissão focada apenas na aparência, Elizabeth acaba se tornando vítima do processo natural de envelhecimento do corpo, o que a leva a enfrentar o desajuste causado por essa escolha.

Segundo: o livre arbítrio, o qual permeia todas as escolhas humanas. Seguidamente, Elizabeth cede à pressão da sociedade, negligenciando a si mesma em prol da adequação. Embora houvesse a coerção do meio, a todo momento a opção de interromper o procedimento era apresentada à protagonista, a qual, mesmo já conhecendo as consequências de suas escolhas, opta por continuar.

Por fim, o aspecto gráfico. O body horror, como mencionado, trabalha com imagens corporais que podem ser desconcertantes para o público, gerando estranhamento. No entanto, esse elemento visual é essencial para a narrativa, buscando chocar o espectador com imagens fortes e explícitas, o que justifica sua classificação indicativa de 18 anos.

A Substância é uma grata surpresa deste ano, apresentando ao público uma rica tradição do subgênero de terror. Ao mesmo tempo, o filme mantém o espectador cativado ao longo de suas mais de duas horas de duração, graças ao seu enredo envolvente e imagens criativas, além de provocar reflexões sobre a sociedade e o livre arbítrio.


Kraven, o Caçador: o fim do universo do Homem-Aranha da Sony

Foto: Divulgação
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Kraven, o Caçador surge como o mais recente filme do universo cinematográfico do Homem-Aranha, iniciado pela Sony em 2012 com O Espetacular Homem-Aranha, estrelado por Andrew Garfield. Este universo, marcado por uma sequência de fracassos e produções medianas, como Venom, Madame-Teia e Morbius, parece encontrar em Kraven uma tentativa de fechar sua trajetória com um desfecho mais digno.

Títulos como Madame-Teia e Morbius são frequentemente apontados como alguns dos piores filmes de super-heróis produzidos nos últimos anos. Contudo, Kraven se aproxima mais de Venom do que dessas produções, especialmente ao tratar de vilões clássicos dos quadrinhos e ao explorar o apelo dos atores que os interpretam. Criado em 1964, apenas dois anos após o próprio Homem-Aranha e duas décadas antes do surgimento de Venom, Kraven ocupa um lugar significativo no universo do herói, sendo um dos primeiros vilões a se conectar diretamente com o protagonista.

Diferentemente de Venom, Kraven opta por um tom mais sério e sóbrio, abandonando a comicidade em prol de uma narrativa mais profunda sobre a jornada de seu protagonista. Essa abordagem se reflete também no roteiro, que apresenta reviravoltas interessantes e consegue reservar mistério e surpresas até os momentos finais.

O personagem Kraven, na realidade, é Sergei Kravinoff, um aristocrata russo, herdeiro de uma rica família de caçadores. Em um momento crucial de sua vida, Sergei acompanha seu pai, junto com seu irmão Dmitri, em uma caçada, mas acaba sendo atacado por um leão. Ele é salvo por uma poção oferecida por uma local, que lhe confere habilidades sobre-humanas, como aumento de força, velocidade e foco, além de um vínculo com os animais. Esse evento desperta nele uma profunda crise existencial, levando-o a questionar a nobreza e os valores de sua família. Em busca de sua própria identidade e superioridade, ele começa a caçar criminosos, visando provar-se digno e à altura do pai.

Embora a trama de Kraven apresente uma abordagem relativamente simples sobre as origens do personagem, o filme utiliza bem esse arco para explorar suas complexidades. Ele realiza mudanças consideráveis em relação às HQs originais e, como tem sido costume no universo cinematográfico da Sony, opta por excluir a presença do Homem-Aranha, criando um espaço para o desenvolvimento independente de Kraven.

Kraven é um personagem interessante, e o filme o utiliza relativamente bem para contar uma história simples sobre as suas origens, modificando vários elementos das hqs e excluindo completamente a existência do Homem-Aranha, como tem sido de praxe nesse universo da Sony. Ainda assim, é impossível não perceber o esgotamento em relação ao universo que a Sony tentou realizar, fazendo com que Kraven seja apenas mais um filme de herói em meio a tantos outros.

Ambos os filmes estão em exibição nos cinemas da Rede Cine Show no Pátio Petrópolis.

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