Edição: segunda-feira, 07 de abril de 2025

Douglas Moutinho

COLUNISTA

Douglas Moutinho

Presença

Entre o terror psicológico e o found footage

h Reprodução


Um dos subgêneros cinematográficos mais proficuamente explorados na contemporaneidade é, sem dúvida, o denominado terror psicológico. Este segmento caracteriza-se por abordar o pavor de maneira mais intimista, introspectiva e comedida, despojando-se dos elementos visuais explícitos que comumente permeiam o gênero. O aclamado Alfred Hitchcock afirmou, com propriedade, que o verdadeiro medo reside, antes de mais nada, na iminência e na antecipação de uma ameaça, muito mais do que na própria materialização visual do horror. Tal reflexão parece ser o fio condutor de diversas produções do terror contemporâneo. Não é mera coincidência que muitos desses filmes se ocupem de temáticas relacionadas a entidades espirituais, rituais, demônios e distúrbios psicológicos elementos, na sua grande maioria, invisíveis.

Dentro dessa tendência, insere-se Presença, uma obra que se alinha a essas convenções, abordando a história de uma família que, ao se mudar para uma casa antes desprovida de qualquer manifestação sobrenatural, vê-se imersa em uma série de fenômenos inexplicáveis logo após sua chegada. Ao longo da narrativa, o espectador é conduzido a compartilhar da perspectiva da entidade que habita o local, observando os eventos de uma maneira subjetiva, enquanto os membros da família permanecem alheios à presença oculta. A utilização de planos subjetivos permeia toda a obra, aproximando-a de outro subgênero do terror amplamente explorado: o found footage, cujas características fundam-se na observação de acontecimentos por meio de gravações supostamente encontradas. O grande mérito da direção e do roteiro de Presença reside justamente na subversão desse subgênero, entregando uma experiência sensorial pouco recorrente no universo cinematográfico. A direção de Steven Soderbergh laureado com a Palma de Ouro em Cannes por Sexo, Mentiras e Videotape e vencedor do Oscar
por Traffic constrói a narrativa unicamente sob a ótica da entidade, utilizando longos planos sequência e uma lente teleobjetiva. Tal escolha técnica permite uma ampliação dos cômodos da casa, ao mesmo tempo em que proporciona um efeito de distorção nas laterais das imagens, caracterizando uma aparência de barril. Esse efeito confere um tom distorcido, como se as imagens vistas fossem de um plano diferente do plano de quem as vê.
O trabalho de Soderbergh se complementa de forma magistral com o roteiro de David Koepp (célebre por seu envolvimento em produções como Jurassic Park, Guerra dos Mundos, Missão Impossível, O Pagamento Final, Janela Secreta e Homem-Aranha) que mantém o mistério característico do terror psicológico, ao mesmo tempo em que semeia pistas sutis ao espectador, permitindo-lhe, progressivamente, decifrar os enigmas da trama.

Para os apreciadores do gênero, Presença configura-se como uma proposta interessante. Contudo, o filme peca ao não conseguir criar uma atmosfera suficientemente claustrofóbica e opressiva, o que, em certos momentos, faz com que os personagens pareçam desinteressados ou pouco afetados pela presença da entidade na casa. No entanto, essa característica apresenta uma dualidade: a proposta de soft horror pode ser vista como um atrativo para aqueles que não apreciam os métodos mais tradicionais e intensos do terror psicológico.

Capitão América: Admirável Mundo Novo

Um retrato atual do MCU

Anthony Mackie
Anthony Mackie


Capitão América: Admirável Mundo Novo é o quarto filme da atual série do herói e o mais recente lançamento dentro do Universo Cinematográfico Marvel (MCU), sendo o 35º da franquia. Esta obra também serve como continuação da série de 2021 The Falcon and the Winter Soldier. Neste filme, Sam Wilson, o antigo Falcão, assume o manto de Capitão América, sucedendo Steve Rogers, e enfrenta o desafio de lidar com o fato de não ter se tornado um super soldado. O enredo também explora o passado do presidente Thaddeus Ross.

Admirável Mundo Novo revela uma Marvel que parece perdida dentro de seu próprio universo. Kevin Feige, produtor e principal arquiteto dessa vasta mitologia desde seus primórdios, parece ter se afastado de sua visão original. Inicialmente, o plano era criar um universo interligado que se estenderia por menos de dez filmes, mas atualmente o MCU já prevê cerca de cinquenta produções, entre filmes e séries, distribuídas ao longo das quarta e quinta
fases da franquia. O que funcionou de forma exemplar até a terceira fase, culminando com Vingadores: Ultimato parece ter perdido seu impacto. Filmes que se propunham a inovar por meio de direções distintas não conseguiram o sucesso esperado, tanto de crítica quanto de público. A introdução de novos personagens, focando em uma maior diversidade e refletindo as demandas sociais contemporâneas, não foi bem recebida pelo público, que continua a preferir os heróis tradicionais e anseia por menos ativismo e mais entretenimento. A tentativa dos estúdios de economizar recursos e expandir o universo através de séries não reconheceu as diferenças
entre os públicos de cinema e de televisão, resultando em produções com qualidade aquém das expectativas. A grandiosidade de Ultimato conferiu uma sensação de conclusão à narrativa, e os filmes subsequentes, com personagens menos conhecidos, não conseguiram cativar o público, gerando uma defasagem que tornou o universo menos atraente e diminuiu o engajamento com suas produções. Em termos técnicos, a qualidade dos efeitos especiais, anteriormente um ponto forte, se tornou alvo de piadas nas redes sociais, o que prejudicou ainda mais a percepção do público. Agora, ao retornar à fórmula tradicional da Marvel, a franquia se vê incapaz de se
desvincular dos problemas que ela mesma criou ao longo do tempo.

É improvável que a Marvel consiga dar continuidade a suas histórias com o mesmo sucesso de antes, especialmente ao seguir com sequências de heróis já consagrados em seu universo. O sucesso parece mais acessível por meio de filmes isolados, com narrativas autossuficientes, como foi o caso de Deadpool vs. Wolverine. Admirável Mundo Novo não oferece uma proposta inovadora. O filme repete a mesma direção e estrutura de roteiros anteriores, com um personagem sem o carisma esperado para assumir o papel de um dos mais icônicos heróis dos quadrinhos, o Capitão América. Além disso, a ausência de um vilão amplamente reconhecido, interessante e bem-motivado, somada a batalhas e lutas pouco inspiradas, contribui para um resultado abaixo das expectativas, tornando-o um dos filmes mais fracos de todo o MCU.

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