Edição: sábado, 03 de maio de 2025

Douglas Moutinho

COLUNISTA

Douglas Moutinho

Pecadores

Interestilismo no Cinema Contemporâneo: A Harmonia de Gêneros

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Ainda nos anos 80, o cinema norte-americano tomou consciência de si mesmo, passando a desenvolver parte de sua filmografia sob a denominação de maneirismo. Essa estética, notadamente utilizada por cineastas como De Palma, Lynch e Greenaway, buscava evidenciar suas escolhas estilísticas e narrativas por meio de uma forma carregada e repleta de referências visuais às suas inspirações.

Após esse período talvez com exceção apenas do cinema de fluxo , os Estados Unidos viveram décadas em que as produções deixaram de se enquadrar em um modelo estético e temático padrão, exportando filmes variados, porém ainda marcados pelo ritmo estadunidense. No entanto, podemos observar certa tendência nos últimos anos, em que cada vez mais filmes transitam entre estilos cinematográficos distintos, ensaiando uma estética que chamarei aqui de interestilística.

Notadamente, vários desses filmes entregam resultados preguiçosos e pouco inspirados, nos quais o único motivo de elogio é a ideia já não tão nova de mesclar estilos distintos. O que dizer, por exemplo, sobre a cena de dança em O Maestro? O ensinamento que nos fica é: o cineasta deve propiciar essa transição e desenvolver uma gramática que torne possível tais mudanças, incorporando elementos de todos os gêneros desejados sem, subitamente, eliminar algum elemento que funcione como condutor da mudança estética.

O resumo do que considero necessário para o bom funcionamento de uma proposta interestilística pode parecer simples. No entanto, decidir e medir os elementos estéticos ligados a gêneros específicos torna-se uma missão que impõe significativa dificuldade aos cineastas, exigindo deles domínio e conhecimentos teóricos ímpares. Essa é a deixa para Ryan Coogler mostrar o seu talento em Pecadores, absolutamente o seu melhor trabalho mesmo em uma filmografia que inclui Pantera Negra e Creed. O sucesso de crítica e de público parecia ser algo inevitável para Coogler, que conseguiu um acordo inédito com o estúdio Warner Bros. Para permitir que o estúdio produzisse seu roteiro, foi acordado, entre outras cláusulas, que o corte final seria do diretor e que, após 25 anos, os direitos do filme passariam para Coogler. Embora acordos semelhantes já tivessem sido realizados por Mel Gibson e Tarantino, foram necessárias brigas judiciais e houve limitações mais explícitas. Esse acordo entre Coogler e a Warner pode ser considerado o início do fim do studio system, modelo de negócios dos estúdios vigente nos Estados Unidos desde a Era de Ouro do cinema, nos anos 30. Esse é mais um ponto de interesse pulsante desse longa, que parece possuir uma importância que vai além do que se passa em tela. Ainda assim, o que se passa na tela é pura magia, pois, assim como o músico “invoca os espíritos do passado e do futuro”, Coogler parece conseguir brincar com o passado e o futuro da sétima arte.

Inserido no Mississippi dos anos 30, o filme conta a história de dois irmãos gêmeos ambos interpretados por Michael B. Jordan com histórico de delinquência, que retornam de Chicago para sua cidade natal e decidem montar um bar centrado na cultura do blues. Mesclando terror de vampiros, gore, filmes de gângsteres, musical, drama e comédia, o filme é um convite à apreciação de uma perfeita sintonia entre esses gêneros. Coogler entrega uma obra que flutua entre o acessível e o cult, oferecendo genuíno entretenimento por meio de uma legítima obra de arte.

Looney Tunes - O Filme: O Dia Que A Terra Explodiu

Explosão Animada: Nostalgia, Caos e Sobrevivência

Foto: Reprodução
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Looney Tunes O Dia em que a Terra Explodiu, dirigido por Pete Browngardt, marca o retorno dos icônicos personagens Patolino e Gaguinho ao cinema em um longa totalmente animado, derivado da série Looney Tunes Cartoons. A proposta do filme é reavivar o legado desses personagens clássicos, equilibrando a nostalgia com elementos contemporâneos. Inspirando-se, em parte, na estética e nas tramas dos filmes trash dos anos 50, 60 e 70, o enredo parte de uma ameaça trivial um possível despejo e rapidamente escala para uma aventura intergaláctica envolvendo alienígenas, zumbis e chicletes.

A narrativa se organiza de forma metalinguística, desenvolvendo-se a partir de um enredo que se desdobra em diversas camadas e situações absurdas características tradicionais do estilo dos Looney Tunes ao mesmo tempo que tenta dialogar com aspectos contemporâneos, embora tais tentativas nem sempre funcionem plenamente.

O coração do filme é a ligação emocional entre os protagonistas, Patolino e Gaguinho. Essa relação sustenta a linha principal da aventura, ainda que não aprofunde os sentimentos ou conflitos entre eles, optando por um tom predominantemente infantil embora, em certos momentos, algumas piadas possam sugerir o contrário. No geral, a proposta permanece leve e acessível, preferindo manter-se fiel ao caos divertido que sempre definiu os personagens.

O ponto mais consistente da produção reside em sua elaboração visual e sonora. A animação impressiona pelo vigor estilístico, com uma abordagem que remete à estética clássica dos Looney Tunes. Na parte musical, a trilha composta amplia os ecos dos desenhos originais, expandindo-os para uma ambiência sonora digna do cinema, que não apenas acompanha as cenas, mas também potencializa o ritmo narrativo e as variações de humor ao longo da trama.

Looney Tunes O Dia em que a Terra Explodiu pode não reinventar os personagens nem oferecer uma guinada radical em sua mitologia, mas entrega uma experiência que honra o espírito anárquico e visualmente extravagante da franquia. Ao unir referências ao passado com pitadas de atualidade, o filme se posiciona mais como uma celebração nostálgica do que como uma renovação ousada. Ainda assim, em meio a um cenário em que a Warner Bros. parece não saber ao certo o que fazer com seus próprios ícones, esta animação surge como um lembrete afetuoso da força duradoura desses personagens e de seu apelo universal mesmo quando o mundo está prestes a explodir.

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