COLUNISTA
Ação, emoção e nostalgia
O oitavo e presumivelmente último capítulo da franquia Missão: Impossível chega aos cinemas com a tarefa ambiciosa de concluir quase três décadas de narrativa centrada em Ethan Hunt, personagem icônico interpretado por Tom Cruise desde 1996. Dirigido por Christopher McQuarrie, o longa se propõe não apenas a entregar uma sequência de ação satisfatória, mas também a oferecer uma despedida emocional e relevante em meio às transformações contemporâneas do cinema.
A trama dá continuidade direta aos eventos do filme anterior, colocando Hunt e sua equipe frente a uma ameaça global representada por uma inteligência artificial chamada "Entidade". A obra se insere de maneira sutil, mas incisiva, em discussões contemporâneas sobre o papel das IAs na sociedade, explorando seus usos, capacidades e implicações éticas questões cada vez mais debatidas, inclusive no próprio meio cinematográfico. Trata-se de um filme de ação que se engaja com seu tempo sem recorrer a didatismos, o que já o qualifica como uma produção digna de atenção.
Um dos pontos fortes é o amadurecimento do protagonista. Ethan surge mais introspectivo, marcado por uma preocupação acentuada com seus companheiros e pelas implicações éticas de suas escolhas. A fidelidade e a amizade ganham destaque na construção dramática, trazendo uma camada emocional antes mais contida. McQuarrie acerta ao explorar essa faceta do personagem, dando a entender que a missão de Hunt, desta vez, vai além do sucesso operacional: trata-se de proteger os vínculos humanos que construiu ao longo de sua jornada.
Essa dimensão mais emocional é acompanhada por um forte sentimento de nostalgia. Elementos do primeiro filme inclusive aqueles que pareciam secundários são retomados e ressignificados, reforçando a ideia de encerramento. Essa homenagem à própria franquia é bem dosada e eficaz, pois evita o apelo excessivo ao fan service e se integra organicamente à narrativa.
Em termos de ritmo, o filme apresenta oscilações. Embora conte com cenas de ação impressionantes nas quais Tom Cruise, como de costume, realiza acrobacias físicas de altíssimo risco , a cadência geral é menos frenética do que em entradas anteriores da série. Isso não compromete a experiência, mas pode frustrar espectadores que esperam um espetáculo contínuo. Ainda assim, as sequências de ação são visualmente impactantes e justificam plenamente a ida ao cinema.
Em suma, Missão: Impossível Acerto Final entrega um desfecho digno e coerente para a saga de Ethan Hunt. O filme oferece uma combinação equilibrada entre espetáculo e emoção, reafirmando o carisma de Tom Cruise e a relevância de seu personagem no imaginário do cinema de ação. Resta saber se este será, de fato, o último ato ou apenas mais uma pausa em uma missão que, até agora, nunca pareceu realmente impossível.
A expansão do universo da morte
Em um cenário cinematográfico saturado por franquias e continuações, a demanda por inovação narrativa se impõe como um dos maiores desafios para roteiristas. Diferentemente dos anos 2000 período em que o público frequentemente aceitava passivamente a repetição de fórmulas narrativas, especialmente no gênero do horror , o espectador contemporâneo parece exigir abordagens mais criativas e coerentes. Hoje, no entanto, esse tipo de repetição tende a ser menos tolerado, o que exige das roteiristas estratégias mais refinadas de reinvenção narrativa.
Nesse contexto, Premonição 6 representa uma tentativa clara de revitalizar uma franquia já conhecida por sua estrutura repetitiva, centrada na inevitabilidade da morte. Embora o apelo visual continue sendo um dos atrativos centrais, esta nova entrada busca um diferencial ao investir na ampliação do universo ficcional da saga.
Premonição sempre se destacou pela engenhosidade com que elementos cotidianos desencadeiam mortes elaboradas, transformando o banal em fonte de tensão. Contudo, o sexto filme da série se propõe a mais: não apenas repetir essa lógica, mas reconfigurá-la. Ao invés de atuar de forma imediata após a ruptura da ordem prevista, a morte, aqui, se volta para indivíduos que sequer deveriam ter nascido filhos de pessoas que escaparam da morte em eventos anteriores. Essa abordagem confere à franquia um novo nível de complexidade e estabelece um elo mais direto entre as consequências do passado e os desdobramentos do presente. Se, por um lado, esse conceito amplia a mitologia da série, por outro, exige uma suspensão de descrença ainda maior por parte do espectador, uma vez que o tema "fuga da morte" não consegue manter total coerência interna.
Apesar de certas fragilidades no roteiro, Premonição 6 demonstra competência em construir um filme que, dentro dos limites do plausível, oferece uma narrativa relativamente coesa. A escolha de alterar o papel do protagonista agora representado por Stefanie, que não tem a premonição original, mas sim um sonho com a visão de sua avó é um recurso criativo que introduz novas camadas emocionais à história. A personagem, ao perceber que a morte persegue sua linhagem familiar, mobiliza uma luta não apenas pela própria sobrevivência, mas pela preservação de suas raízes.
Em termos estéticos, o filme mantém a tradição da série ao apresentar mortes engenhosamente coreografadas, com uso expressivo de efeitos visuais e sonoros. Contudo, o aspecto mais notável desta nova entrada é o aprofundamento do universo ficcional da franquia. Trata-se do capítulo que mais se dedica à expansão conceitual da lógica da morte, conferindo densidade a uma narrativa que até então se estruturava quase exclusivamente em torno de seu aspecto episódico.
Premonição 6 representa uma tentativa relevante de reinvenção dentro de uma franquia marcada pela repetição estrutural. Apesar de tropeços pontuais na verossimilhança e na condução do enredo, trata-se de uma das entradas mais ambiciosas e conceitualmente interessantes da série. Como tal, merece atenção tanto do público quanto da crítica, especialmente no contexto atual em que o esgotamento das fórmulas tradicionais parece exigir, cada vez mais, ousadia criativa.
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