Edição: sábado, 28 de junho de 2025

Douglas Moutinho

COLUNISTA

Douglas Moutinho

Lilo & Stitch

Mais um produto da máquina de nostalgia hollywoodiana


O novo Lilo & Stitch (2025), refilmagem em live-action do clássico animado da Disney de 2002, é mais uma engrenagem na máquina de reciclagem de memórias afetivas que domina o cinema comercial atual. Embalada pela aparência do afeto, a produção não se compromete com nada além da reprodução exata de um enredo já conhecido, com os mesmos diálogos, os mesmos conflitos e as mesmas soluções agora apenas recobertos por uma camada de realismo digital.

Ao contrário do que se poderia esperar de um novo olhar sobre a história da garotinha havaiana e seu alienígena desajustado, o filme parece ter medo de qualquer desvio. Tudo segue milimetricamente o desenho original, como se inovar fosse um risco desnecessário.

Não há qualquer tentativa de transformar a linguagem da animação em algo próprio do live-action. As escolhas visuais, a direção de atores e a trilha sonora soam como simulações não há verdade ou urgência ali, apenas a tentativa de replicar sensações já vividas pelo público. O problema é que sensações não se reproduzem como arquivos. O que antes encantava pelo inusitado e pela expressividade estilizada da animação agora ressurge como uma encenação fria, previsível e sem alma.

Esse tipo de remake não visa ampliar o significado da obra original, mas sim explorá-la até o esgotamento. Não se trata de reimaginar, mas de repetir. Não há curiosidade artística, só a tentativa de transformar cada pedaço da infância do público em produto vendável mais uma vez. É um cinema que serve mais aos algoritmos do que à sensibilidade humana.

É sintomático que esses projetos surjam em série, com prazos apertados e fórmulas replicadas. São filmes que parecem feitos por comitês, não por artistas. A emoção é medida, o roteiro é conhecido, o impacto é calculado. O resultado é uma obra funcional ou seja, incapaz de provocar, sugerir ou expandir o que já se conhece. Apenas serve, apenas entrega.

No caso de Lilo & Stitch, esse esvaziamento é ainda mais triste, porque o original era justamente sobre personagens que não se encaixavam em moldes prontos, que lutavam contra o abandono e buscavam um lugar no mundo. Agora, essas mesmas figuras retornam enlatadas num produto que se recusa a ser diferente. O que era estranho, agora é domesticado. O que era vivo, agora é empacotado.

Ao final da sessão, o sentimento que fica não é o de reencontro, mas o de repetição. Não se trata de homenagem, mas de imobilização. Lilo & Stitch (2025) não nos convida a revisitar uma história querida ele apenas nos lembra que, no cinema de hoje, a repetição virou regra, e a criação, exceção.


Elio

O Sol, o menino e o vazio do cosmos


Elio, o mais novo filme da Pixar, conta a história de um garoto solitário de 11 anos, Elio, que vive em uma instalação militar junto com a sua tia que trabalha em projetos relacionados à exploração espacial. Certo dia, por acidente, ele é transportado para um conselho intergaláctico formado por seres de todo o cosmos uma espécie de assembleia de civilizações alienígenas. Confundido com o representante oficial da Terra, Elio precisa lidar com o desconhecido, tentando encontrar uma maneira de se conectar com aquelas criaturas enquanto busca compreender quem ele realmente é nesse novo mundo. A metáfora é evidente: mais do que um visitante em outro mundo, Elio é um menino tentando entender o próprio lugar no universo.

A narrativa acompanha sua jornada entre planetas e espécies estranhas, com uma estética colorida e surreal, mas sem perder de vista temas emocionais. No centro da história está sua relação com um simpático alienígena e o desafio de representar um planeta que ele mesmo ainda tenta entender.

Com Elio, a Pixar segue apostando em sua fórmula mais recorrente: um protagonista deslocado, uma jornada de amadurecimento, laços afetivos e a inevitável descoberta de que pertencer é mais importante do que parecer forte. A receita, embora já conhecida, ainda funciona mas não empolga como antes. O estúdio, que tantas vezes redefiniu o cinema de animação, parece agora preferir o conforto do que já sabe fazer bem.

Há, sim, momentos de doçura e leveza, especialmente na relação entre Elio e as criaturas alienígenas que encontra. E o filme acerta ao usar o universo cósmico como espelho das inseguranças do protagonista. O detalhe curioso e bastante criativo é o próprio nome Elio, uma referência direta ao Sol (em grego, “Hélios”), corpo celeste em torno do qual tudo orbita. A escolha não é gratuita: Elio é o centro emocional da trama, e seu brilho interior é o que guia a narrativa até o final.

Apesar disso, o roteiro pouco arrisca. Segue passo a passo a estrutura que já vimos em títulos como Divertida Mente ou Luca: o chamado à aventura, o encontro com o “estranho”, o crescimento emocional e a catarse familiar. Essa previsibilidade esvazia o impacto que a história poderia ter. O universo criado é simpático, mas raso. Pouco se explora das culturas alienígenas, dos conflitos políticos ou das particularidades daquele mundo tudo serve apenas de pano de fundo para o drama humano.

Visualmente, Elio entrega o padrão técnico da Pixar, mas sem inovações marcantes. Os cenários são coloridos e os designs alienígenas são criativos, mas nada que se destaque como uma ruptura estética ou narrativa. A animação permanece dentro de parâmetros já bem definidos pelo estúdio: bonita, eficiente, mas conservadora.

No fim, Elio é um filme agradável, com mensagens tocantes e um protagonista fácil de se identificar. Mas também é mais uma prova de que a Pixar, embora ainda competente, tem evitado se desafiar. É um filme que olha para o céu, mas mantém os pés firmemente presos à fórmula.

Edição: sábado, 28 de junho de 2025

Veja também:




• Home
• Expediente
• Contato
 (24) 99993-1390
redacao@diariodepetropolis.com.br
Rua Joaquim Moreira, 106
Centro - Petrópolis
Cep: 25600-000

 Telefones:
(24) 98864-0574 - Administração
(24) 98865-1296 - Comercial
(24) 98864-0573 - Financeiro
(24) 99993-1390 - Redação
(24) 2235-7165 - Geral