COLUNISTA
Com Jurassic World: Recomeço, a franquia Jurassic Park tenta, mais uma vez, retornar às suas origens, buscando resgatar o encanto e o drama que tornaram o primeiro filme um marco do cinema nos anos 90. O roteiro de David Koepp é um dos fatores que pesam a favor deste novo capítulo. No entanto, o filme, embora superior aos dois lançamentos anteriores da franquia, não consegue evitar os tropeços e os erros que têm marcado as produções mais
recentes da série.
Desde o início, Jurassic World: Recomeço recorre a um apelo emocional para justificar a introdução de novos dinossauros, tentando explicar ao público a necessidade de apresentar criaturas mais "monstruosas". Essa abordagem, porém, acaba caindo em um terreno repetitivo e forçado. A ideia de que dinossauros mais ameaçadores ou modificados geneticamente são necessários para manter o interesse do público não é novidade, já que a franquia já explorou essa lógica em filmes anteriores.
Além disso, o filme continua a trazer debates sobre ética, a manipulação da vida e o papel do ser humano como criador. No entanto, esses debates são tratados de maneira superficial, sem a profundidade que o primeiro Jurassic Park ofereceu. O impacto das questões filosóficas levantadas por Ian Malcolm no original, com suas discussões sobre a irreversibilidade da manipulação genética, foi imenso porque estavam enraizadas em dilemas reais e complexos. Em Recomeço, esse tipo de reflexão se torna apenas mais um elemento de fundo, uma parte de um cenário já saturado.
No âmbito científico, uma das cenas mais inusitadas e questionáveis do filme é a sequência que, de forma quase irreal, apresenta um “namoro” entre dois titanossauros. Embora visualmente interessante, a romantização extrema da vida pré-histórica é exagerada e pouco plausível, quase como se os dinossauros fossem personagens de uma fábula.
Outro deslize técnico do filme diz respeito ao uso do termo “titanossauro”. Na paleontologia, titanossauro é um nome que não possui o respaldo científico necessário para ser considerado uma espécie válida, sendo até mesmo um nomen dubium. Ainda no campo das imprecisões, o filme apresenta o quetzalcoatlus como a "maior criatura dos ares", algo que, à primeira vista, pode ser interpretado como um dinossauro. No entanto, o quetzalcoatlus é um pterossauro, uma espécie de réptil voador, e não um dinossauro. Tais discrepâncias científicas, embora não essencial para a trama, soam um tanto desleixadas para um filme que se propõe a trazer dinossauros à vida. Embora livre, a arte é formadora de imaginário, e por isso ela assume por excelência função didática.
Como muitos filmes modernos, Jurassic World: Recomeço se entrega ao fan service. Há cenas e situações que claramente fazem referência ao Jurassic Park original, mas esse tipo de nostalgia, embora eficaz em alguns momentos, começa a ser uma fórmula repetitiva. O que antes parecia uma homenagem, agora soa como uma necessidade da franquia em se reconectar com seu legado. O problema é que, com o tempo, essa dependência da nostalgia acaba enfraquecendo a própria identidade dos filmes, deixando-os mais presos ao passado do que ao futuro que poderiam explorar.
Porém, nem tudo em Jurassic World: Recomeço é criticável. Um dos pontos altos do filme é a representação do mosassauro, que tem uma atuação muito bem executada, garantindo um dos momentos de maior destaque. Outro destaque é a cena da perseguição do tiranossauro no rio, um momento que parece ter sido originalmente idealizado para o primeiro filme da franquia, mas que acabou sendo descartado. Ainda que recorrendo a uma liberdade exagerada, é um ótimo exemplo de como o filme consegue capturar a essência do que funcionou na obra original, mesmo sem ser uma recriação direta.
Em resumo, Jurassic World: Recomeço consegue recuperar parte da essência que consagrou Jurassic Park nos anos 90, apresentando um filme digno, embora ainda distante do clássico de Spielberg. No entanto, ainda peca por suas escolhas superficiais e falhas conceituais, que enfraquecem o impacto de sua narrativa. O sentimentalismo exagerado, o uso impreciso de termos e descobertas científicas e a constante busca por resgatar o passado são elementos que limitam o potencial dessa produção, tornando-a uma experiência com altos e baixos.
Na década de 1990, Sonny Hayes foi o piloto mais promissor da Fórmula 1, até que um acidente quase destruiu sua carreira. Trinta anos depois o proprietário de uma equipe com dificuldades financeiras oferece a Sonny a chance de se juntar ao time e retomar a sua carreira, mas o desafio vai além da velocidade.
Sonny, interpretado por Brad Pitt, é o tipo de personagem que carrega o peso da idade e das experiências passadas, sendo ao mesmo tempo uma antiga promessa das pistas e uma figura que, apesar de tudo, ainda busca a redenção. Pitt consegue transmitir a complexidade desse personagem de forma comovente, misturando a arrogância de um prodígio passado com a vulnerabilidade de alguém que sabe que está lutando contra o tempo.
O grande conflito do filme, no entanto, não é apenas o de Sonny contra o tempo, mas também o embate entre ele e Joshua, um piloto jovem e impetuoso da mesma equipe. Ambos se ameaçam, mas de formas muito distintas. Sonny, com sua história, representa a resistência à mudança. Ele desafia o sistema e a ideia de que os veteranos são descartáveis, ameaçando a visão do automobilismo moderno com sua experiência e paixão pela corrida. Por outro lado, Joshua, o piloto jovem, ameaça a equipe e o esporte com sua prepotência, sua aceitação do sistema e, ao mesmo tempo, com sua levianidade, descompromisso e negligência. Ele se vê ameaçado pelas qualidades do Sonny, percebendo nele características como força de vontade, empenho, personalidade, coragem e dedicação, marcas fortes da geração passada. Esse duplo confronto se torna um dos pontos mais interessantes e bem desenvolvidos do filme. O drama é muito mais do que uma simples disputa por vitórias; ele trata de ambição, identidade e os desafios de quebrar as barreiras da geração, do sistema e das expectativas.
Em termos visuais, F1 é impressionante. As cenas de corrida são intensas e hipnotizantes, principalmente quando a câmera assume a subjetividade, conseguindo transmitir a adrenalina de estar dentro de um carro de Fórmula 1. A cinematografia cria uma experiência imersiva, colocando o espectador no centro das disputas. O design das pistas, as tomadas aéreas e as câmeras dentro dos carros fazem com que cada corrida seja uma experiência sensorial.
A trilha sonora é outro grande trunfo da produção. Ela se mistura perfeitamente com a ação, intensificando os momentos de corridas e os altos e baixos dramáticos. A combinação entre imagem e som cria uma atmosfera ímpar, mantendo o ritmo acelerado e emocionante do filme.
F1 não é apenas sobre corridas; é uma reflexão sobre a superação, a luta contra o tempo e os desafios de se manter relevante em um mundo que sempre olha para a próxima geração. Brad Pitt brilha como o veterano que busca um último suspiro de glória, enquanto o filme explora as tensões entre ele e a nova geração.
Com uma direção destacável, cenas de corrida eletrizantes e uma trilha sonora que eleva a tensão, F1 consegue capturar a essência do esporte e dos dramas humanos que o cercam, entregando uma experiência cinematográfica intensa e emocionante.
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