Edição: domingo, 27 de julho de 2025

Douglas Moutinho

COLUNISTA

Douglas Moutinho

Superman: A Reconstrução de um Ícone na Nova Fase do DCU

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O universo cinematográfico da DC tem sido amplamente reconhecido, tanto pela crítica quanto pelo público, como um empreendimento audiovisual marcado pela desorganização narrativa e pela ausência de coesão estrutural. A escassez de decisões criativas assertivas por parte dos responsáveis resultou em produções apressadas, desconexas e frequentemente redundantes, com múltiplas versões e cortes distintos dos mesmos filmes. Ademais, ocorreram lançamentos de longas-metragens que reuniam personagens centrais "filmes de equipe" sem que muitos destes tivessem sido devidamente apresentados ao público por meio de obras solo. Tais escolhas contribuíram decisivamente para que esse universo fílmico fosse, de forma recorrente, rotulado como um fracasso, sobretudo quando contrastado com o planejamento coeso e progressivo que a Marvel Studios executou até o lançamento de Vingadores: Ultimato.

Ciente da falência quase absoluta de sua primeira tentativa de edificação de um universo cinematográfico consistente, a DC Studios optou por reiniciar por completo seu ambicioso projeto ficcional. Em um gesto deliberado, desconsiderou as obras previamente lançadas e estabeleceu parâmetros estéticos e narrativos mais nítidos e uniformes para as produções futuras.

O marco inaugural dessa nova fase foi a nomeação de James Gunn ao cargo de CEO e presidente da divisão responsável pelas propriedades da DC na Warner Bros., conferindo-lhe protagonismo decisório na condução criativa do recém-reformulado DCU. Além disso, Gunn foi incumbido da direção do primeiro filme dessa nova etapa: Superman. Optar pelo mais emblemático personagem da DC revela a intenção de retomar uma abordagem mais fiel às histórias em quadrinhos originais, tanto em termos narrativos quanto estéticos, resgatando elementos clássicos dos personagens e de seu universo visual.

Com tais diretrizes estabelecidas, chega aos cinemas Superman, primeiro longa-metragem do novo universo. E que auspicioso recomeço. Contrariando a tendência recente do gênero de super-heróis, que tem priorizado abordagens realistas, Gunn abraça uma estética abertamente estilizada, investindo em cores vibrantes, trajes icônicos e penteados que remetem diretamente às representações clássicas dos quadrinhos. O resultado é uma obra que flerta conscientemente com o estilo camp, sem receio de parecer caricatural. Tal estética se evidencia especialmente em personagens coadjuvantes, como Lanterna Verde e Senhor Incrível, embora algumas exceções destoem, como é o caso da Mulher-Gavião, cuja caracterização não manteve o mesmo nível de fidelidade.

Como é característico do gênero, a ação ocupa papel central na obra. No entanto, Gunn consegue equilibrar sequências de combate dinâmicas com doses comedidas de humor e efeitos visuais competentes um aspecto que, infelizmente, tem se tornado cada vez mais raro no cenário atual das superproduções hollywoodianas.

Contudo, o mérito do filme não se limita ao seu valor enquanto espetáculo visual. Há, nele, uma tentativa genuína de articular elementos do passado dos personagens com inquietações contemporâneas. Em uma sociedade na qual as aparências muitas vezes suplantam a essência, até mesmo figuras idealizadas como Superman são atravessadas por dilemas existenciais. Apesar disso, o protagonista permanece inabalável em suas convicções morais. Ele não é moldado pelas adversidades de seu passado nem pela opinião pública que o cerca. Surge, assim, uma interrogação filosófica: somos produtos do meio em que vivemos? Superman representa uma negação categórica dessa hipótese ao manter-se fiel a um código ético absoluto. No cerne de sua figura reside justamente essa ideia: o bem não é uma construção subjetiva ou circunstancial, mas sim um valor universal e atemporal. Por isso, Superman transcende culturas e épocas mesmo que seu universo ficcional não seja, por vezes, o mais sedutor em termos visuais ou narrativos. O maior êxito de James Gunn, portanto, reside em sua capacidade de preservar a essência do personagem, resistindo à tentação de desfigurá-lo em nome de fórmulas mais lucrativas ou palatáveis ao grande público. Superman merecia um filme grandioso no século XXI e esse momento, enfim, chegou.


Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado: Entre o Apelo Nostálgico e a Estagnação Criativa

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A franquia Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado teve sua gênese em 1997, período em que o cinema de horror vivenciava uma fase intensamente marcada por narrativas centradas em personagens adolescentes, onde o elemento do mistério especialmente a identidade oculta do assassino assumia papel central tanto para os protagonistas quanto para o espectador. Essa estrutura narrativa, fortemente influenciada pela atmosfera de tensão e paranoia, consolidou-se como característica distintiva do subgênero slasher nos anos 1990.

Assim como diversas obras lançadas na esteira do sucesso de Pânico, produção esta que de fato reconfigurou os paradigmas do horror ao propor uma metalinguagem crítica e autoconsciente, Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado emergiu mais como uma derivação comercial do que como uma proposta inovadora. Embora tenha alcançado sucesso expressivo em seu lançamento original, a franquia não conseguiu sustentar sua relevância ao longo dos anos, sendo posteriormente marcada por continuações de qualidade questionável e que contribuíram para o esvaziamento de seu potencial criativo.

No entanto, o recente renascimento do gênero por meio das novas entradas da franquia Pânico notadamente os capítulos lançados em 2022 e 2023 parece ter reaberto espaço para um resgate estratégico de propriedades intelectuais adormecidas. Neste contexto, Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado ressurge, ainda que de forma tímida e pouco ousada, tentando captar a atenção de um público dividido entre a nostalgia e a demanda por inovação.

A nova entrada da franquia apresenta-se como uma continuação direta do primeiro ou possivelmente do segundo filme, embora o roteiro não forneça informações suficientemente claras que consolidem sua linha temporal. Personagens icônicos como Julie, Ray e até mesmo Helen (em uma aparição inesperada e ambígua) são reintroduzidos, enquanto um novo grupo de jovens é colocado no centro da narrativa ao repetir o elemento fundacional da série: um acidente encoberto e, posteriormente, ameaças anônimas que sinalizam o retorno de uma figura vingativa.

Ainda que a estrutura narrativa se sustente em moldes clássicos o que lhe confere certo charme retrô , o enredo peca por sua previsibilidade, o que reduz significativamente a eficácia do suspense, um dos pilares do gênero. A ausência de riscos mais contundentes no tratamento dos personagens seja no desenvolvimento psicológico, seja na violência gráfica, elemento central ao slasher compromete parte da tensão e da catarse visual esperada. A própria cena inicial, que deveria estabelecer a atmosfera de ameaça, é atenuada por escolhas narrativas que suavizam a gravidade do incidente e, por consequência, enfraquecem as motivações do antagonista.

Embora existam momentos pontualmente bem executados, sobretudo aqueles que envolvem a atuação de Jennifer Love Hewitt, o filme como um todo revela-se preso à fórmula consagrada, sem a criatividade necessária para atualizá-la de maneira eficaz. A presença de personagens clássicos funciona mais como um artifício de apelo emocional do que como elemento narrativo plenamente justificado, enquanto as novas adições ao elenco carecem de carisma e profundidade.

No balanço final, o que se observa é uma obra que se ancora na memória afetiva do público, mas que não se sustenta enquanto produto autônomo. A produção oferece o mínimo necessário para entreter momentaneamente, mas carece de densidade, frescor estético e ousadia conceitual. Se por um lado a nostalgia serve como vetor de resgate, por outro, revela-se também como uma prisão criativa um limite evidente para franquias que, ao invés de se reinventarem, apenas se repetem.

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