COLUNISTA
A Prefeitura e a Comdep rasparam o caixa nos últimos dias e pagaram R$ 6 milhões referentes a faturas de três empresas pertencentes ao mesmo grupo. As beneficiárias são a Limpar, a AMI3 e Posto Enzo esta última é fornecedora de combustível. São pagamentos ligados ao sofrível para dizer o mínimo serviço de coleta e destinação final do lixo de Petrópolis. A Limpar aluga para a Comdep os caminhões e máquinas utilizados na retirada de entulho e restos de poda e capina. Como no caso do lixo, a cidade é uma grande vitrine da ineficiência do trabalho mal realizado também neste setor. A AMI3 é a responsável pela locação de caminhões compactadores para a coleta de lixo. Ontem à tarde, houve intervenção direta da Prefeitura na empresa. Contra a maioria do Conselho de Administração, o governo queria que a Comdep reconhecesse dívidas com a AMI3, referentes a serviços que teriam sido prestados em 2022 e 2023, com base em decreto de calamidade pública que vigorou na época. Esses valores estão em volta de R$ 7 milhões. No caso dos pagamentos preferenciais às empresas ligadas à AMI 3, também houve rebelião da diretoria da Caempe, mas voz mais forte veio do Gabinete e o dinheiro foi concentrado nesse pagamento. A intenção dos diretores era dividir o que se conseguisse de dinheiro para o maior número de empresas possível. Não funcionou. E essa insatisfação dos diretores foi registrada em ata.
O grupo do prefeito eleito Hingo Hammes, que toma posse amanhã, ressalta que a intenção é “colocar a Comdep nos eixos”, o que significa dizer administrá-la com austeridade. Para fazer isso, a futura presidente precisará mexer nesse emaranhado que envolve limpeza urbana. E não será tarefa fácil mudar as coisas. Para começar, a AMI3 é contratada para colocar à disposição da Comdep 42 caminhões coletores, 21 durante o dia e 21 à noite, mas, dizem até mesmo funcionários categorizados da empresa, nos melhores dias, apenas metade desses caminhões está em atividade, embora pagamentos continuem a ser feitos. Fatos como esse e os relatados sobre pagamentos e confissões de dívida de última hora são inaceitáveis. Esse tipo de coisa abre margem para dúvidas e suspeitas fundadas. E o dinheiro, sempre é bom lembrar, pertence à sociedade petropolitana e não a prefeitos e outros poderosos de plantão no poder municipal.
Para começar a sanear o setor, a Comdep teria de providenciar uma licitação em apenas 11 dias da nova administração, porque a contrato com a AMI3 vence no dia 11 de janeiro. O prazo é insuficiente. E isso pode levar a prorrogações emergenciais do contrato hoje existente. Seria mais do mesmo. A esperança é que os administradores que assumem amanhã já estejam trabalhando, nos últimos meses, na substituição desse grupo empresarial, atraindo outras empresas do setor e mudando as regras de atuação e reativando a fiscalização sobre o serviço prestado.
O grupo empresarial contratado para os serviços do lixo tem um outro grande contrato com a Prefeitura, para contratação de pessoal da Secretaria de Educação. Esse contrato, com a empresa Capital Ambiental, foi renovado, antes de vencer, por mais um ano. O valor passou dos R$ 44 milhões iniciais para R$ 102 milhões agora, e foi prorrogado por mais um ano. A ampliação desse contrato mostra que a empresa não está disposta a deixar Petrópolis. Será um processo difícil para a Prefeitura o ajuste em questões ligadas a setores importantíssimos, como educação e limpeza pública. Uma das tarefas será separar quem efetivamente trabalha de cabos eleitorais contratados. E verificar de quem as empresas contratadas sublocam veículos e equipamentos. A luz do sol fará bem à Comdep, à Prefeitura e a Petrópolis.
A cidade espera que o novo governo promova muitas mudanças. Uma delas diz respeito ao controle das finanças municipais. Não é possível mais viver em meio a sobressaltos causados por gestão irresponsável de recursos públicos, com servidores ameaçados de não receber seus salários, prestadores de serviços interrompendo atividades por conta de inadimplência do município. Foi isso que o eleitor petropolitano decidiu em outubro.
O prefeito eleito Hingo Hammes aniversariou ontem. Dizem os amigos que trabalhou sem parar. As pilhas de problemas que vai receber, a partir de amanhã, não deixaram alternativas. E, ainda ontem, cuidava de concluir a formação do primeiro escalão do governo. O vice-prefeito eleito Albano Baninho Filho, que passou uns dias em Cabo Frio, se preparando para a maratona governamental, estava de volta às atividades ontem. Será secretário municipal de Meio Ambiente.
É possível que alguns secretários do novo governo só sejam oficialmente indicados amanhã, depois da cerimônia de transmissão do cargo de prefeito, no Palácio Koeler. Isso se deve mais ao estilo de Hingo Hammes do que a problemas. Mas, há problemas também. É grande o leque de partidos que levou Hingo à vitória eleitoral. Há, portanto, muito a conversar. O núcleo mais importante do governo, no entanto, está formado.