COLUNISTA
Quando jovem, meus primeiros passos iniciaram-se nos escritórios: Dorothea Monteiro do Nascimento e Mário Barbosa: Barbosa Seguros, Contador Djair Corrêa, e, também, na Loja Útil Ltda. de propriedade do casal Georgino Salustiano da Silva e Neuza Reis Salustiano da Silva, em Três Rios.
Vez por outra, no Fórum daquela Comarca, município de meu nascimento e residência, eu cumpria tarefas de reconhecimento de firmas no Cartório e escrivania dos Tabeliães e Serventuários de Justiça Margarida Maria Barbosa Ribas e Taytson de Toledo Ribas cujo Templo dedicado a Themis leva o nome da tradicional descendência.
E lia no mural as sábias palavras de Dona Margarida, de cuja família me tornei amigo e até hoje privo desse benquerer.
“A ingratidão é a prova de que se fez algum bem”.
O jovem à época absorvia aqueles ensinamentos e percebia a profundidade das palavras ali inscritas.
Hoje, decorridos sessenta anos, relembro as palavras da filósofa, contadora, tabeliã, notária, serventuária, mestra, mãe, pensadora e modelar criatura.
Rememoro o apostolado da ilustre trirriense que deu a mão a tantos, formou e instruiu uma senda de moços dos diversos matizes.
Com orgulho meu colega de escritório Célio Barbosa foi seu estagiário.
Aprendeu e aprimorou, sobretudo, nas esferas processual e ético-moral!
O lexicografo Houaiss em síntese define a ingratidão como sendo “a qualidade ou ação de quem é ingrato, falta de gratidão e de reconhecimento.
É aquele que não aprecia e não reconhece o bem que lhe foi prestado.”
E neste mesmo diapasão lembro-me da palavra inveja quesito que o mesmo professor define como “sentimento que se mistura ao ódio e ao desgosto e é provocado pela felicidade e prosperidade de outrem.
É um desejo incontido e irrefreável de possuir, gozar em caráter exclusivo o que é possuído pela outra pessoa”.
Claro que isso entristece, embora saiba que não devem causar preocupações ou perdas de noites de sono.
Palavras desprezíveis: inveja e ingratidão.
Diz-se têm a ver com o ciúme.
E ele é interpretado de vários ângulos: não é saudável.
São na verdade pura falta de reconhecimento.
Jesus Cristo disse no alto da cruz: “Pai, perdoe-os, eles não sabem o que fazem!”
É preciso caminhar e insistir em fazer o bem ainda que esteja sujeito a essas intempéries e evitar ficar ressentido.
O importante é ser feliz.
Quanto mais se importar com isso a sensação de tristeza tomará conta da atmosfera.
Se agir tomado pela inveja ou ingratidão se vê limitado.
Sejamos positivos e se for da vontade do Pai e da Mãe dos Céus o contrário um dia verá que era esse o plano celestial: sofrer por haver praticado o bem.
Nós não seremos abandonados.
Ainda que não nos apercebamos disso.
É preciso serenidade nesse momento e lembrar São Francisco que nos diz que devemos levar o amor onde houver o ódio, a alegria onde pairar a tristeza, a luz onde houver treva, dar sem esperar retorno...
Não permitamos que a mágoa, o desprezo pelas atitudes do semelhante, a fraqueza e o rancor nos domine, afinal, são sentimentos que não somarão em nada em prol da paz.
Ao constatá-los deles tomaremos conhecimento, mas, nunca os façamos de receptáculo para nossos corações. Gratidão é reconhecimento refletem em nosso interior.
É um estado de graça para quem a pratique e para aquele que por ela for alvejado. Ela nos faz cativos pela luz dela emanada.
Não é uma escravidão no sentido menor e nem poderia ser.
Ela envolve o coração. Graça e agradecer fazem parte da mesma raiz.
Para atingi-las devemos nos despir do egocentrismo, do individualismo e da egolatria.
Como é bom “... encontrarmos os belos valores do mundo”.
Sábias palavras do poeta indiano kabir das Gupta.
Lembro-me de uma historinha, tempos de infância, escrita pelos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm onde se lê num dos trechos que a rainha má e invejosa matou a Branca de Neve só porque ela não se conformava de ser feia e a jovem era linda e suave...
A inveja e a ingratidão fazem lembrar o conto da cobra venenosa.
Esse animal peçonhento poderia bem se chamar inveja, ingratidão, recalque ou até despeito.
Arma ciladas cria obstáculos e tenta destruir a boa fé de seu semelhante.
Ele habita no invejoso, traidor, dissimulado e arrogante.
Idêntico ao lobo com pele de ovelha. Dissimula.
Chega oferece, interpreta papel de magnânimo e nem sempre é o que traduz o seu coração. Caráter pérfido.
No momento em que se vê “dono da situação” ataca e agride.
Sai sem deixar marcas na areia. É sorrateiro.
Ao concluir mais que oportuna a fábula do vaga-lume. Não conheço o seu autor, mas, é de extrema sabedoria.
O vaga-lume não entendia o porquê de ser perseguido pela cobra venenosa e um dia teve a coragem de pergunta-la: “se eu não faço parte de sua cadeia alimentar, por que deseja me matar?”
Aí ela respondeu: “é porque não suporto seu brilho”. Quis dizer que sua luz a incomodava...
Creio que esse vaga - lume possuísse inteligência superior, evidência social e comunitária, cultura, competência, dotes espirituais e ela não.
A tal serpente por não possuir dignidade, credibilidade nem o reconhecimento público notório tentou, no entanto, não conseguiu abater o pequeno animal porque ele tem asas e misturou-se às estrelas e aos anjos no imenso infinito enquanto ela continuou a rastejar em meio ao pó do deserto por ela construído.
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