COLUNISTA
No dia 5 de novembro de 2001, uma segunda-feira aparentemente comum, a notícia da morte do Desembargador Felisberto Monteiro Ribeiro Neto surpreendeu e abalou colegas e amigos.
Homem íntegro, reto, speculum da equidade, “agora não inveja mais os passarinhos”.
Transformara-se em Anjo alado e rumara aos braços do Criador.
Figura de integridade e retidão, foi lembrado como exemplo de equidade, humanidade e fé.
Memória viva, sua partida foi interpretada como retorno ao Criador, sob a proteção da Virgem Maria.
Como afirmou Calamandrei, a justiça só se revela a quem nela crê, e Felisberto foi testemunha fiel dessa máxima.
E ninguém melhor para traduzir este enunciado ao exemplificar dentre as joias reluzentes de nossa Constelação de ilustres a resplandecerem terra e céu.
Nascido em 12 de fevereiro de 1917, em Miracema, na Fazenda São José, era o 14º filho de Arthur e Maria José.
Criado em lar simples, mas profundamente cristão, recebeu sólida formação.
Aos nove anos, ainda analfabeto, foi internado em colégio da cidade e, aos 21, diplomou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito de Niterói.
Desde cedo destacou-se pela inteligência, dedicação aos estudos e amor às letras, valores que guiariam seu percurso existencial.
Na escola foi aluno aplicado aos estudos, sempre aprovado com boas notas. Granjeou o gosto pelas letras, que lhe iluminaram o caminho durante toda a vida.
Advogou por treze anos, lecionou no ensino médio e superior e dedicou 37 anos à magistratura, aposentando-se antes do limite de idade.
Em todas as funções, manteve firme compromisso com a licitude e a cultura. Atuou em Petrópolis por sete anos como juiz titular da 1ª Vara Cível, conquistando respeito de advogados, promotores, defensores, servidores e jurisdicionados.
Sua trajetória, marcada por esforço e disciplina, demonstrou que, mesmo partindo de origens humildes, alcançou êxito por mérito próprio, sem depender de favorecimentos.
Dedicou todo o seu ciclo profissional trabalhando em prol do notável saber, ou mais especificamente, das letras humanitárias e jurídicas.
Exerceu duas das funções mais nobres no universo social: o magistério e a magistratura.
Foi agraciado com diversas honrarias: Medalha do Mérito Judiciário, título de miracemense ausente nº 1, membro efetivo da Academia Petropolitana e da Academia Friburguense de Letras, membro honorário da Academia Petropolitana de Letras Jurídicas, 1º Vice-Presidente do Tribunal de Justiça do RJ, integrante de bancas de concurso, além da Medalha Köeler, a mais alta condecoração do Município.
Sua imagem em bronze está no Fórum de Petrópolis, que leva seu nome, triunfo esse logrado ante os relevantes serviços prestados à judicatura fluminense, idêntica homenagem lhe foi concedida pela cidade de Miracema, símbolo do reconhecimento de sua terra natal.
Foi também professor titular de Direito Processual Civil na Universidade Católica de Petrópolis.
Com trabalho e esforço fortaleceu a têmpera de seu caráter, educou o espírito, aprendeu a viver e soube estimar o valor da conquista.
com Lygia Maria Boechat Ribeiro, mulher de virtudes raras, teve quatro filhas: Marília, Maria Ignês, Lygia e Maria José, todas professoras e casadas com engenheiros, que lhe deram dez netos dedicados e motivo de orgulho.
A união com Lygia foi marcada por amor e fé, e ambos, já falecidos, são lembrados como exemplo de afetuosidade e espiritualidade.
Em particular, distinguiu-se pelo culto e dedicação à família e aos companheiros, católico fervoroso, participava semanalmente da Santa Missa, não faltando, outrossim, nas datas comemorativas.
Congregado da Ordem de São Francisco de Assis, trabalhava em silêncio como bom fiel, contribuindo, por meio de auxílio financeiro, para minimizar os infortúnios daqueles que necessitavam.
Residindo em Petrópolis desde que se tornou juiz da comarca, Felisberto destacou-se também como homem de sensibilidade, cavalheirismo e elegância. Sua presença deixou marcas profundas no período intelectual, sapiencial e jurídica da cidade.
Admirado como mestre, amigo e conselheiro, permanece na memória de todos aqueles que compartilharam de sua convivência.
Há um rastro de luz por onde passou, fiel à máxima paulina: “Bonum certamen certavi; fidem servavi; cursum consumavi - combati o bom combate, cumpri meu dever, conservei a fé”.
Veja também: