Edição anterior (3713):
domingo, 22 de dezembro de 2024


Capa 3713
Frederico Amaro Haack

COLUNISTA

Frederico Amaro Haack

UM CONTO DE NATAL EM PETRÓPOLIS

Acredito esse seja um dos únicos contos natalinos em nossa cidade, escrito pelo saudoso José Kopke Froés, nada mais justo do que compartilhar com os amigos leitores essa estória, que se passa no período imperial em Petrópolis, no local onde hoje se encontrada erguida a Catedral São Pedro de Alcântara.

”O Curupira, segundo a crença popular, é o pequeno tapuio que tem os pés voltados para trás, isto é o calcanhar é voltado para a frente e os dedos para atrás.

Mora nas matas e é o espírito protetor das florestas, punindo quem desmata as árvores com a pena de se perderam na floresta não encontrando mais o caminho de volta.

Mas Curupira sempre foi um mau guarda matas em Petrópolis.

A devastação das matas petropolitanas começou com os índios coroados que aqui viviam antes dos portugueses chegarem, continuou com os colonos e aumentou com os atuais moradores da cidade, constituindo uma verdadeira calamidade.

Hoje em dia a impressão é que as árvores são as inimigas número um do petropolitano, tamanha é a devastação que as matas sofrem.

Agora, pouco nos resta dos cinturões verdes que ornavam e protegiam nos vales. E das alegres paineiras, dos grandes cedros, dos elegantes pinheiros, dos majestosos carvalhos e das sapucaieiras que davam tanta vida as nossas avenidas, pouca lembrança há delas.

- Curupira, curupira!... onde aonde o senhor está?!

Mas que o pequeno tapuio andou por aqui, tenho certeza, que andou.

Dona Catarina e dona Mina, de famílias tradicionais petropolitanas, contavam antigamente, uma aventura com o Curupira vivida por elas quando jovens.

Faz muitos anos. Era Véspera de Natal e lares de duas famílias de colonos que moravam na antiga rua Westphália, atual Avenida Barão do Rio Branco, não havia árvore para armar na sala de visitas. Que fazer?

Naquele tempo os rios da cidade já tinham sido canalizados, mas as árvores plantadas às margens eram pequenas. Destacavam-se os pinheiros que muito viçosos cresciam desde a rua dos Toneleiros (Rua Caldas Viana) até a rua D. Maria II.

Já eram nove horas da noite da Véspera de Natal. Mina, a mais esperta, teve uma ideia.

- Catarina, vamos até a rua D. Maria II e ali encontraremos o que precisamos!

Catarina, embora apreensiva, deixou-se seduzir. Pegaram uma machadinha e foram rua a fora, atrás dos pinheiros.

Tinha chovido muito e caminhos estavam todos enlamaçados e escorregadios o que constituía sério problema para os tamancos que as duas meninas usavam.

A ideia, se bem resolvida a última hora, estava bem delineada. Cortadas as pontas de dois pinheiros seriam elas envolvidas em um lençol e colocadas em um tabuleiro, que levam consigo. Pareceriam trouxas de roupa e poderiam ser levadas para a casa sem problemas.

Chegadas à Rua D. Maria II, no momento exato que iam cortar as pontas dos pinheiros, ambas nervosas, apareceu um transeunte. Pararam, disfarçaram e foram adiante. No pinheiro seguinte, a mesma coisa aconteceu e depois, cada vez mais nervosas, sempre que paravam, ouviam vozes ou passos por perto.

De pinheiro em pinheiro, tinham percorrido, em vão a rua D. Maria II, no momento e da Imperatriz e se encontravam em plena Rua do Imperador, onde o movimento as deixou mais nervosas.

Voltaram então para a Rua da Imperatriz e bem, em frente a antiga Matriz, atual rua Oscar Weinschenck, conseguiram achar um jeito de cortar um pequeno pinheiro. Rápidas enrolaram o pedaço da árvores como tinham planejado, no lençol e revezando iam elas com o tabuleiro nas cabeças.

- Agora vamos pegar o seu disse, Mina, à companheira.

Catarina, já cansada da longa caminhada e de tanto susto, pediu que voltassem logo para as suas casas, pois já era tarde e perto de sua casa tinha um pinheiro alto, o qual poderiam cortar um galho.

Estavam as duas no fim da rua D. Maria II, esquina rua D. Afonso, atual Avenida Koeler, junto ao primeiro pinheiro que na ida haviam tentado cortar.

Bem que Catarina ainda resistiu para que fossem embora, deixando o arbusto em paz. Mina, teimosa, pegou a machadinha e cortou o lindo pinheiro...

Eis que, no entanto, exatamente no momento que Mina corta o pinheirinho sai do Morro da Igreja, latindo furiosamente, um enorme cão, que parte para cima das duas jovens fazendo as correr desesperadamente pela rua.

Já na rua dos Protestante, atual 13 de Maio, se refazendo do susto e da corrida. Mina e Catarina abraçadas e chorando, diziam que era o Curupira, o ataque do cachorro raivoso.

De fato, ninguém sabia da existência do cão naquele local, assim como, depois do ocorrido nenhuma notícia mais apareceu dele. Portanto, seu aparecimento naquela noite deve ter sido realmente obra do Curupira.

Era quase meia-noite, quando as duas mocinhas, molhadas até os ossos, sujas de lama, descalças e completamente exaustas, voltaram para suas casas. Se arrependimento matasse, teriam morrido naquele momento...

Voltaram sem as árvores e o mais grave sem o tabuleiro, o lenço e os tamancos perdidos na correria!...”

Um feliz Natal a todos!

Edição anterior (3713):
domingo, 22 de dezembro de 2024


Capa 3713

Veja também:




• Home
• Expediente
• Contato
 (24) 99993-1390
redacao@diariodepetropolis.com.br
Rua Joaquim Moreira, 106
Centro - Petrópolis
Cep: 25600-000

 Telefones:
(24) 98864-0574 - Administração
(24) 98865-1296 - Comercial
(24) 98864-0573 - Financeiro
(24) 99993-1390 - Redação
(24) 2235-7165 - Geral