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segunda-feira, 06 de janeiro de 2025


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Frederico Amaro Haack

COLUNISTA

Frederico Amaro Haack

“BOAS SAÍDAS E BOAS ENTRADAS”

Homens, vestidos de roupa de brim com muita goma, vinham para a rua, com suas lanternas devido à falta de iluminação, esperar o fim do ano velho e o início do ano novo.

Pessoas de destaque social, trajando sobrecasacas, calças de brim branco e sapatos de verniz, fabricados pelos sapateiros Miguel Kind, Nicolau Hees e Casqueiro, também apareciam e ficavam conversando nos bancos do Hotel Bragança, onde o Campos, o mais liberal dos hoteleiros festejava também o acontecimento oferecendo refrescos e guloseimas às visitas.

Em quase todas as casas térreas, senhoras conversavam na janela, contando cada qual a quantidade de doces de laranja da terra que tinham feito e quantos leitões e perus tinham sacrificado.

- Um trabalhão, vizinha; há quinze dias que não sei o que seja dormir sossegada!

- E eu então, D. Candinha. Tive de fazer roupa nova para as crianças e umas roupas para seu Manoel, que não se ajeita com os alfaiates, principalmente com seu Loureiro, que leva seis meses para acabar o feitio.

E a conversa só acabava quando a criada vinha avisar que o doce estava pegando no fundo do tacho.

As casas mais abastadas ficavam cheias de parentes e conhecidos chegados e amigos da cidade, e ao mesmo tempo pagar a fineza da ida às fazendas em véspera de São João.

A noite realizava-se uma deliciosa ceia, na qual o leitão assado era a peça principal, apresentado em frigideira de barro, com os dentes arreganhados e um ovo saindo do outro lado da cabeça, e rodelas de limão enfeitando o todo o corpo.

Depois da ceia, principiavam as danças, enquanto a dona da casa resignava com as mucamas para recompor de novo a mesa, com os saborosos doces fabricados em casa.

Quando o sino da matriz colocado ainda ao lado da igreja, pela falta da torre que o capitão Castro não havia ainda construído, batia a última badalada da meia noite impulsionado pelo sacristão Fernandes, estourava a alegria por toda casa e até dona Gertrudes aparecia na sala, ainda de avental para dar as Boas Saídas e as Melhores Entradas e abraçar pela primeira vez naquele ano sr. Felisberto, seu companheiro de infortúnios e alegrias de meio século.

O baile chegava ao auge quando os galos começavam a cantar.

Sr. Bessa, o mestre sala dava o sinal para a última quadrilha marcada que quase sempre acabava no Caminho da Roça que seguia até a esquina da rua e já com dia claro.

Pela manhã as bandas de músicas dos irmãos Eckhardt e do escrivão Schaefer saiam tocando pelas ruas e paravam em frente as casas de Ignácio Papae e Augusto Rocha, Comendador Paulino Afonso, Major Emílio da Veiga, Bartolomeu Sudré, professor Taborda de Bulhões, Coronel Baptista da Silva, Major Kopke, Paixão, Queiroga, Cornélio dos Santos, Thomaz da Porciúncula, Kallemback, Land, Carpenter, Calógeras, Rocha Cardoso e muitos outros que seria difícil enumerar. O Eleutério, um oficial de justiça, que nas horas vagas era cozinheiro, publicava no “Mercantil”:

“Hoje dia de Anno Bom, às 8 horas da manhã haverá um inimitável e confortável angu em casa do patusco Eleutério José Garcia. A rapaziada de Petrópolis não será surda a tão amável convite”.

As autoridades recebiam presentes, principalmente o “seu” Vigário, o delegado de polícia e o fiscal da Câmara, “seu” Janiques, velho político que tinha vindo de “Mangé”, dizia ele. Pessoas respeitáveis e sobretudo respeitadas.

Os negociantes presenteavam gentilmente os fregueses principalmente os de “Seccos e Molhados” e os das Padarias, contando com a gratidão deles, e poderem assim reaver durante o ano o dobro do que despendiam em um dia.

Sobressaiam nessa distribuição de gratidão, o João Maduro, o Mesquita, o Azevedo e o Vitorino dos Chorões dos Secos e Molhados, e os padeiros Pedro Caheins, da rua do Imperador e o Venâncio, da rua D. Januária.

O Vasconcellos da fábrica de charutos e cigarros “Águia”, logo pela manhã oferecia a seu vizinho o tabelião João Cordeiro de Carvalho os melhores charutos fabricados para esse fim.

Todos usavam nesse dia roupa e chapéus novos, comprados no “Anjo da Meia Noite”, de João José Dias, e no armarinho do Ernesto Olive.

E quem não arranjava roupa nova, não saia de casa. Era vergonhoso. Os mais orgulhosos fingiam doença para não aparecer em público com roupa de todo ano.

Era também comum nesses tempos presentear os amigos e cada passo encontrar garotos carregando, ora um peru com lacinhos nas asas ora um leitão com laço no pescoço. Eram presentes. E quem não tinha nada para dar, dava “Boas Saídas e Boas Entradas”.

Adaptado de José Kopke Froés

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