Edição: sábado, 01 de fevereiro de 2025

Frederico Amaro Haack

COLUNISTA

Frederico Amaro Haack

PRAÇA DOM PEDRO - FINAL

Em 26 de março de 1945, à noite, a Praça D. Pedro transformou-seem um grande lago, de ambos os lados; a estátua de D. Pedro II quase submergiu e o Theatro Dom Pedro alagado, o mais alto nível de água de todos os tempos na praça. Além dos prejuízos dos comerciantes, os jardins foram arrasados. No dia 6 de maio de 1945, nova concentração na praça, desta fez pela paz, e o fim da Segunda Guerra Mundial.

No lado da praça vizinha aos jardins do Museu Imperial foi inaugurado, em 1º de janeiro de 1947, no ex-Edifício D’Angelo, o Hotel Dom Pedro, com um restaurante no térreo. Dizia a “Tribuna” neste dia: “Será inaugurado hoje, às 20 horas, o Hotel D. Pedro, novo estabelecimento destinado a corresponder às necessidades hoteleiras da cidade, que já se ressentia da falta de um hotel como o que será inaugurado hoje”. Do mesmo lado inaugura-se, em 16 de março do mesmo ano, o Monumento aos Expedicionários Petropolitanos, no justo local onde houve o lago e sua ilha, já há algum tempo assoreado e abandonado. Este lado da praça tornou-se conhecido desde então como “Praça dos Expedicionários”, denominação jamais oficializada.

Com a construção do Edifício Arcádia e sua galeria, as praças têm então os contornos definidos até hoje. O lado onde se encontra a estátua de D. Pedro II torna-se bem mais movimentado. À Casa D’Angelo, que se popularizou como o passar dos tempos, juntam-se os bares do Arcádia, como os já finados Bolero Bar e Rosa Vermelha. Outros houve, de menor tradição e vida fugaz, redutos da boemia petropolitana desde a década de 1950 até ao alvorecer do século XXI.

O Edifício Arcádia teve vida agitada desde sua inauguração, alguns fatos são mais relevantes, como o ocorrido em 27 de julho de 1955, que ficou conhecido com: “o crime do Arcádia”. Em torno das 23 horas deste dia, O Sr. Antônio Bondean discutiu com seu irmão, Fernando, a respeito de acidente com um caminhão. Em dado momento Antônio, furioso, sacou e uma arma, e atirou contra Fernando com quatro tiros, na entrada da galeria, entre o “Bolero” e o “Rosa Vermelha”. A 10 de agosto de 1957, a Srª Sarah Edinaff, de 72 anos, se jogou da janela do apartamento 1.203, às 19 horas, caindo sobre o automóvel placa 2.73.92; o motivo aparente do suicídio seria a convocação de um neto da Srª Edinaff pelo Exército, para servir no contingente da ONU em Suez: as lembranças da Guerra na Europa, que havia vivido intensamente, lhe foram fatais.

Entre as lendas do Edifício Arcádia estão os boatos - ou fatos não comprovados - de minicassinos e o “Clube da Chave”, situações que línguas maledicentes, talvez pela novidade de um prédio, arranha-céu para esta época, no imaginário petropolitano. Outros fatos, brigas e confusões, tornam-se freqüentes na galeria do edifício, até que por esses motivos, na década de 1970 a região passa a ser conhecida por “A Lama”.

Na década de 1960 a praça serviu, novamente, de palco de disputas e manifestações políticas, até que a revolução de 31 de março de 1964 as aboliu, isto é, as que são de oposição, pois a favoram permitidas. Quando as tropas mineiras, que haviam tomado o antigo Estado da Guanabara regressavam a Minas Gerais, em 7 de abril de 1964, o general Antônio Murici e alguma tropa, passam pelo centro de Petrópolis, detendo-se na Praça D. Pedro II, onde foram homenageadas. Grande número de estudantes, que haviam sido liberados das aulas, compareceu, voluntariamente; também presentes as senhoras que haviam liderado na cidade caravanas para a “Marcha da Família Com Deus Pela Democracia”, no Rio de Janeiro, realizada a 2 do mesmo mês. Discursou, no coreto de tantas lutas, em nome de todas a Srª Ana Maria Dirickson, que também ofereceu ao general um Pavilhão Nacional, ricamentebordado por elas. Alguns dias depois, estudantes universitários fizeram uma manifestação de apoio ao governo revolucionário, na praça, quando vem caminhando pela então Avenida 7 de Setembro o popular “Papa-Ovo”, trajando sua indefectível capa de chuva e chapéu de abas largas. De repente, alguém grita sua alcunha, e ele, possesso, reage atirando pedras, correndo atrás de todos os manifestantes: não foi preso ou acusado de subversivo.

Na galeria do Arcádia, em 1988, poucos dias depois da catástrofe climática de 5 de fevereiro, o então frei Leonardo Boff, sobe sobre o teto da banca de jornais, ali existente e discursa, violentamente, contra a administração municipal, que vem ajudando muito mal aos desabrigados. Corre o boato de que os manifestantes, liderados pelo frei, invadiriam o prédio do Centro de Cultura, na Praça Visconde de Mauá, onde se estocavam as doações para os desabrigados pela tragédia. Uma grande força policial foi deslocada para a proteção do prédio, porém os manifestantes saíram em ordem, caminhando pela Rua da Imperatriz, acenando aos policiais.

No outro lado, na outra praça, o Theatro D. Pedro tornou-se Municipal e o Hotel e Restaurante, um conjunto comercial. Neste lado funcionou, desde 1946, a 1982, a Secretaria Municipal de Turismo, em prédio pré-fabricado de madeira. Demolido, deu lugar a um jardim florido contíguo à grade do Museu Imperial. O Projeto Urbanístico “Pró-Centro”, no final do século XX, remodelou a praça deste lado. O lado da estátua do Imperador permanece na virada do milênio e, desde a reforma de 1984, aesperado reaparecimento do “Coreto”, que desapareceu.

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