Edição: sábado, 08 de fevereiro de 2025

Frederico Amaro Haack

COLUNISTA

Frederico Amaro Haack

DEPOIMENTO DO DR. ROBERTAVE-ALLEMANT EM 1858 - Parte 1:

“Em Janeiro de 1858, fiz meus pequenos preparativos de viagem, indo em fevereiro a Petrópolis para agradecer a Sua Majestade e despedir-me.

Muito me emocionou Petrópolis, visitada agora pela terceira vez.

Em outro tempo, fora o nome de Petrópolis muitas vezes mencionado na imprensa alemã e tantas vezes explicada em livros de viagem que não me deteria um momento a considerá-lo, se não tivesse visto o desenvolvimento do lugar em diferentes fases.

Creio que foi em 1844 que, alta noite, recebi uma carta urgente chamando-me imediatamente a Mandioca, a fim de ver ali, o irmão do meu amigo Major Júlio Frederico Koeler (tão prematura e desgraçadamente falecido), o qual recebera forte contusão na mão. A ida ali era, aliás uma viagem, mas o chamado era urgente; e sabendo-me solicito a todos os apelos, meu amigo e por terra e tudo prepara para esse fim.

O original empreendimento emocionou meu irmão, então Pastor da comunidade alemã e sucessor do inditoso L. Neumann, e meu erudito, espirituoso e jovial amigo Professor Barão Tautphoeus. Pelas 10 horas da noite, saímos baía afora numa grande falua, um barco de dois mastros com uma meia coberta, onde se arrumara uma cama muito cômoda. A lua subia e trazia-nos uma bela noite de viagem. Dormindo, seguimos pelo pequeno Rio Inhomirim acima até o lugarejo Vila da Estrela, onde às 5 horas da manhã chegamos e despertamos. Aí aguardavam-nos cavalos de sela; em mau caminho viajamos umas três léguas e paramos em frente da Casa da Mandioca, da propriedade que foi de Langsdorff.

Era felizmente insignificante o auxílio médico e tomou pouco tempo. Mas demorou o almoço pois os alemães e éramos quase todos alemães gostam de comer e ainda mais de beber muito.

Durante o almoço o incansável Major Koeler falou na fundação de uma Colônia alemã no alto, no centro da serra, que ficava acima de nossas cabeças e de um novo caminho para lá, que devia ser fácil e seguro para a passagem de carros.

Naturalmente isso tinha de ser visto com os próprios olhos, levantamo-nos todos imediatamente depois do almoço e acompanhamos o nosso engenheiro floresta a dentro.

Realmente majestosa era a floresta e horrível o caminho. A picada aberta toscamente; milhares de arvores abatidas. Alguns blocos de pedras rolados outros rebentados com pólvora. Terra escavada acumulara-se de novo e em alguns lugares cavados tinham-se aberto grandes frestas; o conjunto oferecia um quadro destruição; parecia que um tremor de terra abalava a montanha. E isso deve tornar-se uma estrada carroçável. Eu abanava a cabeça. Duvidava que encontrássemos um único ponto com um bom trecho de caminho pronto.

Lá no alto encontramos a antiga estrada empedrada, celebre pela viagem de Spix e Martius. Do pico descortinava-se uma vista grandiosa, porém não bastante livre para um largo panorama. Aqui devia funda-se a colônia alemã e formar-se uma vila de 2.000 habitantes.

Nessa solidão, no meio da floresta, em plena serra, isso é fácil de dizer, mas não é fácil de crer.

Muito nos divertiu o otimismo de Koeler, o bom Major Koeler, que via a coisa como um fait accompli; e com o magnífico tempo da tarde descemos de regresso a Mandioca, onde dana Maria do Carmo, à espera do nosso Major, mandara preparar para nós um saboroso jantar de caça.

Depois de um dia a todos os respeitos tão agradável, era natural que os três eruditos alemães se levantassem mais tarde. Pelas 10 horas da manhã, estávamos na falua e descemos o Inhomirim. Mas ao chegarmos à embocadura sobreveio uma tempestade que prendeu no “hotel” grande número de barqueiros. No quarto de hóspedes de uma casa bem arranjada.

Depois de bordejar desagradavelmente na baia, e não sem perigo por trás da Ilha do Governador, chegamos ao Rio ao amanhecer.

Sete anos mais tarde em dezembro de 1851, sofri uma mortal insolação. O meu espirituoso e vantajosamente conhecido Dr. Sigraud, que me tratou juntamente com as sumidades médicas Drs. Persiani, Paula Cândido e Tomás Gomes dos Santos, mandou-me para Petrópolis afim de que me restabelecesse mais rapidamente.

Em vez de falua, um barco a vapor me conduziu através da baía até o Porto da Estrela. Entre os companheiros de viagem contavam-se senhoras e crianças. Na ponte de desembarque estacionavam vários cocheiros alemães com carros puxados por quatro cavalos e à margem do rio brasileiro havia uma pequena algazarra germânica.

Embora o caminho da planície deixasse muito a desejar, nele se podia viajar comodamente. No pé da serra havia cavalos de muda. Com grande surpresa vi uma boa estrada de rodagem verdadeira obra-prima no gênero, com audaciosas curvas, galgando a serra com a maior segurança, tão suavemente, que durante todo o caminho se podia trotar com bastante vivacidade.

E quando cheguei à última crista, a uma altura de 2.500 pés, e o carro desceu lentamente para o antigo Córrego Seco num lugar encantador, com casas habitáveis e uma Praça do Imperador em construção, vários hotéis, duas igrejas, com 2.000 moradores pensei, então com profunda melancolia, no Major Engenheiro Julio Frederico Koeler.

O Major Julio Frederico Koeler, foi um dos poucos oficiais alemães que em longo tempo de serviço em terra brasileira sempre cumpriu o seu dever. Todos podem tomá-lo por modelo. Era homem de sólidos conhecimentos e de variada educação, fiel aos seus amigos em todas as ocasiões. Hospitaleiro, as suas casas em Itamarati e Petrópolis estavam sempre abertas. Contava por isso muitos amigos e muitíssimo papa-jantares e entre os último muitos inimigos, porque o invejavam. Com sua morte emudeceram todos, enquanto seus amigos o lamentavam com verdadeiro pesar e o recordam com respeito.

Que todos os transeuntes da Estrada da Serra e visitantes da Colônia de Petrópolis tenham para o falecido um pensamento de estima e amor, pois percorrem e visitam o monumento de Koeler.

(...)”

Continua ...

Edição: sábado, 08 de fevereiro de 2025

Veja também:




• Home
• Expediente
• Contato
 (24) 99993-1390
redacao@diariodepetropolis.com.br
Rua Joaquim Moreira, 106
Centro - Petrópolis
Cep: 25600-000

 Telefones:
(24) 98864-0574 - Administração
(24) 98865-1296 - Comercial
(24) 98864-0573 - Financeiro
(24) 99993-1390 - Redação
(24) 2235-7165 - Geral