COLUNISTA
Chamou-se Monte de Santa Cruz o local onde foi construído o Palácio Imperial de Petrópolis. É certo que essa denominação teve caráter meramente popular e nem seria cabível uma posterior confirmação uma vez que ali foi construído o Palácio Imperial desaparecendo logo, a razão de ser para um outro característico local.
O fato, porém é que existiu em Petrópolis, o Monte de Santa Cruz, onde foi erguida a residência de dom Pedro II, e essa nomenclatura de origem popular, como sempre acontecem atos dessa natureza, se baseiou em justo motivo.
E como podemos saber, a existência e o motivo dessa denominação? Encontramos na revista “ O Universo Illustrado”, n. 33 de 30 de Novembro de 1859, editada no Rio de Janeiro. Nesse número foi publicado uma crônica sobre o “Palacete Imperial de Petrópolis”, e nela foi reproduzida a seguinte descrição feita pelo artista Bittencourt da Silva:
“ O palacete imperial está situado em uma collina, á esquerda da rua do Imperador fazendo face á rua da Imperatriz, á matriz e á casa do sr. Câmara, o primeiro habitador que nobilitou Petrópolis com a construção de prédios regulares. Este casino, composto de um corpo central e de duas alas, é de um aspecto agradavel da collina de onde foi copiado pelo sr. Motta, a qual se chamou o Monte de Santa Cruz, por ali se haver collocado uma grande
cruz de madeira na fundação da colônia; porém muito mais pitoresco parece ao viajante que desce da villa Thereza e desemboca na rua do Imperador, porque sobresahe à casaria que o rodêa, e ganha em proporções mormente se é illuminado pela luz da tarde.”
A grande cruz de madeira colocada certamente não foi, na época da fundação da colônia mas sim no de ano de 1843. Foi confundida por muito tempo a data da fundação da colônia com a de Petrópolis. Esta data, significava um ato político-administrativo consubstanciado no decreto de 16 de março e nas medidas que logo dele decorreram. Aquela, foi o ato social, o que representou o rápido e característico povoamento de Petrópolis , com as chegadas de grandes levas imigratórias, cuja, a da colonização passou a ser a consagrada no 29 de junho de 1845, depois do trabalho de Raffard, editado em 1895.
Depois da Colônia, segundo a preferência pelo 29 de Junho, a única cruz de madeira levantada publicamente foi a da Praça da Confluência, atual Palácio de Cristal. A grande cruz de madeira erguida no Monte de Santa Cruz, segundo a descrição de Bittencourt da Silva, encontra confirmação, na portaria de 8 de Julho de 1843, do presidente da Província, Caldas Viana, que mandou construir uma cruz de madeira de lei, com a inscrição “Cruz de São Pedro de Alcântara de Petrópolis”. A grande cruz de madeira do Monte de Santa Cruz, deve ser, a cruz mandada levantar em 1843, daí o nome popular dado o monte, onde só em 1845 começaria a ser edificado o Palácio, quando então teria desaparecido essa denominação cuja existência todos nós continuariamos a ignorar se não fora a revelação fortuita do “O Universo Illustrado”.
Vamos agora reproduzir outros trechos interessantes da descrição do Palácio. “A sua architetura no primeiro plano é jônica, e no segundo corinthea; tem um pórtico de granito do lugar que lhe dá muita graça. A sua primeira idéa pertence ao fallecido Koeler, ao homem que realisou Petrópolis, a qual por ordem delle mesmo foi modificada pelo sr. Bonini no que é relativo á frontaria.
O seu interior é uma obra muito bem acabada no que pertence à marcenaria, porque tem pavimentos, portas e alisares de madeiras preciosíssimas, e uma mobília de muito bom gosto. O trabalho da parte interna aos srs. Porto Alegre, Guilhobel e Rabello.” É de se notar que o autor fala em “granito do lugar”, observamos que desde aquela época, já era conhecido e utilizado o granito petropolitano.
Continuando a descrição: “O clima de Petrópolis ganha o da cidade rm frescura de oito gráos, do centigrado calculado o termo médio segundo as observações dos srs. Drs. Francisco Freire Allemãe e Capanema.
A nova estrada, uma das melhores da América, e que entra em concorrência com as mais afamadas da Europa, muito deve os esforços do sr. João Caldas Vianna, Visconde de Rio Bonito e conselheito Pedreira, e o ex-ministro do Império, e hoje Suas Majestades costumam habitar Petrópolis nos mezes da estação calmosa, e nesta quadra se converte aquella nova cidade num centro de recreios de todos os habitantes abastados da Côrte, que lá tem suas casas, entre as quaes muito se distinguem as dos srs. Barão de Mauá, cavaleiro Lamas e outros. Os quatro hotéis, ou grandes hospedaria ficam cheios de viajantes, e o espetáculo da serra na hora da subida e descida dos viajantes é das mais agradavéis. Os quarteirões em que se divide a colonia e os seus nomes attestam a nacionalidade dos primeiros habitantes, os quaes hoje se tem retirado para darem lugar aos habitantes da cidade.
Entres os seus collegios muitos se distingem o do sr. Kopke, Calogeras e da sra. Diemer.
E ahi está como, d’uma revista ilesada, póde-se muita vezes restabelecer um plano perpectivo, elucidar factos e ligar occurencias na missa da História.”
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