COLUNISTA
Quando em março de 1789, o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, em plena campanha pela Independência do Brasil, se dirigia na sua viagem de Minas Gerais ao Rio de Janeiro, possivelmente teria passado pelas terras que no futuro passariam constituir o município de Petrópolis.
De fato, o itinerário dessa viagem ficou assinalado no auto da Devassa da chamada Inconfidência Mineira. Dois pontos de parada, onde Tiradentes teria pregado abertamente seus ideais foram, o sítio da Varginha, em Queluz de Minas e o sítio de Cebolas, em Paraíba do Sul, na então província do Rio de Janeiro.
O rumo de quem parava em Cebolas com destino ao Rio de Janeiro, normalmente era passar pelos arraiais da Estrela e do Pilar, através do Caminho dos Mineiros.
É quase certo, que Tiradentes naquela ocasião tenha realmente passado na fazenda da Posse ou dos Correas, que era cortada pelo Caminho dos Mineiros.
Como se sabe dias após a chegada de Tiradentes ao Rio de Janeiro, ele foi preso e dias mais tarde em 21 de Abril de 1792, foi enforcado em praça pública e seu corpo foi esquartejado e distribuído pelos caminhos nos quais Tiradentes passou difundindo suas ideias de independência.
E por força dessa ação condenatória que um braço do alferes veio parar em Cebolas, passando pelas futuras terras de Petrópolis.
O que não tem nexo é a história de que Tiradentes passou por Correas quando vinha preso de Vila Rica e direção ao Rio de Janeiro e que nesta ocasião tenha ficado na Fazenda.
E isto é um erro pois Tiradentes foi preso quando chegou ao Rio e lá mesmo foi julgado e condenado.
Mas a lenda da figueira de Tiradentes apesar dos fatos se formou e sobrevive.
O bairro de Correas, foi formado pelas terras dadas de sesmaria de Gomes Freire de Andrade, a Manoel Antunes Goulão, em 12 de novembro 1760.
A pequena região, o sesmeiro deu o nome de Posse, nome que mais tarde no fim do século XVIII caiu em desuso quando mudaram-se os donos. Passando essas terras a serem conhecidas como fazenda de Manoel Corrêa, depois Fazenda do Padre Corrêa e finalmente povoado de Correas.
O que mais despertava atenção na fazenda dos Corrêas era uma gameleira plantada bem na frente da casa grande. A enorme árvore, já nos primeiros dez anos do século XIX, era mencionada por viajantes e escritores que passavam por lá, como: John Mawe em 1809 e o brigadeiro Cunha Matos em 1823.
Diziam que ao sol do meio dia a sua sombra era capaz de cobrir 400 pessoas ou todo um batalhão, e que um dos seus galhos abertos de tão grande que era se estendia a grande distância, chegando até a capelinha da fazenda.
Pois essa é a Figueira de Tiradentes, o motivo da lenda. Humberto de Campos em 26 de abril de 1930 publicou no O Cruzeiro um artigo a tal árvore sobre o titulo: As árvores tem almas. Vejamos a integra o artigo.
No vilarejo de Correas adiante de Petrópolis, próximo ao casarão que abrigou, pouco depois da Independência, a majestade itinerante D. Pedro I, há com seus magros braços levantados para o céu, uma bela figueira cuja sombra teria agasalhado segundo rezam as lendas o alferes Joaquim José da Silva Xavier, idealista que pagou com a vida, o sonho de emancipação nacional. Segundo se infere da tradição oral, vinha o alferes manietado das prisões de Vila Rica, sob a guarda de soldados impiedosos com destino ao Rio de Janeiro, para responder aqui pelo crime de conspiração contra a metrópole. Viajava a pé, com aquela cabeleira e aquela mesma camisola branca fixadas pelas pinturas e pelas estátuas patrióticas, ferindo os pés heroicos pelos ásperos caminhos de terra. Ao anoitecer, a escolta fazia alto. E ao mártir, cansado, coberto de barba e suor, de sangue e poeira, era facultado como único pouso, permanecer amarrado ao tronco da árvore sob cuja fronde a comitiva militar aquartelava. Um dos pontos de parada teria sido nas terras pertencentes ou que viriam a pertencer ao Padre Corrêa, junto à figueira que lá se levanta a centena de metros da estrada União e Indústria.
E continua Humberto de Campos: A História que é menos irmã do que o sogra da Poesia, contesta gravemente essa possibilidade. Tiradentes não foi preso em Minas Gerais, mas no Rio de Janeiro. A Lenda foi destruída...
Mas não foi destruída, não.
Segundo Antônio Machado, um estrangeiro ilustre, que morava a anos em Correas, costumava contar que foi na figueira que os soldados arrancaram um braço do alferes. Provavelmente ele, deve ter escutado contar sobre o episódio que o braço de Tiradentes ficou exposto em Cebolas, aumentando assim a sua história.
No início do século XX alguns moradores mais antigos de Correas, acreditavam que o espírito de Tiradentes com sua camisola de condenado aparecia pelas redondezas quando batida as dozes baladas da meia noite, arrastando pelo chão a corda presa ao pescoço e ia se abrigar debaixo da tal figueira...
Os moradores de Corrêas tinham um certo respeito por essa lenda e não era qualquer um que se aventurava a passar pela figueira a noite.
Se é falsa a narrativa do jeito que é contada, isso não significa que tenha no fundo algum senso de verdade. Pois já vimos que Tiradentes talvez tenha passado pelas imediações quando era livre rumo ao Rio de Janeiro.
Pela estrada que margeia o rio Piabanha, teria passado os soldados que escoltavam os conspiradores de Ouro Preto, envolvidos na Devassa, logo depois da prisão de Tiradentes no Rio de Janeiro. No tronco da figueira talvez tenham ficado amarrados os companheiros de Tiradentes.
Sob a figueira teriam passado os soldados que os restos mortais de Tiradentes em viagem para Minas Gerais, carregados em lombo de burro e divididos em pedaços que iam sendo colocados pela estrada nos locais aonde era forte a influência do alferes.
O tempo se encarregou de acrescentar outros aspectos até modificações que deram a lenda outra fisionomia. E assim veio a lenda que Tiradentes esteve amarrado no tronco da figueira...
Outra interessante história da figueira, não está relacionada com Tiradentes, mas sim com um macaco, que quis assistir a missa.
Tão grande e bonita era árvore, que como disse acima um dos seus galhos chegavam até a capelinha da fazenda.
Num domingo quando os féis saiam da capela após a missa, foram surpreendidos por um macaco fazendo um reboliço dependurado em uns dos galhos que chegava até a capela, que olha atentamente para dentro da igreja.
Se grande foi o susto dos devotos, maior foi do macaco que saiu pulando de galho em galho até mata ao encontro de seus companheiros... Um simples episódio natural, que serviu para criaram mais uma lenda em relação a figueira, de que os macacos de Corrêas gostavam de assistir as missas na capela da fazenda.
Em 1954 por determinação da Prefeitura Municipal de Petrópolis, a lendária figueira foi posta abaixo, tendo assim em vão fim as lendas da árvore bicentenária, que talvez, quem sabe tenha abrigado Tiradentes, o mártir da independência, em sua enorme sombra, ou que serviu de arquibancada para os macacos de Correas assistirem as missas dominicais na capela da fazenda.
Veja também: