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sábado, 03 de maio de 2025


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Frederico Amaro Haack

COLUNISTA

Frederico Amaro Haack

PRAÇA DA LIBERDADE

Situada entre a Rua Dr. Nélson de Sá Earp e as avenidas Roberto Silveira, Köeler e Barão do Amazonas, possuindo a superfície de 21.275 metros quadrados, é a maior área de lazer do Quarteirão Vila Imperial. Nas plantas de 1845 (Köeler) e 1851 (Reymarus) aparece com a denominação de “Largo de D. Affonso”, uma homenagem prestada pelos administradores da colônia ao filho primogênito do imperador, herdeiro do Trono Imperial, nascido em 1845 e falecido, prematuramente, a 11 de junho de 1847, com pouco mais de quatro anos de idade.

No princípio, estendia-se pelos terrenos onde mais tarde se levantariam residências e depois ainda edifícios em seu entorno. E ainda subia pela Avenida Barão do Amazonas. Era realmente um grande largo, com nenhum trato, um caminho o cortava ao centro e um pântano se formava na curva do rio Quitandinha, o resto era mato alto e muitos mosquitos no verão e muita umidade no inverno. Este lugar, por mais de uma década, até 1857, foi utilizado como matadouro de bovinos e suínos, destinados ao consumo da crescente população da Imperial Colônia. Lugar de pouco trato, até que em 1885 o vereador Dr. Manoel Antônio Bordini propôs que a área fosse urbanizada e entregue ao povo uma nova praça. Foram encomendadas mudas de palmeiras imperiais ao Real Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que ali foram plantadas, junto a paineiras e chorões. Em 1886, veio a Petrópolis o Dr. Auguste Marie Glaziou, botânico francês, paisagista da Quinta da Boa Vista, do Campo de Santana e muitos outros jardins cariocas. Em Petrópolis veio cuidar do paisagismo do Largo de Dom Affonso, auxiliado por Domingos Pinto Nunes, mestre-de-obras da Província Fluminense, em Petrópolis conhecido pela alcunha de “Pinto da Nação” e pelo jardineiro da cidade, Carlos José Meyer.

Proclamada a República, o largo muda a denominação para Praça da Liberdade, pela famosa Proposta de 5 de dezembro de 1889, que redenominou diversas ruas que homenageavam a membros da banida família imperial, em “respeito” à República recém-implantada. O nome pegou com muito agrado pelos petropolitanos, sepultando de vez a lembrança do príncipe Dom Affonso. Em torno do antigo largo edificaram-se, ainda no século XIX, casarões para servirem de residência às famílias: Hees (a mais antiga), Landsberg, Grünevald e Passos, ainda as legações do Japão e da Bolívia, o Colégio do professor Stroelle e o fotógrafo Frank Nietsch. Curioso foi o apelido que o Largo recebeu de “Praça das Quatro Bicas”, desde 1879, quando nele foi instalado um chafariz de granito com quatro torneiras para fornecimento de água potável aos moradores. O chafariz foi removido em 1893, em face da regularização da água encanada na cidade, pelo Banco Construtor do Brasil, cujo sócio majoritário, Dr. Franklin Sampaio, residia na praça, em um casarão ainda existente.

Em 1914 o presidente da Câmara Municipal, coronel Arthur Barbosa fez uma completa remodelação da praça, com novo coreto substituindo o que havia sido ofertado pelo Clube dos Diários e lá estava desde 1902, construiu um rinque de patinação, pavimentou as alamedas com saibro, instalou bancos de concreto, novos canteiros de flores e fez o plantio de novas árvores. No ano de 1923, o nome da praça foi modificado para Rui Barbosa, homenageando o grande político, chanceler e jurista que naquele ano falecera, em sua residência à Avenida Ipiranga. O nome, embora ilustríssimo, não caiu no gosto do povo, que continuou chamando-a de Praça da Liberdade.

Pelas décadas de 1940 e 1950 foram criando-se símbolos inesquecíveis na praça: como as “carrocinhas de bodinhos”, nas quais crianças passeiam pelas alamedas, cavalos de aluguel, para passeios em torno da praça, em tempos que o trânsito, hoje caótico, permitia essas bucolicidades. Nos finais de semana à tardinha, o “velho Guarany”, fazia exibir, em tela pendurada entre as árvores, desenhos infantis e seriados de bang-bang, sempre muito freqüentados; realizavam-se também, nas noites de sábado, bailes populares, inclusive no carnaval e shows, do “Kling Show”, formado por cantores sertanejos e atores amadores, capitaneados e apresentados pelo então vereador Salvador Kling. São muito saudosas as partidas pelo Campeonato Municipal de Hóquei Sobre Patins, com partidas realizadas no “Rinque Marowil” entre agremiações, tais como o Atlântico, o Mocidade Hóquei Club, o Serrano F.C. e outras, entre os anos de 1947 e 1959.

Em uma das administrações do prefeito Flávio Castrioto, em 1964, a praça sofreu fundamental reforma, sendo incorporado a ela o trecho da Avenida Roberto Silveira, que a cortava pelo centro, passando o trânsito de veículos a ser feito em seu redor. A praça tornou arredondada, a área do “rinque” foi reduzida, o coreto, parcialmente, soterrado e cercado com tela, sendo criado um viveiro de pássaros. Este viveiro de aves silvestres foi desativado pelo prefeito Bianor Martins Esteves (1980-1981) que, pessoalmente, abriu o portão, libertou os pássaros e providenciou a retirada da tela, porém o antigo coreto nunca mais recuperou sua beleza, continuando soterrado seus alicerces.

Na praça estão dois monumentos, o mais antigo o de homenagem a José Tomás da Porciúncula, presidente da antiga Província do Rio de Janeiro, nascido em Petrópolis. O monumento, de autoria de Lorenzo Petrucci, trabalho em bronze e granito de Petrópolis, feito nas oficinas de Domingos Nóvoa, tem 6 metros e oitenta centímetros, tendo a estátua de corpo inteiro do homenageado 2 metros e vinte centímetros, e inaugurada em 16 de julho de 1922. Ao ato estiverem presentes diversas autoridades, destacando-se o comandante Leopoldo Moreira, representando o presidente da República Arthur Bernardes; Dr. Álvaro de Freitas Guimarães, presidente da comissão promotora do monumento; Dr. Eugênio Barcellos, prefeito interino de Petrópolis; a viúva Porciúncula; o poeta Alberto de Oliveira, diretor de Instrução Pública e orador oficial da comissão; reverendo Theodoro Rocha, vigário da freguesia e que benzeu o monumento; o escultor Petrucci; Dr. João de Barcellos; Dr. Álvaro Lopes de Castro; Dr. João de Carvalho; Srs. Manoel Alves Seabra e Arnaldo Teixeira de Azevedo, todos da comissão e mais, capitão José Lopes de Castro e Sr. Joaquim Heleodoro Gomes dos Santos, do Telégrafo Nacional e do Centro Auxiliar dos Funcionários do Telégrafo. Houve desfiles das representações escolares em torno do monumento, Escola Senador Porciúncula, Grupo de Escoteiros e os Grupos Escolares Silva Jardim e D. Pedro II.

O outro monumento, bem mais recente, é dedicado à Bíblia: de autoria da Marmoraria João Lopes e Cia. Ltda., consiste de um bloco de granito medindo 1,35 metros de altura, sobre base quadrada de 15 centímetros. Sobre o bloco há um retângulo onde se encontra uma Bíblia aberta em bronze, onde se lê os seguintes salmos: “Lâmpada para os meus pés” Sal. 119 e “Luz para meu caminho” Sal. 105. Entre outros dizeres bíblicos na parte frontal estão os nomes dos componentes da comissão promotora do monumento: presidente Luiz Cesário da Silva, Madson P. da Carvalho, Célio de Lima Medeiros, Roberto Parreira da Silva, Nathanael Inácio Teixeira, José Carlos Pércia dos Santos e Paulo Pires de Oliveira. Foi inaugurado solenemente a 11 de novembro de 1977, presidindo o evento o prefeito Dr. Jamil Sabrá, presentes diversas autoridades e representantes religiosos e os vereadores que propuseram o monumento Paulo Pires de Oliveira e José Carlos Pércia dos Santos.

Alegrias e tristezas foram vividas na praça, romances começaram e outros terminaram em seus jardins e bancos, pessoas riram e choraram por suas alamedas. Assim, a 8 de abril de 1968, numa tarde amena de outono, a senhora Iza Prata Rodrigues, casada, com trinta anos pediu um copo de água no bar da praça, sentou-se em uma das mesas e tomou formicida. Conduzida com vida ao Pronto-Socorro, não resistiu e faleceu. No esqueleto abandonado do antigo Hotel Majestic, na esquina da praça com Avenida Roberto Silveira, hoje um prédio residencial, em maio de 1984 havia três casais e dez crianças residindo, com apoio da Secretaria Municipal de Apoio Comunitário. O destino dessas dez crianças se confundiu, certamente, com a história das ruas desta cidade.

Por iniciativa do vereador professor Paulo Pires, a praça recuperou, oficialmente, a denominação que o povo jamais esquecera: “Liberdade”, através da Lei nº 5005 de 7 de janeiro de 1993, neste talvez mais enraizado nome da nomenclatura urbana petropolitana, que resistiu a décadas de tentativas de banimento.

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