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Frederico Amaro Haack

COLUNISTA

Frederico Amaro Haack

AVENIDA BARÃO DO RIO BRANCO

Sua primeira denominação foi Caminho da Westphalia até que, com a construção e inauguração da Estrada União e Indústria passa a ser chamada de “Avenida” Westphalia. O Ato nº 13, de 13 de abril de 1922 denominou Avenida Barão do Rio Branco à rua que tem início na Praça Mariano Procópio e termina na Rua Hermogênio Silva. Com a sua duplicação na década de 1980 e criação de mais uma Praça Mariano Procópio em 1991, o seu lado par começa na Praça Mariano Procópio e termina na Ponte do Retiro, início da Rua Hermogênio Silva. Seu lado ímpar começa na Avenida Piabanha e termina na Praça Mariano Procópio: difícil de entender, porém se explica que são duas Praças Mariano Procópio diferentes.

José Maria da Silva Paranhos Júnior nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 20 de abril de 1845. Recebeu o título de Barão do Rio Branco em 1888, ao apagar das luzes do Império, após longa folha de serviços prestados ao imperador. Foi historiador, diplomata, ministro das Relações Exteriores. Solucionador de várias questões de limites do Brasil. Era filho do Visconde do Rio Branco e faleceu a 10 de fevereiro de 1912 na mesma cidade que nasceu. Sua importância maior para Petrópolis está no fato de que em sua residência de veraneio, situada na avenida que o homenageia, nº 279, onde atualmente está instalada uma repartição pública estadual, foi assinado a 21 de março de 1903 o “Tratado de Petrópolis”, entre a Bolívia e o Brasil, colocando fim à questão acreana.

O “Caminho da Westphalia”, aberto em 1845, com suas características coloniais, carroças transportando a produção caseira dos colonos, verduras, frutas, queijos, geléias, pães etc. durou pouco mais de dez anos. Em 1856, conforme se pode observar, com alguma dificuldade, pelo péssimo estado de conservação, uma placa em granito talhado, próximo ao nº 330, a data de 12 de abril de 1856 como início das obras de construção da Estrada União e Indústria, cujo ponto inicial era o início do “Caminho da Westphalia”. A estrada foi efetivamente inaugurada em 23 de junho de 1861, com isso tornou o caminho conhecido como “avenida” e esta perdeu sua simplicidade colonial e de ser apenas o final do lado norte da Imperial Colônia de Petrópolis. O mundo mineiro que já ha séculos atingia a capital e via de esguelha a Colônia Imperial pela Estrada Mineira, agora tinha um caminho mais amplo, bem conservado e podia se encantar com a cidade da serra.

Na Westphalia foi estabelecido pela diretoria da Colônia o matadouro de bovinos e suínos, vindos das fazendas mineiras para o consumo da população. A diretoria adquiriu a prazo 3.030 do Quarteirão Brasileiro, com testada para o Caminho da Westphalia, onde estabeleceu o matadouro público. Construiu um barracão coberto de zinco e uma ponte sobre o Piabanha, em frente, de modo a dar passagem às boiadas. Inaugurado a 13 de fevereiro de 1857, assim permaneceu até 1926. Alguns problemas foram criados com a instalação do matadouro, além da passagem das boiadas, vindas pela estrada mineira, até a construção Estrada União e Indústria, desciam do alto do Quissamã pelo atalho que levava à Rua de Joinville no Quarteirão Francês, e seguiam pelo Caminho da Westphalia até ao local de abate. Além disso o odor não era dos melhores, ao redor, e aconteciam casos como o ocorrido a 8 de maio de 1858, quando em frente à casa do Sr. August Moebus uma vaca a caminho do matadouro morreu, e ali permaneceu por vários dias, levando o Sr. Moebus a reclamar ao diretor da Colônia.

Digno de nota é um fato histórico, ou lenda ocorrida já na Avenida Westphalia, a introdução de um jogo de bola de origem inglesa pelo padre Manoel Gonzáles, no Seminário São Vicente de Paulo, em 1884. Se a data estiver correta, o futebol teria sido introduzido em Petrópolis e no Brasil, pela primeira vez, antes de  Charles Müller em São Paulo. O prédio do Seminário foi construído na década de 1870 pelos padres Vincentinos, e vendido aos Lazaristas em 1880, sendo transformado em Seminário e até em hospital, por certo tempo. Em abril de 1896 começaram a circular os primeiros “Bondes Westphalia”, que circulavam até ao “Pic-Nic”, já fora do perímetro do primeiro distrito da cidade.

Antes da nova numeração das ruas, em 1900, ao nº 34 da Avenida Westphalia residia a família do Sr. Joaquim Borges de Carvalho. A 12 de março de 1917 foi lançada a “pedra fundamental” do prédio destinado às religiosas “Carmelitas Descalças de Santa Thereza de Jesus”, Convento São José, localizado nos números 1.143 e 1.164. Nas primeiras décadas do século XX passaram os primeiros caminhões pela Avenida Westphalia com destino ao interior ou vindo de lá. Com o trânsito progressivamente mais intenso a cada dia, as curvas sinuosas da avenida começaram a fazer as suas primeiras vítimas, das muitas que fariam desde então.

Setenta e cinco anos após a planta de Reymarus, em 1926, a Avenida Barão do Rio Branco convivia ainda coma lama e poeira, alternadamente. Os bondes da CBEE trafegavam com sua calma e barulho característicos. Aumentava o trânsito de veículos, com a abertura da Estrada Rio-Petrópolis, o tráfego entre o Estado de Minas Gerais e todo o Nordeste brasileiro e a capital federal, a cidade do Rio de Janeiro, se fazia pelo centro de Petrópolis, a avenida possuía uma só pista pela margem direita do Piabanha, na outra margem, apenas pequenos trechos de rua existiam sem continuidade. Grandes árvores margeavam o rio, oferecendo ao viajante uma paisagem belíssima.

O prédio nº 828 vai a leilão em 31 de julho, consiste em uma casa com três quartos, duas salas, cozinha, banheiros etc. em terreno de treze metros de frente e seiscentos e trinta e quatro de fundos. Na casa número 988 reside a família do Sr. Dunley; na residência nº 1.114 atende a modista Mme. Almeida Sá; ao número 1.176 estava o Armazém Rio Branco, de J. Pereira & Cia.; em frente ao nº 1.024 quebra a perna o Sr. Luiz Esch ao tentar tomar o bonde em movimento; a 23 de outubro é assinado contrato entre a Prefeitura Municipal e a firma Mean da Curty & Cia. para a construção e exploração do Matadouro Modelo, ficando cedido o uso e gozo do terreno da Westphalia nº 1.875, onde se encontravam os barracões do velho matadouro de 1857. A “pedra fundamental” é solenemente colocada a 30 de abril de 1927 e o prédio inaugurado a 30 de dezembro de 1928. A 12 de junho de 1926, uma segunda-feira, foram feridas ao Srtas. Alzira de Souza e Hernestina Sadock, impedidas de furar a greve por um “piquete grevista” à porta do Lanifício Petrópolis, localizado ao nº 1.958. A empresa S. A. Lanifício Petrópolis empregava cerca de cem operárias e seu gerente-geral era o Sr. J. A. Chapman.

Ao lado da placa em granito, próximo ao nº 300, que marca o início da obras da Estrada União e Indústria em 1856, há uma em metal onde se lê: “Sendo Presidente da República o Sr. Getúlio Dornelles Vargas, Ministro da Viação o Sr. João Marques dos Reis e Engenheiro Chefe da Comissão de Estradas Federais o Sr. Engenheiro Yedo Fiúza, foi inaugurado o calçamento inicial da Estrada União e Indústria”. E a data em Algarismos Romanos: MCMXXXVI (1936). Portanto, só aí terminou o calvário de lama e poeira dos moradores. O forte temporal caído em 26 de março de 1945, por volta das 21h fez o rio Piabanha transbordar de seu leito invadindo a rua e residências, até à ponte do Retiro, arrancando árvores pelo caminho. Um frondoso ipê, próximo ao matadouro, ponto inclusive de visitação turística, tal sua magnitude, é arrancado pela forte correnteza pela raiz.

A Avenida Barão do Rio Branco foi duplicada e asfaltada em 1987, uma pista de subida em direção ao centro da cidade foi construída pela margem esquerda do rio. O aumento da velocidade possível aos automóveis, tanto pela duplicação quanto pelo asfaltamento, só fez aumentar o número de acidentes na pista, a ponto de certa vez, em 10 outubro de 1996, um carro no rio pouco antes da entrada do Quarteirão Brasileiro, na pista de subida. Sua condutora conseguiu escapar ilesa e subindo no teto do veículo, aguardando socorro, quando outro carro cai sobre ela, levando a óbito instantaneamente.

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