Edição: sábado, 09 de agosto de 2025

Frederico Amaro Haack

COLUNISTA

Frederico Amaro Haack

A RUA DO IMPERADOR EM MEADOS DOS ANOS DE 1850.


A “venida”, já teve como denominações anteriores: do Imperador e Avenida XV de Novembro. Através da Lei nº 4.001, de 09 de outubro de 1979, foi restaurada a antiga denominação de Rua do Imperador e tem início as duas pistas, na Praça da Inconfidência e termina, o lado par, na confluência das ruas Dr. Nélson de Sá Earp e Prof. Pinto Ferreira e, o lado ímpar, no início da Rua Washington Luiz. Rua do Imperador, centro comercial da cidade desde a fundação da Imperial Colônia de Petrópolis, em 1845. Duas pistas que margeiam os córregos, ditos rios, no dizer da terra, o Quitandinha e o Córrego Seco, depois Palatino ou Palatinato, que se encontram ao centro do logradouro, no local chamado “Bacia”. Na Rua do Imperador era onde se instalavam, primeiramente, os colonos chegados ao correr do segundo semestre de 1845. Alojavam-se nos chamados “Quartéis da Colônia”, barracões de madeira, cobertos de zinco erguidos no trecho entre as então ruas Dona Januária (General Osório) e de Dona. Francisca (Marechal Deodoro) onde temos, hoje, o prédio do Fórum, quase fronteiros ao futuro Hotel de Bragança (entre os
atuais números: 888 e 970 incluindo a Rua Alencar Lima) erguido três anos depois, em 1848.

A abertura da rua iniciou-se pela Renânia (Washington Luiz) de ambos os lados até a “Bacia” pelo lado par, prosseguindo, esta lado, após o rio até à Praça do Córrego Seco (Inconfidência) e o lado ímpar até a altura da Rua do Mordomo (Paulo Barbosa), o trecho desde aí até a Praça do Córrego Seco apenas foi construído na década de 1850. Antes da construção da Estação da Estrada de Ferro Príncipe do Grão-Pará, 1883, o eixo da Rua era o Hotel de
Bragança, as diligências da serra vinham pela Rua Thereza e a pequena estação dos Carros da Serra que se situava próxima à esquina da de Dona Francisca com a do Imperador.

A partir de 1850 começa, com mais vigor, a construção de casas e sobrados com lojas comerciais no térreo, cujos proprietários eram portugueses, em sua maioria, e alguns poucos de outras nacionalidades, como alemães. A elite política e financeira Imperial construía seus casarões nas ruas convergentes à Rua do Imperador.

Em 1857 já havia um considerável comércio pela rua. A numeração dos prédios iniciava-se, ao contrário de hoje, pela Renânia: a inversão só veio a ocorrer no princípio do século XX. Portanto, a partir do Caminho da Renânia, assim era em 1857/1858 a Rua do Imperador: O piso era de terra e as primeiras calçadas, foram construídas em 1857, a partir do Hotel de Bragança, de um lado e, dos Quartéis da Colônia, do outro. Bem no início da rua, o lado par
de então, mandara o Imperador construir uma serraria, depois terrenos vazios até quase a Rua de Dona Januária, onde, na esquina, erguia-se um sobrado em cujo térreo estabelecia-se Pedro Jessel, com negócio de relojoaria e abridor, sobre a loja, a residência e o escritório do Dr. A. J. C. Lima, advogado e corretor de imóveis, o qual vendia terrenos na Westphalia e no Quarteirão Brasileiro A seguir, do mesmo lado, passava-se pelos Quartéis da Colônia (hoje prédio do CEFET), os escritórios de administração da colônia, os Correios, o hospital de indigentes e, já na esquina de Rua Dona. Francisca, o Quartel de Polícia, na verdade tudo um grande barracão meio alvenaria meio madeira, coberto de zinco. Nas dependências dos ditos Quartéis da Colônia realizavam-se à época os cultos evangélicos luteranos, aos domingos pela manhã.

Passada a Rua de Dona Francisca, desde o nº 22 ao 26 estabelecia-se a Fábrica de Charutos Estrela, de Marinho & Oliveira, de onde fugira o escravo “Felizardo”, de 15 anos, isto justo em 24 de abril de 1858, segundo publicado em “O Parahiba”. A seguir, no nº 34, a residência do Sr. José Antônio da Rocha e, no 36, morava o Sr. Domingos Francisco Batista, o qual, em março de 1857 alugava um escravo de 18 anos, de onde fugiu, em 7 de agosto de 1858,
uma escrava de 40 anos.

Já quase em frente à “Bacia” encontrava-se o Hotel de João Meyer, com o nº 38, ali funcionou desde 1850 até 1866, sendo que em 1865 foi vendido ao Sr. Eduardo Bartel. Vizinho, no nº 40, vendia-se fogos de artifício; no nº 42 havia uma chapelaria e papelaria, no 44 localizava-se a “Sociedade Fé e Esperança”, que em 1857 era presidida pelo Sr. Justino Peixoto. No nº 52 erguia-se o Colégio Drumond, de curta duração, a casa era considerada mal-assombrada
o que, certamente, contribuiu para que não prosperasse. Seu diretor era o professor Felisberto Alexandre Drumond.

Havia no nº 56 grande sobrado, com casa de família no primeiro andar, onde em O Parahyba”, em 1857 havia classificado solicitando uma cozinheira, de preferência “alemã” e, nas lojas do térreo: 56-A, a livraria e papelaria “Ao Livro Verde”, de Ollive & Irmãos, que também eram corretores de imóveis. No 56-B havia a Sapataria e Sapateiro cujo proprietário era o Sr. Abreu Carneiro.

No sobrado de nº 58 estava o “Clube do Comércio”, que nada mais era do que um mercado de escravos, pois os comprava, vendia e alugava; no térreo, o relojoeiro e ourives João Siebler. O nº 68 era um galpão, onde estava a oficina de marcenaria do Sr. Phellipe Huntin. Já na esquina da Rua do Mordomo (Paulo Barbosa) encontrava-se o armarinho do cidadão português Frâncico José de Castro, o popular “Chico da Esquina”. Passada a Rua do Mordomo havia uma grande área ainda desocupada, pois este trecho da rua fora recém-aberto, porém aí o Sr. Friederich Sieber mandara construir, em 1857, sua residência e montou uma oficina de gravador de cristais, que veio a se tornar muito afamada na Corte e que perdurou até 1892.

Este lado par da Rua do Imperador, desde a Rua de Dona. Januária até a do Mordomo, mandara a Diretoria da Colônia, em 1857, colocar uma camada de areia grossa, com o intuito de diminuir a lama, durante o período chuvoso.
O lado ímpar, em 1857/1858, em seu começo, na esquina com Rua de Bourbon (Dr. Nélson de Sá Earp), um sobrado tinha em seu térreo a confeitaria do francês, Sr. Daguenet, ao lado, no nº 23, emprestava-se dinheiro por penhor de ouro, prata ou brilhantes e também escravos eram comprados e vendidos; por sinal, em O “Parahyba” de 13 de maio de 1857 anunciava-se a venda de um “moleque” de 18 ou 20 anos, ótimo pedreiro.

Continuando pelo ímpar da Rua do Imperador, encontramos após um terreno baldio o “Theatro Progresso Petropolitano”, mais tarde remodelado e tranformado no “Theatro Cassino Fluminense”. A seguir tínhamos o grande prédio assobradado do Hotel de Bragança, erguido em 1848 e que funcionou até 1933. Em seu térreo havia lojas, como uma oficina de correeiro e seleiro e uma loja de tecidos de propriedade do Sr. Jerônimo Fernandes. Passado o hotel havia o escritório e residência do corretor de imóveis Sr. Francisco Tavares Bastos, era o nº 31. A seguir, no 33, a cocheira de Baltar & Land, onde se vendiam cavalos. No nº 35 residia outro corretor de imóveis, o Sr. Bernardino de Araújo Costa; no sobrado do nº 41 residia o Sr. Eduardo Bartel, aquele que comprou, em 1865, o Hotel de João Meyer e, no térreo estabelecia-se a “Confeitaria Alemã”. A seguir, o Café e Restaurante de Bernardini de Araújo Costa, o mesmo que residia no nº 35.

No nº 53 estava a Relojoaria Rittimayer, fundada em 1850 por Heindrich Rittimayer, a qual funcionou em mãos de seus descendentes até 1983, 133 anos, a maior longevidade comercial petropolitana, em um mesmo endereço, até hoje.

No 53 estava o depósito de charutos de José Pedro de Morais & Cia.; e, por fim, junto ao matagal da então Praça do Imperador (D. Pedro II, hoje) o prédio térreo onde funcionava desde 1845 o Bazar de Flaenschen e Shaeffer, secos e molhados, tecidos etc.

Do outro lado da “Bacia”, pois a Rua do Imperador sofria solução de continuidade, não havia ponte ligando os dois lados, os terrenos da Quinta Imperial dali se estendiam até onde temos hoje o prédio dos Correios e Telégrafos. Vizinho à Quinta Imperial havia o Hotel Suíço, o primeiro da colônia, funcionou de 1846 até 1883, pertencente ao cidadão franco-suíço Sr. Choffaile; após, uma área vazia até a Praça do Córrego Seco (Inconfidência), com exceção de uma casa ao meio do caminho já então no morro, a residência do guarda-livros (algo como um contador de hoje) Sr. José Mariano do Amaral e, bem próximo à praça, a olaria do Sr. Thomaz Holden, súdito britânico. Em seguida um alagadiço (brejo) que estava sendo aterrado em 1858.

Este lado era calçado a macadame, desde o Hotel de Bragança até a “Bacia”, seguindo, do outro lado, até a praça em terra batida. A ponte metálica ligando as duas partes, deste lado, só foi construída em 1905.
Ainda em 1857, os Chorões, as Araucárias, Jacarandás, Ficus e Gonçalo-Alves plantados há quase dez anos (1851) ainda estavam baixos, não faziam sombra, as margens dos rios eram tratadas com o capim sempre aparado, onde os moradores punham suas roupas a secar, até que uma resolução da Câmara Municipal em 1878, o proibisse. Havia apenas três pontes, cruzando os rios na Rua do Imperador, sobre o rio Quitandinha: uma em frente à Rua de Bourbon (Dr. Nélson de Sá Earp) e outra em frente à Rua de Dona. Francisca (Mal. Deodoro) e sobre o rio Palatino apenas uma, próxima à Praça do Córrego Seco (Inconfidência).

Os esgotos dos prédios, lojas e residências corriam para os rios a céu aberto ou estagnando aos fundos dos sobrados. Somente em 1875 a Câmara Municipal obrigaria os moradores a canalizarem as “imundícies” para os rios, sob a rua. Todas as residências possuíam escravos domésticos, cozinheiras, pajens etc., embora os mais abastados preferissem empregar as filhas jovens dos colonos alemães nestas funções, mas, mesmo assim, havia um bom número de negros escravos pela Rua do Imperador por esta época, porém tudo indica que o número de escravos tenha se estabilizado e, proporcionalmente, diminuído, desde então até ao final do Império.

Eram comuns os transbordamentos dos rios, durante o verão; em 1858 isso aconteceu duas vezes, a 22 de janeiro e a 3 de março causando prejuízo aos comerciantes e trazendo lama para a Rua do Imperador, aliás, o convívio com a lama no verão e a poeira no inverno, desde sempre a isso foram obrigados moradores e comerciantes. Roubos e furtos eram raros, embora a 2 de janeiro de 1858 tenha havido o furto de relógio em um quarto do Hotel de Bragança.

Coincidentemente, a 29 de junho de 1858, quando faziam treze anos da chegada dos primeiros colonos a Petrópolis, passam pela Rua do Imperador 182 colonos alemães com destino à Colônia de D. Pedro II, em Juiz de Fora, cantando e agitando bandeiras e galhos de árvores, alguns em carroças e outros a pé. O mesmo se deu a 28 de julho do mesmo ano, com 160 alemães que vieram contratados pela Companhia União e Indústria. O jornal “O Parahiba”, de 26 de agosto diz: “... não saber se por acaso ou de propósito, todas as vezes que passam por aqui, colonos importados pela União e Indústria, um grupo deles dispensa a condução de carroças, seguem a pé, entoando canções patrióticas. Com certeza os primeiros orientais “chineses”, ditos assim genericamente à época, a passarem por Petrópolis, foi um grupo de quinze ou vinte, vindos da corte com destino a São José do Rio Preto a 12 de outubro de 1858. O ébrio mais conhecido da Rua do Imperador pelos anos finais da década de 1850 chamava-se Herr Dangler, colono que acabou expulso da colônia, pouco tempo depois.

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