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Frederico Amaro Haack

COLUNISTA

Frederico Amaro Haack

A POLÊMICA CARTA DO PASTOR STROELE EM 1863

Parte I

Abaixo transcrevo a carta do pastor Jorge Gotlob Stroele, da Comunidade Luterana  a Basiléia, relatando o translado dos colonos ao Brasil, depois a Petrópolis e a convivência deles com o Major Júlio Frederico Koeler.

Dividi em duas partes a correspondência devido a mesma ser muito extensa, nessa primeira seção é relatado todos os percalços vividos pelos alemães na Europa até chegarem aos navios, durante a viagem até a chegada no porto do Rio de Janeiro.  Ao lerem o trecho da carta, é necessário atenção devido a grafia da época.

Na próxima semana será publicada o trecho final e mais polêmico do relato, aguardem...

No anno de 1843 tomou o governo da Provincia do Rio de Janeiro a resolução de construir uma via de communicação com a Província de Minas. Para alcançar de uma maneira barata forças de trabalho para execução desse projecto fez o presidente da província em 15 de Julho de 1844 com Eugenio Pisani, agente de Charles Delrue & Cia., em Dunquerque, um contracto no qual essa casa obrigou-se a fornecer 600 famílias. O governo prometeu tomar a si as despezas de transporte e pagar por uma pessoa adulta 245 francos e para uma criança de 5 a 15 annos, metade dessa soma. Delrue, então, fez tocar o tambor de engajamento na Allemanha, especialmente no Rheno, na certa presopição que o manso allemão acreditaria nas falsas promessas de seus agentes e seguiria com bom ânimo para a terra das palmeiras e dos diamantes. Assim succedeo. Disse a estes pobres que ganhariam, sem grande pena, 3 fl. 30 kr. (Moeda allemã 2.500); a terra era tão insigne e magnífica que apenas só poderia comparar o Paraizo com ella; receberiam terras a vontade, além de Pastores e Professores de seu idioma. Em pouco tempo estavam juntas 600 famílias. Estas venderão por preço barato os seus bens e deixarão com corações alegres sua pátria. Mas apenas tinhão deixado as fronteiras allemãs, começou a miséria. Chegadas a Dunquerque, não acharão ainda promptos os navios destinados para elles. Os capitães não os aceitarão; dirigirão-se a Delrue e este mandou a bordo e capitães outra vez a Delrue. Deste modo, mandados para lá e para cá, errarão sem conhecer a língua franceza, com seus diminutos bens pela cidade. Diversas noites precisarão passar fora, ficarão roubados e escarnecidos. Os Consules allemães negarão auxílio dizendo que eles agora erão emigrantes e por isso não erão mais allemães. Emfim forão alojados em adegas, estrebarias e em outros míseros cantos, mas foram obrigados a sustentarem a sua custa, conquanto Delrue recebeu para esse sustento 60 francos.

Si já estavam em grande miséria em Dunquerque, acharam a bordo uma existência verdadeiramente horrível. Enquanto o sustento devia consistir de comidas fortificantes e nutritivas, que no contracto estavam especificados, os miseráveis mantimentos que recebiam apenas os livrara da morte pela fome.

Quando chegou o navio ao Rio de Janeiro estava cheio de provisões e estas então foram vendidas a altos preços.

O navio chamava-se Maria e o capitão scelerado Castell. A esta vida de fome ajuntaram ainda castigos corporaes e a deshonra das pessoas femininas; se os Paes defenderam suas filhas ou os maridos suas mulheres foram por algumas horas amarrados no mastro do navio e queimados ao calor do sol, e também por muitas vezes maltratados.

Quando enfim entraram no porto do Rio de Janeiro, que estava cheio de vida, com suas verdes e florescentes ilhas, suas risonhas chácaras e margens parecentes jardins e viram a cidade que estava situada numa ponta quadrada da terra resaltada,o sereno firmamento e os pittorescos montes, cortados por deleitosos vales, cobertos de Mattos de laranja e limões, então fizeram exclamações de júbilo, esqueceram-se de todas as privações, pensando que podiam descançar e restabelecer-se nessas praias que tão risonhas olharam para elles; porém os pobres! Acharam-se ainda mais miserável, ainda mais horrível.

O governo, no entanto, tinha-os abandonado.

Com o projecto de construir estradas e canaes para o interior da província do Rio de Janeiro e estabelecer uma via de communicação com Minas Geraes, não se lembrou mais dos trabalhadores engajados na Europa e por isso não tinha feitos preparativos alguns para alojal-os.

Foram desembarcados na Praia Grande. O ardente calor, o desconhecimento da língua, a falta de mantimentos e de segurança contra os negros inclinados a roubar e a immoralidade canalha dos mulatos, levarão os deploráveis emigrantes a total desesperação.

Nascerão enfermidades em pouco tempo (em todo três semanas) salvou a morte 314 pessoas das suas misérias.

Continua...

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