Edição: domingo, 17 de agosto de 2025

Frederico Amaro Haack

COLUNISTA

Frederico Amaro Haack

A RUA DO IMPERADOR NO INÍCIO DO SÉCULO XX.


O calçamento de paralelos da Rua do Imperador teve início no final do século XIX. No princípio do século XX, ainda se convivia com lama e poeira. Embora deliberado pela Câmara Municipal em 1905, neste ano também foi inaugurada a ponte metálica que liga, finalmente, os lados pares da Avenida XV, com grande festa e manifestações populares de regozijo. O calçamento a paralelos só se deu em 1917, primeiro o lado ímpar e levou oito meses para ser concluído totalmente. O ponto de carros e tílburis, em frente ao Hotel de Bragança, teve o estacionamento calçado em 1901, se não foi o primeiro trecho, um dos primeiros. Pouco antes, em 1893, o Quartel de Bragança ou Quartéis da Província, como passaram a ser chamados, após a elevação da Colônia à condição de cidade em 1859, foram demolidos e deram lugar ao prédio do Fórum, inaugurado em 1894, que abrigaria, além da Justiça, a Delegacia de Polícia, a Cadeia Pública e o Quartel de Bombeiros. Os primeiros até 1947, os Correios até 1926 e os Bombeiros até 1967.

A mudança da numeração da rua, então já Avenida XV de Novembro, se deu em 1905, por proposta dos engenheiros Henrique Silusse Lussac e Henrique Gonçalves Pêssego, passando a ser feita por metragem que, aprovada pela Câmara Municipal é adotada por toda a cidade, seguindo tendência mundial, iniciada na França e que começou a ser adotada na maioria das capitais brasileiras, pela mesma época.

Em 14 de abril de 1911 marca um dos muitos acontecimentos violentos da Av. XV de Novembro/Rua do Imperador. Um tiroteio à altura da esquina com Rua Paulo Barbosa, entre os irmãos Garcia, operários da fábrica de camisas Nossa Senhora do Rosário, no Morin e o contramestre da mesma fábrica Sr. João Belchior Sobrinho, sendo este atingido de raspão na cabeça. Respondendo à agressão, feriu um dos irmãos; o próprio delegado de Polícia, Dr.
Edmundo de Lacerda, que era médico, cuidou dos feridos e depois os prendeu.

As primeiras décadas do século XX foi a época dos “almofadinhas”, bons, alguns nem tanto, de discursos, frequentavam os cafés, diários e continuamente observando a passagem de senhoras e senhoritas “coquetes”. Muito conhecido, desde muito tempo e que passou à história nas páginas de colunas sociais da época foi o Sr. Sebastião Benevuto de Carvalho. Época também de grande efervescência política, republicanos, positivistas, anarco-socialistas e saudosistas imperiais se enfrentam, chegando muitas vezes às vias de fato, nos cafés da Av. XV. Os italianos de Cascatinha, socialistas na maioria e outros anarquistas, aumentavam a pressão. O trem dos italianos em greve era o terror dos comerciantes da avenida e davam muito trabalho à polícia.

O tempo esquenta na avenida XV de Novembro em 1917, com a entrada do Brasil na 1ª Guerra Mundial. Há grandes manifestações populares contrárias aos alemães que, até há pouco eram apoiados por boa parte da população da cidade. A ira dos manifestantes se concentra no Hotel Max Mayer, cujo proprietário, alemão patriota, tem seu estabelecimento saqueado e é covardemente agredido. Max Mayer havia se estabelecido, com hotel, em frente à Estação Ferroviária em 1880 e o hotel ainda funcionou até 1930, pelas mãos de sua viúva.

Os postes, os mesmos que suportavam os antigos lampiões, de ferro pintados de preto, desde 1896 são suporte para a iluminação elétrica, com lâmpadas incandescentes, de luz amarelada. Esta iluminação faz das suas nestes conturbados tempos: em 24 de abril de 1917, à noite, claro, João Lourenço, proprietário de armazém de secos e molhados ao nº 315, vizinho ao Café Vista Alegre, atira em um gambá, pensando ser um “larápio”. Atinge uma mulher que dormia no sobrado do café, sem maior gravidade.

Havia alguns bêbados, sendo o mais famoso o alemão “Wurtz”, que se dizia marinheiro da Armada alemã, aprontava quando embriagado, o que era frequente. Várias vezes preso, era solto ao curar a bebedeira, desapareceu, sem que se perceba como. O “Hotel do Pato”, no nº 131, onde hoje está o prédio de uma padaria, pertencia ao cidadão espanhol Sr. Ramon Lavaquiale, desde 1892 facilitava a vida dos boêmios e dos amantes. Seu restaurante no térreo foi o primeiro a não ter hora de fechar.

Os bondes elétricos, inaugurados em 1912, mais precisamente a 2 de setembro, tornaram-se popular meio de transporte e todos convergiam para a “Avenida”. Ainda havia carrocinhas de leite puxadas por cabritos, que todas as manhãs chegavam dos Quarteirões. O sr. A. Freitas, no nº202, em 1917, anunciava na “Tribuna” que emprestava dinheiro para inventários e comprava direitos hereditários.

O eixo da Avenida XV de Novembro, desde 1883, com a inauguração da Estação de trens, passou da frente do Hotel de Bragança e da Rua de Dona Januária (Rua Marechal Deodoro) para as imediações da Estação Ferroviária e Rua do Mordomo (Rua Paulo Barbosa). Construíram-se novos hotéis, como o Max Mayer, o Hotel Central, na esquina com Rua Dr. Porciúncula e o Modern Hotel, pouco antes da esquina da Rua Paulo Barbosa. O Hotel Bragança
se tornava obsoleto e perdia clientela, até encerrar suas atividades em 1924. A construção da ponte metálica ligando os dois lados (1906) e a posterior inauguração da Estrada Rio-Petrópolis (1926), desloca, definitivamente o eixo comercial da avenida (Rua do Imperador) para a região da “Bacia” (Praça Dom Pedro II).

Em 1926, 75 anos após Otto Reymarus ter executado sua planta da Imperial Colônia de  Petrópolis, já haviam passado as ressacas da Proclamação da República e da 1ª Guerra Mundial. A então Avenida XV de Novembro se reconciliava com o passado Imperial e com os alemães. Presidentes da República por ela passeavam, durante as estadias de verão e, como eles a elite republicana. O comércio da rua se fortalecia, embora apenas uma casa comercial houvesse sobrevivido desde 1857, “A Tradicional” joalheria de Henrique Rittmayer.

Ainda neste ano de 1926, algumas das antigas pontes de madeira pintadas de vermelho, como a em frente à Rua Cruzeiro (Dr. Nélson de Sá Earp), foram substituídas por pontes de concreto armado e balaústres também, pintados de branco. Os moradores da avenida reclamavam, constantemente, do barulho produzido pelos cães vadios à noite. “Veludo” é o tipo popular mais famoso, de nome Maria Pimenta, mulata de aparência idosa, pelos anos ou pelos
dissabores da vida. Por vezes bêbada e eram muitas as vezes, usa chapéu de plumas, capa que se sobrepunha ao vestido longo, surrado e óculos. As banquetas dos rios são reformadas e construídas calçadas deste lado. Um bonde irrigador tirava a poeira da avenida XV de Novembro, todas as manhãs.

A 25 de janeiro de 1926 inaugurou-se exposição de pinturas da Sr.ª Clara Welker, na sala de espera do Theatro Petrópolis. Poucos dias depois, na Casa Gelli, abre-se exposição de “bibelots”, trabalhos do escultor Viegelmann de Munich, apresentados pela primeira vez na cidade pela Sr.ª Nini Gronau. Os verões eram a época dos grandes acontecimentos sociais, e nesse tempo nota-se uma presença ainda marcante da cultura germânica. Em 31 de janeiro de 1926 visita a cidade a tripulação do cruzador alemão “Berlim”. Cerca de setenta marujos chegam à cidade às 8h30, pelo trem da Leopoldina; são recebidos com banda de música (Banda do Clube Comercial), passeiam pela Avenida XV, almoçam no Coral Concórdia (Rua 13 de Maio) e voltam para o Rio de Janeiro, no comboio das 16h30. Causou surpresa à imprensa o fato de, no sábado, 16 de janeiro, não ter havido nem um só casamento no Cartório de Registro Civil.

Em 2 de junho de 1926, em frente à Chapelaria Rio Branco (990 da Avenida), falece, subitamente, o Sr. Felipe Botelho, mulato de 32 anos. A polícia providenciou, prontamente, a retirada do cadáver. No dia nove do mesmo mês, às 18h30, irrompeu um grande incêndio no barracão aos fundos da residência do Sr. Ferdinando Finknauer, que fica próximo à Rua 14 de Julho (Washington Luiz), os bombeiros agiram rápido e não permitiram que o fogo se alastrasse para os prédios vizinhos. Em 28 de junho de 1926, próximo ao nº 73 da Avenida XV, os sócios em açougue na Rua Cel. Veiga, Joaquim Marques e Manoel Vaz da Silva discutem, Manoel dá um tiro em Joaquim ferindo-o gravemente. Manoel foi preso na hora.

Para melhorar os ares, em 5 de julho Madame Curie visita Petrópolis. A famosa cientista francesa, ganhadora do Prêmio Nobel de Física em 1903, foi trazida à cidade pela sociedade União Inter-Americana de Mulheres. Madame Curie passeou pela Avenida XV e almoçou na Granja Independência. Como todos os visitantes na época, chegou no trem das 8h30, com recepção de banda de música, no caso, do “Clube Euterpe” e retornou à capital federal no trem das 16h30. No Theatro Capitólio, a partir de 27 de julho de 1926 esteve em cartaz, por duas semanas, o filme “O Mundo Perdido”, de Conan Doyle, produção da First National Pictures, estrelando: Lewis Stone, Wallace Barry, Besse Lowe e Loide Hughes acompanhava essa superprodução, lindas partituras, que aqui foram executadas por grande orquestra, sob regência do professor Gao Omatch, da Escola de Música Santa Cecília.

A Avenida XV de Novembro, em 1926, sentia muito a falência da Confeitaria Falconi, embora a estimada família Falconi já não fosse mais proprietária do estabelecimento desde 1922. A 13 de agosto inaugura-se a agência da Caixa Econômica Estadual, na esquina da Avenida XV com a recém-aberta Rua. Alencar Lima. A agência funciona das 10 às 17 horas, de segunda a sexta. O 7 de Setembro de 1926 passa quase despercebido pela Avenida XV, no dizer de um colunista da “Tribuna” de 10 de setembro, apenas os escoteiros do Grupo Pedro II desfilaram pela avenida. Dulcina de Morais, a futura grande estrela do teatro, estreia no Capitólio a 11 de setembro; ela tem apenas 18 anos. A Cervejaria Bohemia lançava uma nova cerveja, a Bock Malter, cerveja escura que era recomendada às senhoras em período de lactação, “por ser nutritiva e forte”, no dizer de reclame da “Tribuna”.

Em 1926 também muda o sentido comercial da Avenida XV de Novembro (Rua do Imperador) com a inauguração da Rodovia Rio-Petrópolis, futura Rodovia Washington Luiz; os olhos comerciais voltam-se para a Renânia, o que tem consequência na disposição comercial da Rua do Imperador até hoje: a elite frequenta, preferencialmente, da Praça D. Pedro II ao Fórum ou pouco mais e o povo simples o outro lado, onde se encontram os supermercados, açougues e os terminais de coletivos urbanos.

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