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Frederico Amaro Haack

COLUNISTA

Frederico Amaro Haack

A POLÊMICA CARTA DO PASTOR STROELE EM 1865

Parte II

Frederico Haack professor de História


Finalmente, o corpo do commercio allemão compaixou-se de seus pobres compatriotas e implorou a compaixão do Imperador para que se empenhasse para esses miseráveis.

D. Pedro, um monarcha benigno e benevolente, estava logo prompto a dar-lhe efficaz soccorro.

Elle comprou em parte, por sua própria custa, um numero considerável das obrigações que lhes erão impostas pelos contractos. Uma parte dos emigrantes mandou levar para outras colônias, outros, mandou transportar para sua propriedade do Córrego Secco, para fundar ali uma residência de verão e uma colônia, ainda que duas tentativas de colonização alli já se tinhão malogradas. Petrópolis, como se chama o lugar, está situada a 25 léguas do Rio; a terra é muito montanhosa, cortada por profundos valles e travessado por innumeros riachos.

A temperatura é 10 gráos differente da do Rio de Janeiro, desagradável, sempre nebulosa, turva; os chuveiros são horríveis, o chão é frio, humido de modo que muito não prospera.

Para aqui forão, pois transportados esses pobres emigrantes allemães. A cada um foi dado algum trato de terra para os primeiros dez annos livres de impostos e depois tem de pagar um pequeno imposto annual.

Na chegada dos colonos, Petrópolis era uma pobre aldeia, cercada de mattos virgens.

Se os colonos já tinhão soffrido de máo e de duro na sua estada em Dunquerque, na viagem do mar e em Praia Grande, tudo isto desappareceu diante de uma vida infernal em Petrópolis; não havia de comer, nem moradia, nem caminhos, nada senão o matto virgem, neblinas, chuveiros e uma luta amargosa contras reptis venenosos. Uma epidemia dizimou-os; a desesperação na providencia divina abalou as suas consciências religiosas. A bebedeira e a immoralidade de toda espécie augmentou ainda a desgraça delles.

A isto tudo se juntou o mau estado em que se achavão as autoridades e caracter totalemente corrupto do primeiro director, official no serviço brasileiro, Julio Koeler que reuniu em si na mais bella floresncia a fraude, a traição e a immoralidade.

O governo concedeu para a construcção de ruas e caminhos mensalmente a somma de 45.000 francos. Havia pois serviços e bons ganhos; os colonos trabalharão bem e constantemente, mas não receberão pagamentos e sim tudo por conta. Koeler tinha o privilegiode estabelecer vendas. Os colonos receberão mantimentos; Koeler fez os preços. Por certos motivos Koeler abandonou este privilegio e consentiu o commercio livre, mas como os colonos nunca receberão dinheiro, nunca puderão pagar, os negociantes e estes negarão dar-lhe mantimentos e preferirão fechar suas casas. Então appareceu a fome.

Koeler forçou os colonos de entregar a elle as cartas destinadas para a antiga pátria com o pretexto que elle as sabia expedir seguramente. Uma carta que dizia a verdade foi destruída mas quem achava tudo bello e magnífico foi gratificado.

Koeler foi, além disto, um homem horrivelmente voluptuoso. Quem tinha uma mulher bonita ou uma filha moça, recebia uma colônia bem situada ou serviço lucrativo ou um emprego como inspector.

Não satisfeito de seduzir elle mesmo, chamou os brasileiros mais distinctos da Côrte para lhe ajudar. A elles foi obrigado a entregar a mulher, se não queria ver o pae ou marido na cadeia e seus parentes na miséria. Muitos deixarão então a colônia e ainda hoje o nome da senhora Wether está altamente honrado, que com um bofetão colossal deitou ao chão o director Koeler.

Os sucessores de Koeler forão seus semelhantes. Assim rodeados de necessidades, de miséria e de calamidades sem Pastor que podia distribuir a consolação da religião aqui tão necessária, cahirão os colonos também no mais profundo abandono mora. O marido não estava seguro de sua mulher nem o pae de sua filha. Moças e mulheres forão formalmente roubadas, meninas de 9 e 11 annos forão atiradas á rua e deshonradas. E ele o homem allemão prestou-se como atormentador e algoz de pobres colonos.

Pastor Stroele, 1865.

Continua...

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